Prefeitura pinta Enedina Alves de laranja em material de divulgação

Post sobre atendimento a vítimas de racismo usa imagem de ícone negro com rosto laranja. Lideranças apontam racismo estrutural

Era para ser uma publicação sobre o serviço de atendimento a vítimas de racismo e o Centro de Referência Afro Enedina Alves Marques, mas virou mais um caso de racismo, segundo lideranças do movimento negro em Curitiba. A postagem, feita pelo perfil da Prefeitura de Curitiba nas Redes Sociais, mostra um desenho de perfil de Enedina, mas com a pele laranja e cabelo azul.

“Era importante que se enxergasse na logo uma referência”, diz Samuel da Costa, da Associação dos Rimadores, que chama a publicação de exemplo de racismo estrutural, ou seja, quando há uma normalização do apagamento dos negros na sociedade.

“Ontem vi a logo do CREAFRO, lugar de referência antirracista em Curitiba. Duas coisas me chamaram a atenção. O símbolo adinkra, sankofa, no fundo e a representação da Enedina em cor laranja. Mais uma vez um equívoco, não intencional da prefeitura. Assim com foi no Dia da Umbanda, que viralizou ano passado, pela quantidade de brancos na apresentação. Sankofa significa aprender com o passado. Precisamos mesmo disso. Aprender que as histórias dos negros devem ser contadas para não serem invisibilizadas. Os editores, produtores, designers e redatores que trabalham na PMC devem compreender essas relações. Hoje vi a última publicação do artista Simon Taylor: A Santa Ceia do Paranismo Fantástico. Ode aos artistas brancos de Curitiba. Sankofa”, analisa o historiador e professor Sandro Luis Fernandes.

O problema, apontam, é a descaracterização de um ícone negro da cidade. O Centro de Referência Afro é resultado de uma iniciativa da vereadora negra Giorgia Prates (PT) e celebra a primeira mulher a se formar engenheira no Paraná e primeira engenheira negra do Brasil. “É a identidade dela, que é ser mulher e ser negra”, completa Costa.

O mandato da vereadora Giórgia Prates (PT) também questionou a logo criada pela Prefeitura. Para ela, o atendimento a ser prestado pelo Creafro é fundamental, e sua existência é uma conquista. No entanto, diz ela, a marca adotada é um exemplo do que significa o racismo estrutural.

“Já tinham mudado o nome (antes era Centro de Referência Afro Enedina Alves Marques de Combate ao Racismo e ao Racismo Religioso), agora mexem na cor da pele, descaracterizam o cabelo e trazem elementos gráficos europeus… Taí um exemplo didático do que é o racismo estrutural, que a todo momento inviabiliza nossas referências. Não se combate o racismo com ações que reafirmam o racismo”, diz nota enviada ao Plural.

“Essa identificação visual com a população negra é importante porque isso por si só já é uma forma de acolhimento. Mas, o jeito como a Prefeitura apresenta o centro distancia o serviço daqueles a quem ele se propõe””, afirma a vereadora

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