Polícia nega motivação política em assassinato do tesoureiro do PT

Antes do crime, atirador gritou ‘mito’, ‘aqui é Bolsonaro’ e disse que mataria todo mundo

Nesta sexta-feira (15) a Polícia Civil do Paraná anunciou que o inquérito que investiga o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu, foi concluído. Segundo a polícia não houve motivação política no crime.

O crime aconteceu no último sábado (9), na festa de aniversário da vítima, que comemorava 50 anos. A decoração fazia referência ao PT – partido a que o aniversariante era filiado. Marcelo era tesoureiro do diretório municipal do PT em Foz.

O atirador, Jorge José da Rocha, que é policial penal federal, soube da festa de aniversário de Marcelo Arruda enquanto estava em um churrasco, por meio de uma pessoa que tinha acesso às câmeras de segurança do local.

Acompanhado da esposa e filho, o policial foi até o local, de acordo com a polícia. Lá houve uma discussão porque, segundo testemunhas que prestaram depoimento no inquérito e foram ouvidas também pelo Plural, Rocha chegou gritando. “Ele dizia mito, mito. Aqui é Bolsonaro”, falou Andre Alliana, melhor amigo de Arruda.

O filho da vítima, Leonardo Arruda, também conta a mesma história. “No momento do crime o cara chega com palavras de ódio. ‘Vou matar vocês petistas’, ele dizia. Aí meu pai tenta tirar ele da festa, mas ele não quer sair. Insiste em ficar e diz que vai matar todo mundo”, ele contou.

Depois da primeira discussão o atirador sai, mas retorna em seguida e atira contra a vítima, que corre e cai ferido. Neste meio tempo, a companheira de Marcelo, Pamella Suellen Silva, consegue empurrar o atirador, o que dá tempo para que a vítima reaja e atire contra ele. Jorge José da Rocha cai poucos metros depois e os participantes da festa acionam o socorro. Marcelo Arruda morreu na madrugada de domingo (10) e o autor do crime continua internado em estado grave.

Sem motivação política

Conforme a delegada responsável pelo crime, apesar dos relatos das testemunhas sobre o comportamento do atirador, não houve motivação política.

“Quanto à motivação, o que nós concluímos: embora algumas testemunhas tenham dito que o autor foi até a Aresf para fazer rondas, e realmente ele tinha o hábito de fazer rondas, outros depoimentos nos levam a crer que ele não foi lá para fazer ronda. Ele foi lá realmente no intuito de provocar a vítima, declarou Camila Cecconelo, durante coletiva de imprensa.

“Então neste momento fica muito claro que houve uma provocação e uma discussão em razão de opiniões políticas. Agora quando ele retorna para casa e resolve voltar, não há provas suficientes nos autos de que ele voltou porque queria cometer um crime de ódio contra uma pessoa ou pessoas de outro partido político que não o dele”, afirmou a delegada.

Contestação

Os advogados que representam a família de Marcelo Arruda emitiram uma nota (leia a íntegra no fim do texto) sobre as investigações e questionam o fato de a polícia não entender que houve motivação política.

“O relatório de conclusão ainda não nos foi dado conhecer de forma oficial. Todavia, conforme notícias veiculadas na imprensa foi descartada a motivação política. O relatório apresentado é recheado de contradições e imprecisões que demonstram a deficiente formação do mesmo. Por certo, a necessária continuidade das investigações demonstrará que a nossa convicção quanto as motivações políticas do assassinato”, diz o texto.

A delegada Cecconelo, por sua vez, diz que é “difícil” afirmar que houve crime de ódio. “O que nós temos é o depoimento da esposa [do atirador], que disse que ele alegou que ia voltar porque se sentiu humilhado porque a vítima havia jogado pedras e terra no interior do carro e acertado a esposa e o filho. Então, o que nós temos, é a alegação da esposa. Não temos a alegação da subjetividade desse autor. Então é difícil nós falarmos que há um crime de ódio. Que ele matou pelo fato de a vítima ser petista”, disse a delegada.

“Segundo os depoimentos que nós temos nos autos ele voltou porque se sentiu ofendido com esta escalada da discussão, com o acirramento da discussão entre os dois”, afirmou ela.

Caso vai à Justiça

O Ministério Público do Paraná informou que a partir do recebimento do inquérito policial concluído, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) vai analisar o processo e deve oferecer a denúncia. A Polícia Civil indiciou o atirador por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e causar perigo comum.

“Vamos aguardar a Manifestação do Ministério Público sobre o relatório para que solicite novas diligências ou que ofereça a denúncia. Nós buscamos avaliar se as diligências públicas são suficientes para apurar os fatos ocorridos e anteriores. Então a partir do momento que houver a denúncia também vamos solicitar para que sejamos assistentes de acusação do Ministério Público”, adiantou o advogado Ian Vargas, um dos advogados da família de Marcelo.

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