Familiares de presos reclamam do atendimento nas unidades prisionais do Paraná

Recolhimento de credenciais e constrangimento são práticas denunciadas pelas famílias que vão visitar presos

Ao menos dez denúncias de violação dos direitos das famílias de pessoas privadas de liberdade foram recebidas para Frente Estadual pelo Desencarceramento no Paraná entre novembro do ano passado e julho deste ano. O número é virtual, já que muitas pessoas não formalizam denúncias por medo de represália.

A Frente trabalha em conjunto com a Pastoral Carcerária e atende parentes – sobretudo mulheres – de pessoas que estão presas nas unidades prisionais do Paraná. As pessoas recebem orientação e a Defensoria Pública do Estado é acionada para acompanhar a questão.

Um dos casos é de uma mulher que será chamada de “L.A.”. O marido dela está preso na Casa de Custódia de São José dos Pinhais e no dia da visita a mulher chegou às 7h na unidade para passar pelo trâmite e falar com o esposo às 14h.

Um dos procedimentos indica que todas as pessoas que acessam a unidade precisam passar pelo aparelho de raio-x. Os aparelhos servem justamente para evitar revistas vexatórias, que muitas veze colocam as pessoas em situações constrangedoras para averiguar se há ilícitos escondidos no corpo.

No caso de L.A., conforme a denúncia feita junto à Defensoria Pública, a agente penitenciária alegou que a imagem estava muito escura e solicitou que a mulher fizesse o chamado agachamento (se abaixar, sem roupas, para que as partes íntimas sejam verificadas).

Na sequência, a mulher deve de esperar num local separado, e embora nem o exame do raio-x e nem o agachamento tenham corroborado a suspeita de que a visitante estivesse com algo no corpo, a credencial da mulher foi retida. Ela também não pôde ir para o hospital – uma terceira opção para checagem de conteúdo ilícito no corpo e depois disso ficou sem poder visitar o companheiro.

Na mesma unidade, “F.R.”, esposa de outro preso ficou 180 dias suspensa das visitas pelo mesmo motivo. Os agentes chegaram a entregar um saco plástico para que ela “tirasse tudo o que tinha” dentro do corpo. Apesar disso, a mulher declinou o pedido de responsabilização judicial do Estado porque tem medo.

A Frente também questiona o procedimento de recebimento e entrega de encomendas enviadas pelos Correios. Embora não exista uma estatística oficial, há um volume significativo de reclamações de materiais que não chegam aos destinatários e em algumas oportunidades sequer são devolvidos aos familiares.

Em Londrina “V.F” perdeu o horário da visita que faria ao marido, que está na Penitenciária Estadual, porque a unidade informou o horário errado. Quando questionou a equipe, foi orientada e reclamar com a direção e chefia de segurança.

“L.B.”, por sua vez, precisou cortar o mega hair, em frente à unidade de Piraquara para visitar o marido. Dias depois teve a credencial apreendida porque havia uma desconfiança de que estivesse com algo ilícito, depois de uma nova falha no aparelho de raio-x, cuja imagem, segundo os agentes, “estava escura”.

Quando solicitou que fosse feito um exame na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do município, ela foi vítima de represália e foi suspensa da visita. Na mesma unidade, agentes chegaram a revistar o carro de uma visitante.

Ao Plural o Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná (Deppen) informou que os aparelhos de raio-x das unidades em que houve problemas durante a revista estão funcionando normalmente e que “as revistas manuais são realizadas conforme a necessidade identificada pelo policial penal responsável”.

Além disso, acerca do procedimento do recolhimento da credencial da visita, a reportagem perguntou quais infrações são punidas com a apreensão, bem como a entrega de encomendas. O Deppen enviou um link com o manual dos visitantes disponível aqui.

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