Sistema de saúde do Paraná entra em colapso em abril, preveem pesquisadores

Progressão esperada da doença no estado tem data para atingir o limite do sistema de saúde, segundo dois modelos matemáticos a que o Plural teve acesso

A progressão do número de casos do novo coronavírus no Paraná pode levar ao limite o sistema de saúde do estado em menos de um mês. Ou seja, não haverá leitos e equipamentos suficientes para atender todos que precisam disso para ter chance de se recuperar da doença.

Mesmo com a adição de recursos anunciada pelo governo do Paraná e a suspensão de procedimentos eletivos, as equipes de atendimento médico do estado podem ter que deixar sem atendimento adequado quase 10 mil pessoas e ter um período de pelo menos 18 dias de estresse sobre o sistema de saúde.

Questionada pela reportagem, a Secretaria de Estado da Saúde Pública afirmou que essas previsões são coerentes com as projeções internas do órgão. Isso explica porque, apesar de ser aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o governador Ratinho Jr. (PSD) manteve as medidas de suspensão de atividades não essenciais e reforçou os pedidos para que a população permaneça em isolamento social.

Os dados estão em duas análises feitas por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP). O primeiro está no artigo “Cenários para a demanda vs oferta de leitos de UTIs e respiradores na epidemia COVID-19 no Brasil”, do economista Gustavo Kay, o mestre em Matemática Aplicada, Lucas Amorim e o professor da faculdade de Saúde Pública da USP, Gonzalo Vecina Neto.

A outra análise foi produzida pelo astrofísico Rodrigo Nemmen da Silva, da Universidade de São Paulo (USP), a pedido do Plural. E indica que o momento crítico da pandemia no estado pode acontecer por volta do dia 13 de abril.

Sob estresse

O modelo A é baseado na tendência dos últimos 5 dias dos dados, que vão até 22/3.
O modelo B é baseado em todos os dados.

A projeção de Rodrigo Nemmen leva em conta o histórico de casos confirmados e o número de equipamentos de manutenção da vida disponíveis no estado. E utiliza um índice de 3,4% de casos suspeitos que evoluem para críticos, ou seja, com risco de vida. É um cálculo de comportamento com base nos dados disponíveis, que ainda são limitados e sem levar em consideração as características biológicas do vírus.

Para Nemmen, os dados precisam ser vistos com bastante cautela. “É bastante arriscado extrapolar os modelos dez dias ou mais para o futuro. Muita coisa pode acontecer e modificar a evolução temporal dos casos. A quarentena é importantíssima neste sentido, para adiar (ou evitar) a saturação do sistema”, destaca.

Mas a projeção ajuda a deixar claro algo importante: que a evolução da doença tem sido rápida. “O número de casos confirmados está dobrando a cada 3-4.1 dias”, aponta. E a projeção não leva em consideração o uso de equipamentos de manutenção da vida por pacientes com outros problemas graves, que não deixam de precisar de atendimento médico.

O cenário indicado no gráfico é o mesmo que já está ativo no Norte da Itália, onde o número de casos graves superou a capacidade instalada dos hospitais e fez as equipes médicas terem que decidir quem receberia ou não tratamento. A população idosa, mais suscetível ao vírus, na Itália representa 23% do total, enquanto no Paraná os cidadãos com mais de 60 anos são 11,22%.

74 dias de pandemia

No estudo publicado “Cenários para a demanda vs oferta de leitos de UTIs e respiradores na epidemia COVID-19 no Brasil”, o cálculo sobre as variáveis do estado indicam que a doença pode atingir um platô de 57 mil contaminados. E a duração média do período crítico é de 74 dias.

Muito embora esse platô não se altere com as medidas paliativas, o tempo de duração da pandemia aumenta, e a distribuição dos casos se torna maior, o que dá tempo para o sistema de saúde atender os casos mais graves. O cálculo feito pelos três pesquisadores usa como pressuposto uma média de internação de dez dias por paciente.

O modelo proposto por eles calcula que a fase crítica da pandemia pode durar entre 64 e 120 dias, dependendo do aumento na velocidade de transmissão. Com mais medidas de contenção, como a quarentena e o isolamento social, o tempo aumenta, mas o número de casos diários cai, melhorando as chances de que os doentes tenham atendimento adequado na estrutura disponível no estado.

Os cenários indicados pelo estudo levam em consideração o pressuposto de que 20% dos infectados precisarão de hospitalização e um tempo de internação médio de 10 dias.

Os pesquisadores dizem que hoje, sem os casos gerados pela pandemia, 95% dos leitos de UTI já ficam ocupados. Se forem acrescentados 10% de leitos extras, além de se determinar a suspensão de cirurgias eletivas, haveria uma ocupação de 60% dos leitos. Ou seja: haveria 40% de vagas para os novos casos.

Mais 317 leitos de UTI

A Secretaria de Estado da Saúde informou que trabalha com a estimativa de dez mil casos no Paraná, mas prepara uma estrutura para um cenário com 30 mil infectados. A última ação anunciada pelo órgão foi de contratação de 317 leitos de UTI adulto e 731 leitos de enfermaria em 22 hospitais de referência no estado.

O governo também prevê uma segunda etapa, a ser ativada caso exista um aumento no número de casos. Neste caso serão contratado 188 leitos de UTI adicionais e 450 leitos de enfermaria. Hoje o estado tem 1.315 leitos de UTI.

A terceira trata de um cenário pessimista e pode começar em até 90 dias com mais 180 leitos de UTI e 430 novos leitos de enfermaria. Apenas entre leitos de UTI para adultos pode haver aumento de mais da metade dos 1.315 existentes do Estado.

A previsão do estado é que entre 10 a 15% dos casos precisem de hospitalização e 5% sejam casos graves. Por isso, o governo acredita que a demanda esperada será atendida pela estrutura existente e, num cenário mais pessimista, pelas novas vagas.

As contratações serão feitas com recursos do tesouro do estado e verbas liberadas pelo governo federal e a Assembleia Legislativa.

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