Curitiba: + casos de Covid-19; – internamentos. Por quê?

Levantamos os dados e ouvimos os médicos. Confira o que descobrimos

Curitiba está assistindo um aumento significativo de casos confirmados de Covid-19 nas últimas semanas. Um olhar mais atento, porém, deve ter percebido que o número de internamentos segue aumentando de forma mais discreta, o que levantou dúvidas sobre o que está, de fato, acontecendo.

O Plural analisou os dados, conversou com especialistas e profissionais da Secretaria Municipal de Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde que atuam tanto nos centros de decisão quanto nas unidades de saúde (que pediram para não serem citados). O resumo do que descobrimos está aqui:

Aumento no número de exames

Dois terços dos 361 mil exames PCR realizados em Curitiba desde março foram feitos entre setembro e a primeira quinzena de novembro. Não é uma evolução pequena. A cidade fez 61 exames para cada mil habitantes até agosto e daí passou a fazer 124 exames para cada mil curitibanos de setembro até agora.

Ainda é pouco. A Dinamarca, por exemplo, país que a secretária municipal de Saúde citou em ofício, no qual considera adequado retomar as aulas presenciais em escolas do Ensino fundamental particular, testa mais de mil pessoas para cada mil habitantes. A Alemanha, também citada pela secretária, testa 281 pessoas para cada mil.

Com mais testes, o índice de resultados positivos cai porque são testadas não apenas as pessoas com sintomas moderados ou graves, mas também quem tem poucos ou nenhum sintoma. Houve também uma mudança de protocolo por parte da Secretaria Municipal de Saúde em julho, que permitiu a realização de testes de forma mais ampla.

Na prática, não quer dizer nem que há mais gente contaminada nem menos gente sendo internada. E sim que a cidade está sendo melhor em identificar quem está com a doença, pessoas que antes não entravam para as estatísticas de doentes com diagnóstico confirmado.

Caiu a idade média dos doentes diagnosticados

Desde março, a média de idade das pessoas com exame positivo para Covid-19 caiu dez anos. Médicos ouvidos pelo Plural são categóricos em dizer que não há sinais de que pessoas mais jovens estão ficando mais doentes. Elas só estão sendo mais identificadas.

Ou seja, isto é consequência do aumento no número de exames realizados. Como o índice de casos graves entre pessoas mais jovens é menor, o percentual total de internamentos também é menor.

Melhores tratamentos

Em nove meses de pandemia, houve um processo de aprendizagem importante entre médicos e enfermeiros. “O manejo dos pacientes melhorou muito. Há uma intervenção mais rápida em muitos casos, o que reduz internamentos, o tempo de permanência no hospital e internações em UTI”, disse um médico que atua numa Unidade de Saúde de Curitiba.

Esse aprendizado resultou em protocolos de medicação mais adequados, como o uso de corticoide no momento certo.

Quer dizer que a chance de desfecho negativo diminuiu? “Não necessariamente. Conseguimos um tratamento mais efetivo, mas a doença é grave e as consequências no organismo são devastadoras”, alerta outro profissional.

Há internações não contabilizadas?

Esse é um ponto mais complexo que precisa ser tratado em três partes: 1) dados que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) divulga, 2) dados que a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) divulga e 3) onde mais podem estar os pacientes de Covid-19.

Começando pela SMS, o dado que é divulgado pela instituição se refere hoje a 283 leitos de UTI e 347 leitos de enfermaria exclusivas para Covid-19 no Sistema Único de Saúde de Curitiba. Há, eventualmente, indicação de uso de outros leitos nos hospitais com leitos exclusivos Covid-19.

Nesta quinta-feira, dia 19, por exemplo, há seis internações em UTIs e 14 em leitos de enfermaria nos nove hospitais da rede de atendimento Covid-19 pelo SUS. Eles não contabilizam, porém, pacientes que estejam aguardando transferência das UPAs para os hospitais de referência.

Na Sesa, há a divulgação de outros 205 leitos de UTI adulto, dos quais 135 (66%) estão ocupados. São leitos de uso geral que, na teoria, não recebem pacientes Covid-19 por conta do risco de contaminação. Mas são justamente esses leitos ocupados pelos “leitos extras” indicados nos dados da SMS.

Independente disso, o dado mais completo da Sesa permite uma situação mais completa da cidade, já que os pacientes da Covid-19 e os pacientes com outras condições médicas não existem em mundos paralelos independentes, mas sim no mesmo Sistema de Saúde e usando os mesmos recursos.

Por fim, temos 285 leitos de UTI em hospitais privados. Para um médico ouvido pela reportagem, assim como em março o coronavírus chegou na cidade com quem viajou para o exterior e voltou contaminado, agora houve uma movimentação de pessoas que foram para a praia e cidades próximas e que, se contaminadas, podem ocupar leitos primeiro na Rede Privada.

De fato, o Plural noticiou que há unidades já lotadas fora da rede SUS. Num segundo momento, continuou o médico, veremos um aumento nas internações na Rede Pública.

Sobre o/a autor/a

6 comentários em “Curitiba: + casos de Covid-19; – internamentos. Por quê?”

  1. Como os números de testes de novembro se comparam, proporcionalmente, aos de outubro e setembro? Tentei achar mas a prefeitura não divulga dados relativos a testes.

  2. “A Dinamarca, por exemplo, país que a secretária municipal de Saúde citou em ofício, no qual considera adequado retomar as aulas presenciais em escolas do Ensino fundamental particular, testa mais de mil pessoas para cada mil habitantes.”
    Qual é o número correto? Obviamente, não é esse.

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Patrícia, curiosamente, é sim. A Dinamarca é um dos poucos países a testar praticamente toda população. É um país pequeno. São 5 milhões de habitantes, então não chega a ser surpreendente.

        1. Rosiane Correia de Freitas

          José, não seria tão preciso pq o cálculo do número exames por 1000 hab é feito pelo total acumulado. Possível que esse número passe de 2000 exames para 1000 habitantes no futuro próximo.

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