A mulherada de Curitiba está pronta para a Taça das Favelas

Comunidade Nova Esperança participa pela segunda vez da Taça das Favelas

Não faz muito tempo que a mulher passou a ter direito de ocupar um espaço dentro dos campos de futebol. E mesmo hoje, segue existindo o preconceito de que mulher não sabe jogar. No Brasil, há muito tempo as mulheres lutam por um espaço na sociedade por direitos iguais: foram quatro décadas excluídas do esporte conhecido como a paixão do brasileiro.

Para as jogadoras que moram na periferia é ainda pior. O desestímulo começa na falta de campos. O futebol feminino na periferia vai além de ser um esporte: é um momento de reunir mulheres que lutam todos os dias por seu lugar ao sol. A maioria trabalha longe, tem filhos, cuida da casa e só quer o domingo para descansar; mas o futebol serve para aliviar a mente, descarregar a raiva do cotidiano maçante e cheio de obrigações. O futebol empodera as mulheres ao colocá-las em um espaço que desde sempre foi do homem. 

Em Campo Magro região metropolitana de Curitiba, existe a comunidade Nova Esperança, que reúne mulheres de diferentes lugares e culturas: há desde gente que nasceu na região até companheiras do Haiti que residem na ocupação. Mas todas são boleiras de fama, que dentro de campo arrancam gargalhadas e vários dribles.

Foto: Juliana Barbosa

Um time feminino composto por cerca de 25 mulheres de várias idades vai competir em um grande campeonato nacional: a Taça das Favelas. O campeonato acontece anualmente e a edição deste ano começou em 3 de agosto. O time vem há meses treinando e pela segunda vez vai disputar o campeonato. 

As meninas vêm tendo dificuldades nos treinos pelo fato de não terem um campo de futebol ao redor da comunidade que elas possam usar. Dentro da comunidade, lideranças e moradores organizaram um campo de areia, porém ainda com estrutura precária. A falta de materiais é o pior: bolas rachadas e a maioria das meninas sem condição de comprar chuteiras, meiões, caneleiras entre outros equipamentos necessários.

Foto: Juliana Barbosa

É um grande desafio montar times femininos. Desde a escola as mulheres sempre foram para outros tipos de esporte e afastadas do futebol. “Tivemos dificuldade em conseguir montar esse time grande. No ano passado jogamos sem reservas. Não temos nenhum apoio governamental para elas. O masculino sempre consegue mais rápido, é mais reconhecido”, conta Samuel Ramalho dos Santos, técnico dos time feminino e masculino da ocupação.

Samuel contas que o time conseguiu um espaço da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis da Fazenda Solidariedade (ACARFS) para servir de campo. “Vamos fazer um grande campeonato. Isso não representa apenas a comunidade. Vamos levar o futebol feminino a outro nível, mostra o potencial da capacidade do jogo das mulheres. Tem que ver que nem a Copa do Mundo das mulheres está tendo a visibilidade que deveria”, diz ele.

Foto: Juliana Barbosa

Este texto faz parte do projeto Periferias Plurais, em que o Plural convida jovens de Curitiba a falarem de suas vidas e de suas comunidades. O projeto tem apoio do escritório de advocacia Gasam

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