Curitiba ganha duas novas farmácias a cada três meses

Cenário não indica uma população mais doente, mas novos hábitos de consumo - focados na beleza - e aumento de profissionais de saúde

Novos hábitos de consumo e o crescimento de profissionais da área da saúde têm ajudado a robustecer o setor varejista de farmácias em Curitiba. Nos últimos oito anos, o número de estabelecimentos distribuídos pelos bairros da capital paranaense saltou de 681 para 756, com uma média de 2 novas farmácias a cada três meses desde então, segundo o Conselho Regional de Farmácia do Paraná (CRF-PR). A reversão do impacto que limitou o acesso a matérias-primas durante a pandemia – prejudicando a indústria de medicamentos – e o movimento do autocuidado dão novas, e boas, perspectivas ao setor, que espera ver crescimento ainda mais acelerado nos próximos anos.

De acordo com o levantamento do CRF-PR, Curitiba tem, hoje, uma farmácia para cada 2,3 mil de seus habitantes. O quadro não elenca as endereçadas na região metropolitana, mas corrobora a sensação de que o curitibano já não precisa percorrer muito para encontrar o remédio de que precisa.

“É um mercado em que todo ano abre muitas e fecham muitas lojas. Tem a ver com questão populacional, mas também com outros fatores. Hoje temos um país com muito mais universidades e todos os anos formam-se muitos farmacêuticos e isso, em específico, gera uma cadeia de empreendedorismo no ramo bastante forte”, diz Eduardo Valério, farmacêutico e diretor tesoureiro do CRF-PR.

Farmácias

Apesar de uma expansão visível de estabelecimentos de grandes redes, micro e pequenas empresas ainda são a espinha dorsal do setor. Relatório divulgado no mês passado pelo Sebrae, a partir de dados da Receita Federal, aponta que 84% das cerca de 122 mil farmácias de todo o Brasil são pequenos e médios negócios – na região Sul, quase 20 mil são destes portes.

“A população está envelhecendo e isso impacta? Sim, mas o crescimento que vemos tem muito mais a ver com a quantidade de profissionais do mercado, farmacêuticos que saem da universidade, começam a trabalhar e já montam o próprio negócio. Eles tentem a achar que tem uma margem de lucro alto, o que não é bem assim também. Mas é um setor com muitas exigências para abrir e não é um comércio caro”, avalia Valério.

Curitiba

Dados sobre as tendências do mercado farmacêutico brasileiro divulgados em junho por auditoria especializada do setor, a IQVIA, estimam que o número de médicos dobrará no Brasil nos próximos 12 anos, passando de 562 mil em 2023 para 1.016 em 2035. Se atingida, a projeção impulsionará ainda mais a cadeia de consumo de medicamentos. Profissionais de uma nova geração devem influenciar, sobretudo, o comércio digital do segmento, já bastante impulsionado durante a crise sanitária da covid-19. A pandemia que colocou medo nos pequenos e médios negócios fez crescer substancialmente as vendas de lojas de grande porte.

Farmácias de grande rede batem recorde de vendas no Brasil pós-pandemia. Foto: Tami Taketani/ Plural

De acordo com a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) – que representa 26 varejistas brasileiras, entre elas marcas espalhadas pelo Paraná como Nissei e Panvel –, as farmácias ligadas à entidade bateram recordes históricos. Em 2021, o faturamento chegou a R$ 67,5 bilhões, então o maior dos últimos dez anos. Em 2022, as associadas superaram pela primeira vez R$ 80 bilhões, além de atingirem a marca histórica de 1 bilhão de atendimentos. Ao analisar os números, a Abrafarma afirmou que equivaleria a dizer que cada brasileiro buscou uma farmácia pelo menos cinco vezes ao longo de todo o ano passado, o que, até então, nunca havia ocorrido.  

Números da IQVIA indicam que, de forma geral, o crescimento do varejo farmacêutico em valores foi de 10,5% em 2019, recuou para 9,4% em 2020 e teve saltos consideráveis de 14,1% e 18,2% em 2021 e 2022, respectivamente.

Beleza nos números

Os pequenos e médios negócios ainda não estão nos melhores momentos, mas esperam que 2024 traga de volta 100% do movimento que costumavam ter antes da pandemia. Para Edenir Zandoná Junior, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado do Paraná (Sindifarma Paraná), uma mudança no perfil de consumo deve ser bastante favorável ao setor. Ele se refere ao hábito cada vez mais acentuado do brasileiro na busca por produtos de higiene e beleza, algo que já vem sendo analisado em números.

No ano passado, o Sincofarma de São Paulo, instituição que representa as farmácias e drogarias de todo estado paulista, informou que as 50 maiores fabricantes de higiene e beleza do Brasil fecharam 2021 com 13% a mais de faturamento em comparação a 2020. A curva positiva significa R$ 15,9 bilhões a mais em vendas. Durante todo o ano de 2022, os produtos do segmento somaram R$ 24,89 bilhões de receita das farmácias de grande rede associadas à Abrafarma, um crescimento de 15,3%.

Por isso a perspectiva de que o crescimento do mercado farmacêutico seja impulsionado por mais fatores além da receita médica. “É muito claro que o pessoal começou a se cuidar mais. A questão de cosmético aumentou, eu diria, uns 50%, porque a pessoa passou a usar creme de tratamento, hidratante, passou a comprar uma escova de dente melhor. São coisas que não aconteciam antes”, diz Zandoná.

Beleza e higiene pessoal devem ajudar a impulsionar crescimento das farmácias. Foto: Tami Taketani/ Plural

Balanços da IQVIA corroboram o novo cenário. Em valores, pelo menos desde 2019 há crescimento consecutivo na aquisição de outros setores das farmácias, como os disponibilizados nas gôndolas dos medicamentos isentos de prescrição, dos dermocosméticos e suplementos e vitaminas. Em 2019, esse aumento foi de 10,4%; 2020, mesmo com pandemia, 7,9%; 2021, 14,7%, e, no ano passado, 17,4%.

Apesar dos bons sintomas, farmácias fora do eixo das grandes redes ainda agem com cautela.  No Paraná, o presidente do Sindifarma acredita que o potencial do varejo farmacêutico deve crescer, mas a um ritmo menos intenso do que se espera.

“O fato é que as farmácias têm crescido relativamente pouco, de 10 a 15 % ao ano. Se fizermos um cálculo relacionado a projeção do crescimento da população e o crescimento dessas farmácias, ainda é pouco e não está crescendo aquilo que achamos que deveria crescer”.

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