Monitor de escola militarizada manda vídeo “anticomunista” de Marco Feliciano a alunos no PR

Conteúdo de caráter ideológico viola regra de uso dos grupos de WhatsApp da instituição

No dia 19 de junho, alunos do Colégio Estadual Cívico-Militar Dom João Bosco, de Colombo, receberam nos grupos das turmas no WhatsApp – canal para comunicados oficias e assuntos didáticos – um vídeo encaminhado pelo monitor da escola, Cabo Claudio Stipa. O vídeo, intitulado “Professor reprova todos os alunos: culpa do socialismo!” é uma espécie de fábula de conteúdo político que tem narração do deputado federal Marco Feliciano (Republicanos-SP), parlamentar da tropa de choque bolsonarista e estridente defensor do movimento Escola Sem Partido.

Em pouco mais de quatro minutos, o vídeo resume a seguinte história: um professor, que nunca havia reprovado um aluno, resolve reprovar toda uma turma, que insistia que o comunismo funcionava. Em uma espécie de experimento ilustrativo, ele usa as notas dos alunos em alusão como alegoria para criticar o comunismo.As notas, iguais a todos, independente do esforço, foram concedidas com base na média da classe. Na primeira avaliação, todos recebem a nota sete, para a alegria de quem não estudou e indignação de quem se esforçou. A média diminuiu nas provas seguintes, chegando a um, já que “ninguém mais queria estudar para beneficiar os outros”. O vídeo dá como exemplo o Bolsa Família, afirmando que o programa “viciou as famílias de tal forma que hoje não trabalham”.

Em seu canal no Youtube, Feliciano divulga um vídeo próprio, em que aparece seu rosto, contando a história. A narração é a mesma do material enviado aos alunos.

Questionado por alguns alunos e pais sobre a impropriedade do conteúdo, o Cabo explicou os motivos de ter enviado o vídeo e pediu desculpas “se alguém interpretou mal”.

O caso foi levado à diretoria do colégio. Em nota às famílias, a direção afirmou que “a Escola respeita o posicionamento ideológico político e religioso de todos” e reconhece que o grupo, direcionado a práticas didático-pedagógica do cotidiano escolar e comunicação de informações oficiais, não é um canal adequado para “assuntos que envolvam estas questões”. “Pedimos desculpas pelo ocorrido e informamos que isso não irá se repetir”, finaliza a diretora do colégio.

Para um professor do colégio, que não quis se identificar, houve omissão da escola ao lidar com o problema.

Em nota, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed-PR) afirma que, além da retratação da Direção após o ocorrido, “houve uma conversa para esclarecimentos junto ao militar, que foi lavrada em ata. A Seed-PR reforça que o programa cívico-militar tem como um de seus objetivos a formação humana e cívica, garantindo liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber”.

Militarização

Em 2020, o Ministério da Educação (MEC), junto ao Ministério da Defesa, iniciou um processo de militarização de colégios estaduais. Trata-se de um conceito de gestão compartilhada, na qual um diretor militar e um diretor-geral (civil) atuam de maneira colaborativa na gestão administrativa e didático-pedagógica do colégio.

A proposta é implantar 216 Escolas Cívico-Militares em todo o país até 2023. No Paraná, 197 escolas da rede pública estadual passarão pela conversão. De acordo com o governador Ratinho Jr, é o maior programa de ensino cívico-militar do país.

O conceito do projeto, segundo o governador, é “repassar para nossos alunos uma referência diferenciada, para criar uma geração melhor, com uma nova mentalidade e que conheçam e respeitem as regras da sociedade, com conhecimentos sobre hierarquia e respeito”. Dentre as mudanças, estão a inclusão de policiais militares da reserva remunerada para atuarem monitores e diretores cívico-militares, e a ampliação da matriz curricular. Os alunos passam a ter seis aulas diárias (30 por semana), com mais horas de Língua Portuguesa e Matemática, e o acréscimo da disciplina de Cidadania e Civismo.

Na época da homologação das instituições para consulta pública, professores e funcionários da rede estadual manifestaram-se contra a militarização, temendo patrulhamento ideológico.

Sobre o/a autor/a

6 comentários em “Monitor de escola militarizada manda vídeo “anticomunista” de Marco Feliciano a alunos no PR”

  1. Eu estou no programa das escola cívico militares. Acredito que a nossa pregação de resgate aos valores ético e moral trará beneficios enorme a essa atual geração de estudantes. Pregamos o bem. Pregamos o respeito, a disciplina e boas postura para o êxito pessoal, familiar, social, estudantil e profissional.

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Deliesio, a escola é um espaço para educação. Educação é um processo dialógico, de troca. Na escola o objetivo deveria ser aprender a pensar. Lugar de pregação é a igreja, não a escola. O prejuízo de insistir em misturar as duas coisas dentro da escola será enorne.
      Um abraço,
      Rosiane

  2. Aki, só a verdade

    O que se poderia esperar do mais bolsonarista dos governadores, apoiado pelo rato pai?? Pobre aluno das escolas públicas do Paraná… a seguir a grande amplitude mental dos que militam pelo militarismo, todos estarão na pm daqui a alguns anos. Que beleza!!! Que futuro…

  3. ALMIR MESSIAS PINA

    Para a elite boas escolas com ampla liberdade de ensino, arte, idiomas e tudo de bom. Para os filhos dos trabalhadores restou o cívico militar, uma idiotice que não tem paralelo no mundo desenvolvido. Interessante é ver o ratazana, que não entende de nada defendendo isso. Gostaria de saber se ele colocaria os filhos dele numa escola dessas. E pra quem não gostar resta o homeschooling. Triste Brasil.

    1. Para evitar proselitismo de esquerda usa-se o proselitismo de direita.
      E esse governador ainda pretende se reeleger? Não com votos de cidadãos conscientes.

  4. Elton Casagrande

    Alguém tinha alguma dúvida que os milicianos, opa…desculpem…os militares, travestidos de monitores, iriam fazer isso? E ainda com total apoio do rato.

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