Em Curitiba, só 3 escolas municipais têm psicólogo

Secretaria mantém serviço psicopedagógico para crianças com necessidades especiais, mas problemas de saúde mental dependem do SUS

Só três escolas da rede municipal de ensino de Curitiba contam com psicólogo como parte da equipe de atendimento. A presença do psicólogo está prevista na Lei 13.935/2019, que prevê “as redes públicas de educação básica contarão com serviços de psicologia e de serviço social para atender às necessidades e prioridades definidas pelas políticas de educação, por meio de equipes multiprofissionais”. Os municípios tinham um ano para se adequar a legislação a partir da promulgação da lei em dezembro de 2019.

Segundo o Censo Escolar de 2021, a Secretaria Municipal de Educação tem 426 escolas e centros de educação infantil cadastrados na rede, das quais 14 têm na equipe profissionais de saúde (enfermeiras, técnicas em enfermagem e outros) e três têm psicólogos.

A presença de profissionais de saúde e psicólogos é importante no atendimento de questões de saúde, em especial problemas de saúde mental. A Organização Mundial de Saúde (OMS), que considera a promoção e a prevenção na área uma prioridade, recomenda a realização de programas de saúde mental promovidos na escola e voltado ao público infanto-juvenil.

A lei 13.935 prevê que o profissional de psicologia -junto a assistentes sociais – deve atuar na melhoria do processo de aprendizagem e das relações. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, há um serviço de atendimento psicopedagógico disponível para crianças com necessidades, como deficiências cognitivas, superdotação e altas habilidades, transtornos de atenção e autismo. As crianças identificadas com essas características nas escolas são encaminhadas para um dos onze Centro Municipal de Atendimento Educacional Especializado (CMAEE) da cidade.

Os CMAEEs, no entanto, não atendem as crianças e adolescentes com sintomas depressivos ou de outros transtornos mentais. Esse atendimento ainda está, segundo a SME, restrito ao Sistema Único de Saúde. No caso de depressão, uma doença que segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE atinge cerca de 10,2% da população com 18 anos ou mais no Brasil, crianças e adolescentes que apresentam sintomas ou os efeitos da doença em sala de aula só podem ser encaminhados às unidades de saúde.

O IBGE não mensura a incidência da doença em crianças e adolescentes menores de 18 anos, mas a Organização Pan americana de Saúde (OPAS) indica que “a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes” e que o suicídio é a terceira principal causa de morte de adolescentes em todo mundo hoje.

A situação se agravou durante o período mais grave da pandemia, quando as aulas foram suspensas e as crianças e adolescentes foram forçados a permanecer em casa. Um estudo da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) apontou que uma em cada quatro crianças e adolescentes “apresentou ansiedade e depressão durante a pandemia com níveis clínicos – ou seja, com necessidade de intervenção de especialistas“, segundo dados apresentados em audiência pública na Câmara Federal.

O mesmo impacto é esperado em situações como a recente onda de ameaças de ataques violentos nas escolas.

Se diagnosticado e tratado, 90% dos casos depressão e ansiedade são revertidos e controlados, aponta o Ministério da Saúde. Mas o prognóstico e o tratamento precoces são importantes para evitar o agravamento do quadro clínico.

Em 2022 o Congresso aprovou a inclusão dos psicólogos e assistentes sociais no Fundeb, removendo mais uma dificuldade na implantação da lei. Mas os dados de Curitiba mostram que a presença de psicólogos nas escolas ainda está longe de se concretizar.

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