Vacinas aplicadas em funcionários da Unimed eram para deficientes e pessoas com comorbidades

A informação está na planilha de distribuição do lote divulgada pela Secretaria de Estado da Saúde

As doses de vacina contra Covid-19 aplicadas em funcionários da Unimed Curitiba em 8 de maio deveriam ter ido para outras categorias dentro do grupo de prioridades, não para profissionais de saúde. A informação está na planilha de distribuição do lote divulgada pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) referente à primeira entrega de vacinas Pfizer para o Paraná, em 4 de maio de 2021.

O total de 32.760 doses entregues em quatro remessas a partir do dia 4 eram destinadas à primeira dose de pessoas entre 60 e 64 anos, gestantes e puérperas, pessoas com deficiência permanente e com comorbidades. Outros dois lotes da Pfizer, que somados ao primeiro totalizaram 60.840 doses do imunizante, também foram entregues em maio a Curitiba e também eram destinados a outros grupos, mas não a profissionais de saúde.

No entanto, nos primeiros seis dias de uso das doses da Pfizer, metade das doses (cerca de 10 mil) foram usadas em profissionais de saúde. Dessas, um terço em pessoas cuja ocupação não foi declarada no registro junto ao Ministério da Saúde. Até o fim de abril, Curitiba já tinha vacinado mais de 65 mil profissionais de saúde, 90% da estimativa original deste público segundo o Plano Municipal de Vacinação de janeiro de 2021.

Em novas versões do Plano, a SMS atualizou essa estimativa para 92 mil pessoas, mesmo assim esta é a categoria com prioridade na vacinação com maior índice de cobertura (102% receberam a primeira dose e 62% estão imunizados) junto com os idosos em instituições de longa permanência (116% receberam a 1a. dose e 88% estão imunizados).

Na documentação da Sesa, a distribuição das 60 mil doses da Pfizer indicada era de 5% para idosos, 16% para gestantes, 31% para deficientes e 48% para pessoas com comorbidades. Os dados sobre uso das doses, porém, mostram que Curitiba aplicou 73,7% das doses em pessoas com comorbidades, 14,6% em trabalhadores da saúde e 9,8% em gestantes. Só 1,7% das doses foram para pessoas com deficiência permanente.

No caso das gestantes, a vacinação começou no dia 10 de maio em Curitiba, no entanto, já no dia 11, o Ministério da Saúde e, em seguida, a Sesa recomendaram a suspensão da aplicação de imunizante no grupo. Curitiba, segundo os registros de aplicações, manteve a vacinação até 14 de maio, com a aplicação de 6800 doses. A imunização deste grupo foi retomada em 14 de junho.

A recomendação para interromper a vacinação se baseou na ausência de indicação para aplicação em grávidas da vacina AstraZeneca. Com isso, a vacinação de gestantes continuou apenas com o uso de doses da Pfizer e Coronavac. Do lote de vacinas Pfizer que chegaram a Curitiba, 2.805 eram destinadas ao público estimado de 40 mil gestantes e puérperas da capital.

A vacinação das gestantes é prioridade porque a mortalidade deste grupo aumentou durante a pandemia. Segundo o Observatório Covid-19 Fiocruz a taxa de letalidade de mulheres grávidas ou recém mães é de 7,2%, mais que o dobro da atual taxa de letalidade do país, que é de 2,8%. 

Até o dia 24 de junho a capital tinha aplicado a primeira dose da vacina em apenas 9 mil gestantes/puérperas, ou 23% do total. Mas, para a Secretaria Municipal de Saúde, a estimativa desse público é de 18 mil pessoas, o que leva o percentual de pessoas com a primeira dose subir para 51,5%.

Já o grupo de pessoas com deficiência permanente tem hoje 65% de seus integrantes já com a primeira dose e 0,48% já imunizados, a maior parte (76%) com doses da Covishield, da Fiocruz. Das doses da Pfizer o grupo recebeu 1,1 mil em maio e 1.615 no total.

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1 comentário em “Vacinas aplicadas em funcionários da Unimed eram para deficientes e pessoas com comorbidades”

  1. Ótima a insistência do Plural.
    Se as doses deveriam ter sido destinadas para outras categorias, por que foram parar nos braços de gente ligada a uma empresa privada?
    Importante manter a notícia viva.

    Muito, muito boa a fotografia que acompanha a matéria! É o SUS que salva.

    Sempre é bom revisitar os princípios do SUS: Universalização, Integralidade e Equidade.

    No caso específico da Equidade, trata-se de “tratar desigualmente os desiguais” – está escrito na página do Ministério da Saúde:

    “o objetivo desse princípio é diminuir desigualdades. Apesar de todas as pessoas possuírem direito aos serviços, as pessoas não são iguais e, por isso, têm necessidades distintas”.

    Parece que, nesse caso da Unimed, Curitiba foi particularmente seletiva na interpretação da lei: “as pessoas não são iguais” – e escolheu tratar mais desigualmente os desiguais.

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