PMs teriam espancado grávida e obrigado suspeito a comer o próprio vômito

Denúncia contra policiais militares apresentada pelo Gaeco à Justiça mostra que policiais filmaram torturas e comportamento mórbido

A denúncia apresentada pelo Gaeco contra três policiais militares que atuam no Litoral do Paraná tem detalhes mórbidos e escatológicos. Os PMs, segundo as investigações do Ministério Público, apelaram para choques elétricos, forçaram pessoas a usar drogas e até a comer o próprio vômito – tudo na suposta tentativa de desvendar crimes de tráfico de drogas.

O Gaeco enviou duas denúncias à Vara da Auditoria Militar, sobre fatos diferentes. Os policiais envolvidos são dois irmãos gêmeos – em um dos casos, há mais um PM denunciado. A Justiça agora será responsável por conduzir os processos e decidir se condena ou inocenta os três.

O primeiro caso aconteceu em 14 de maio de 2021, quando os dois gêmeos entraram na casa de um casal considerado suspeito de participação no tráfico em Pontal do Paraná. Como parte da “Operação Polvo”, os policiais da viatura 13882 da Rotam chegaram à Rua Anibal Khury e abordaram primeiro a mulher. Ela jurou que não tinha mais envolvimento com drogas, mas os policiais não acreditaram. O marido teria mostrado aos PMs que só tinha uma pequena quantidade de maconha para consumo próprio.

Segundo a denúncia, aí começou a tortura. Os policiais começaram a bater no marido para fazer a mulher falar. Como ela não teria confessado nada, os policiais “obrigaram-no a comer a maconha por ele apresentada e o vômito gerado pelo seu organismo em decorrência dessa ingestão, o que perdurou por aproximadamente 40 (quarenta) minutos, foi parcialmente registrado em vídeo9 e
provocou-lhe intenso sofrimento físico e mental’.

Segundo caso

O outro caso denunciado pelo Gaeco é de agosto de 2022. A história é parecida. Ainda com a mesma viatura da Rotam, os gêmeos, dessa vez acompanhados de um terceiro policial, entraram na casa de suspeitos de envolvimento com drogas – e ao não conseguirem as informações desejadas partiram para a prática de tortura. O crime dos PMs, segundo o Gaeco, mais uma vez foi filmado.

Dessa vez, a história aconteceu em Guaratuba. Ao chegar à residência de um primeiro suspeito, na Rua João Gualberto, os policiais tentaram descobrir informações sobre fornecedores de drogas. Sem descobrir nada, teria começado a espancar o homem e ameaçá-lo de morte. Depois, foram para a casa vizinha, onde moraria mais um casal considerado como suspeito.

O espancamento, segundo a denúncia do Gaeco, continuou, e os PMs teriam dito que não se importavam de bater em uma grávida – a mulher que apanhou estava grávida de cinco meses.

Quanto a um dos homens abordados, “além de socos e chutes, os denunciados submeteram-no choques elétricos, produzidos com a extensão encontrada na residência. Além disso, obrigaram (…) a inalar duas buchas de cocaína de forma rápida e continuada, o que foi filmado”, diz o texto do Gaeco encaminhado à Justiça. De acordo com o Ministério Público, todos os policiais participaram das agressões.

Réus por tráfico

Nas denúncias, o Gaeco – que tem a atribuição de acompanhar possíveis desvios de conduta de policiais – lembra que os dois gêmeos “são réus em ações penais pela prática dos crimes de tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo, crimes estes praticados na companhia de outros policiais militares e que revelaram que a sociedade de Guaratuba se encontrava à mercê da criminalidade institucionalizada. Com a advento de nova denúncia em face dos policiais, a sensação de insegurança certamente se incrementará e, desta feita, não só pela reiteração criminosa que será constada, mas especialmente pela natureza do crime denunciado, o que denota total desrespeito à condição humana”.

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1 comentário em “PMs teriam espancado grávida e obrigado suspeito a comer o próprio vômito”

  1. Desmilitarização da polícia urgente, uma nova polícia civil, uniformizada, com planos de cargos e salários e sindicalizada, além de melhor preparo destes policiais. Precisamos nos livrar da cultura da tortura, urgente.

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