Pai denuncia racismo em escola e diz que filha de 4 anos foi agredida por outro aluno

Instituição disse que é uma falsa acusação e que é “contrária à intolerância”

O poeta haitiano Rei Seely, que está em Curitiba há quase uma década, viveu uma situação difícil no início do ano letivo de 2022. Ele afirma que a filha, M., de apenas quatro anos, teve o braço quebrado após uma agressão no Sesc Educação Infantil.

A criança era bolsista na unidade educacional, mas começou a apresentar mudança de comportamento logo que as aulas foram iniciadas. Chorava e dizia que não queria ficar na escola.

Aos poucos foram surgindo os motivos. A menina é negra e foi chamada de “cocô” por outra criança na escola. Depois disso, um menino – que é filho de uma funcionária – cuspiu no rosto de M. e por fim ela contou aos pais que tinha sido agredida pelo garoto.

“Não sabíamos exatamente como tinha acontecido. A professora disse que ela tinha se machucado e pediu para colocarmos gelo no braço. Como não melhorou fomos ao SUS [posto de saúde] e mandaram ela para o hospital Evangélico. Lá fizeram o raio-x e descobriram que estava quebrado. Imagine o quanto ela sofreu”, lamenta o pai.

Em todas as ocasiões Seely foi até a escola e comunicou a direção, que, segundo ele, não tomou nenhuma providência. Agora a família aguarda o laudo médico da fratura da criança e já comunicou o Ministério Público (MP) sobre a situação.

A Promotoria de Justiça informou ao Plural que está “adotando todas as providências necessárias para apurar o caso, mas não pode fornecer detalhes, pois o procedimento tramita em sigilo, por envolver crianças”.

“Isso é racismo estrutural. Se uma criança tem problema com outra na escola, os pais têm de ser chamados e isso é resolvido. A escola serve para socializar e o que aconteceu acabou com a autoestima da minha filha. Eles não tomaram nenhuma providência. Esse tratamento diferente é por qual razão?”

Ao Plural, o Sesc disse que a acusação é falsa. Em nota, a escola afirmou que “não são verdadeiras e nunca houve nenhum ato de preconceito ou discriminação dentro da entidade”.

A reportagem questionou a escola sobre o trauma no braço da estudante e o porquê de ela não ter sido encaminhada para o hospital, mas a nota não explica a ausência do atendimento médico da garota.

O texto enviado pela assessoria diz que “o Sesc/PR é contrário à intolerância e assume o compromisso de apurar situações de preconceito, discriminação e assédio. Após as alegações dos pais de que uma aluna teria sido vítima de condutas racistas no ambiente escolar da Educação Infantil e mesmo de certa agressão, o Sesc/PR adotou internamente diversas medidas para averiguação da veracidade dos fatos, com toda ética, transparência, isenção, profissionalismo, urbanidade e respeito que sempre imperou no ambiente da entidade. Imagens do local apontam que a aluna caiu sozinha”.

O pai afirmou que nunca teve acesso às imagens que corroborem a versão da escola e que os responsáveis disseram que elas foram apagadas do sistema.

A escola declarou ainda que “sempre pauta todas as suas atividades institucionais por princípios éticos e humanitários elevados e nunca admitiu qualquer forma de racismo ou preconceito, pelo que rechaça todas as alegações de fatos racistas em seu ambiente escolar, bem como de omissão na apuração de fatos, tendo sempre primado por um meio ambiente hígido e saudável, para que possa cumprir sua missão legal de contribuir para o bem-estar social e a melhoria do padrão de vida dos trabalhadores do comércio e suas famílias”.

Mudança

A desistência oficial da bolsa integral no Sesc foi comunicada por meio de uma carta, entregue no último dia 5. O texto é assinado pelos pais da criança – e como cita o menino que seria autor das agressões não será publicada.

Ao longo das três páginas são elencadas as situações de racismo vividas pela menina e a falta de ação da direção da escola.

Depois disso, M. foi matriculada em uma escola municipal no Cajuru. A criança se adaptou bem e deixou de chorar na hora das aulas. “É outra criança. Fez até mesmo um desenho da professora. Tem amigos. É um lugar totalmente diferente”, relata o pai.

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