Restauração de florestas pode garantir economia de quase R$ 500 mil aos cofres públicos

Pesquisa da UFPR analisou dois cenários para uma estimativa de 40 anos e considerou gastos com remoção de sedimentos na bacia do rio Jacareí

“Foi um dia horrível”, lembra a agricultora Jurema Zela de Oliveira Souza, moradora da Colônia Floresta, em Morretes. As lembranças relatadas são dos deslizamentos ocorridos na Serra do Mar, que provocaram o rompimento da ponte na BR-277, em março de 2011. “Senti muito medo vendo tudo indo embora sem ter para onde ir. Graças a Deus a minha casa não foi levada, mas ficamos sem água, sem telefone para poder nos comunicarmos com alguém e sem luz por cerca de três meses.”

Em busca de alternativas para solucionar as questões envolvendo os deslizamentos na Serra do Mar e ampliar as opções de água potável na região, a prefeitura de Paranaguá solicitou, por meio de uma condicionante, a realização de um estudo da região. A empresa que administra o Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) foi a responsável pelo aporte à pesquisa realizada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) no Rio Jacareí, que divide os municípios de Morretes e Paranaguá.

Doze anos após a tragédia relatada por Jurema, os resultados dos estudos foram divulgados pelo Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (LAGEAMB). O evento reuniu representantes de órgãos públicos e privados, em Paranaguá, e mostrou que a preservação do meio ambiente pode trazer economia aos cofres públicos e soluções, a longo prazo, para os problemas de deslizamentos na região.

O coordenador técnico da UFPR, o geógrafo Marcelo Hung, explica que “o trecho estudado no projeto engloba a Floresta de Mata Atlântica, que é semelhante em toda a Serra do Mar. Isto significa que a pesquisa pode dar soluções para outros trechos de deslizamento, como foi o caso que ocorreu em novembro de 2022, na BR-277, e gerou bloqueios e congestionamentos por vários meses”.

Realização da pesquisa

Com início em 2019, o estudo foi divido em três etapas. Na primeira, os pesquisadores entrevistaram moradores afetados pelo alagamento de 2011 e uma empresa terceirizada fez as medições mensais e monitoramento contínuo na região até a conclusão da pesquisa.

Na segunda e terceira etapas foram analisados os dados e formulado um modelo matemático para calcular os valores da produção de sedimentos atual e de manutenção. De acordo com o economista participante da pesquisa, Heitor Dellasta, a análise dos dados revela como a falta de manutenção das florestas é danosa para o bolso dos órgãos públicos. “O ponto mais importante é a comprovação das contribuições da natureza para a qualidade de vida humana e para a economia a longo prazo”, explica Dellasta.

Para calcular estes gastos, foi feita a comparação de dois cenários: um com restauração ambiental e outro sem investimentos em florestas. No primeiro caso, notou-se que o crescimento da vegetação ao longo do leito do Rio Jacareí reteve os sedimentos, não permitindo que seguissem até o final. A redução de sedimentos foi de 24% em comparação ao que é lançado hoje.  Já o outro cenário apresentou um aumento de 30% de acúmulo em comparação ao estágio atual.

Para fazer o desassoreamento, que é a retirada do sedimento dos rios, o Porto de Paranaguá gastaria o valor aproximado de R$ 500 mil ao longo de 40 anos, tempo necessário para a formação de uma floresta madura. Os pesquisadores alertam que novos estudos podem revelar uma economia ainda maior.

“Existem outros serviços ecossistêmicos prestados pelas florestas, que não foram calculados financeiramente na pesquisa, como: a regulação climática, a polinização, o controle da qualidade do ar e da água e o abastecimento público”, explica Hung. O pesquisador considera que a economia com a redução no desassoreamento é de apenas 3% a 10% em comparação a todos os tópicos citados.

O que será aplicado na comunidade

O engenheiro florestal da Secretaria de Meio Ambiente de Paranaguá, Rodrigo Delonga, afirma que os próximos passos serão de análise dos resultados para uma possível restauração florestal na região. A proposta também é ampliar os resultados obtidos na pesquisa em outras bacias. O engenheiro diz que a secretaria deseja “replicar o projeto para outras bacias hidrográficas, com enfoque na possibilidade de captação de água para abastecimento público”.

Para isto, um instrumento que poderá ser utilizado pela prefeitura é o EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança). De acordo com os impactos relacionados com a instalação de determinados empreendimentos, o município poderá solicitar que sejam desenvolvidos estudos com este foco no local.

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