Empresa que disparou mensagens golpistas por canais do PR acumula contratos na gestão Bolsonaro

Celepar disse não ter dado qualquer autorização e se coloca como "vítima" do crime

A Algar Soluções em TIC, empresa apontada como a responsável pelo disparo em massa de mensagens golpistas a partir de canais oficiais de comunicação do governo do Paraná, acumula pelo menos 15 contratos com o governo Federal. O Comando do Exército aparece como o órgão que mais empregou os serviços da companhia mineira.

Busca feita no Portal da Transparência usando como filtro assinaturas no intervalo entre janeiro de 2015 e setembro de 2022 mostra que todos os contratos entre a empresa e a União foram firmados na gestão de Jair Bolsonaro. O primeiro, em 31 de maio de 2019, para serviços no Comando Militar do Sul, unidade do Exército no Rio Grande do Sul. No sistema da Receita Federal o CNPJ da companhia está ativo desde julho de 1986.

Em 15 de dezembro do ano passado, a companhia foi “celebrada” pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, por ter sido a 1ª a implantar a tecnologia 5G no país. A comemoração aparece em um vídeo gravado por Faria ao lado do presidente.

Durante a tarde deste sábado (24), a Celepar, empresa de economia mista responsável pelos serviços de tecnologia da informação do governo do Paraná, jogou sobre o colo da Algar toda a responsabilidade pelo envio das mensagens em tom de ameaça disparada por SMS para número de celulares de paranaenses.

Pelas redes sociais, usuários de outros estados, como São Paulo e Rio Grande do Norte, informaram também ter recebido o texto.

A mensagem que chegou aos telefones entre a noite desta sexta e a madrugada deste sábado diz: “Vai dar Bolsonaro no primeiro turno! Senao, vamos a rua para protestar! Vamos invadir o congresso e o STF! Presidente Bolsonaro conta com todos nos!! [sic]”.

A Algar fechou contrato com a Celepar para a prestação de serviços de envio de SMS em nome de órgãos do governo em maio do ano passado. O orçamento de R$ 3,9 milhões foi reajustado para R$ 4,14 milhões em maio deste ano.

Vítimas de crime

Em nota, a Celepar disse que tanto ela quanto o governo do Paraná foram vítimas da ação de disparo das mensagens, enviadas sem qualquer autorização da estatal.

“O caso é grave e os responsáveis serão penalizados na forma da lei. Os órgãos policiais e eleitorais já foram acionados em todas as esferas e os boletins de ocorrência realizados para fins de investigação”, afirmou a companhia.

O texto diz ainda que a Algar já foi notificada para prestar os esclarecimentos de acordo com os parâmetros contratuais. Assim como o governo do Paraná mais cedo, a Celepar colocou que “repudia qualquer tentativa de uso político, eleitoreiro ou manifestação antidemocrática a partir de suas plataformas de serviços e trabalha ativamente para combater esse tipo de atitude”. E finaliza: “a Celepar e o Governo do Estado foram vítimas desse crime”.

Nem o governo do Paraná nem a Celepar citaram supostos envolvimentos de hackers – o que poderia representar um dano tremendo ao banco de dados de informações pessoais sob responsabilidade do Estado.

Algar alega acesso indevido

A Algar entrou em contato com a reportagem nesta segunda-feira (26) para falar sobre a ocorrência. A empresa afirmou que “um acesso indevido à parte da sua base de dados” provocou o disparo – feito, portanto, sem autorização.

“Desde a confirmação do ocorrido, a Algar Telecom iniciou uma investigação interna com o apoio de consultores especializados, a fim de identificar as causas, adotar medidas mitigadoras necessárias e tomar as providências técnicas e legais em resposta ao ocorrido”, disse a empresa. “Reiteramos que a proteção dos dados de nossos clientes, funcionários e da própria empresa é primordial para a Algar Telecom”.

*Matéria atualizada às 16h21 de 26 de setembro

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4 comentários em “Empresa que disparou mensagens golpistas por canais do PR acumula contratos na gestão Bolsonaro”

  1. Estanislaw Lichevski de Moura

    Caso a CELEPAR, e o Governo do Paraná sejam, efetivamente, vítimas, deverão aplicar, incontinente, todas as penalidades contratuais – todas repito, contra a empresa contratada, sob pena de crime de prevaricação. E crime eleitoral gravíssimo.

  2. Elcias Ayres Rodrigues

    Bom dia a essa brilhante jornalista e toda equipe envolvida nesta reportagem ,,importantíssima para informações da sociedade e para a nossa democracia…
    Está turma facistas precisam ser investigados e punidos esto não podem ficar assim o ministro Alexandre de Moraes tem que tomar providências urgentíssima.,obrigada.

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