Colegas lembram histórias de Dona Rosy

Nas redações, a jornalista era conhecida pelas respostas francas e pelas histórias que contava

“Durante anos tive o privilégio de só começar o dia de trabalho após longa conversa com a Rosy. Ela sempre tinha uma tarefa para me desafiar ou alguma lição muito valiosa para ensinar. Quando um dia eu disse que iria à Opera, Rosy me instruiu com o manual completo de etiqueta do bom espectador: desde como abrir uma bala sem fazer barulho até a hora certa de ir ao banheiro. Desconfiava de todos os professores desde que descobriu que podia fazer muito frio em Dacar ao contrário do clichê chaleur sénégalais que lhe ensinaram. Me revelou qual era a dose certa suco de laranja para misturar com uísque – sua poção mágica para iluminar manhãs de domingo – e me fez entender que a vida só vale a pena se a gente estiver ou voltando de uma viagem ou programando a próxima.”
Sandro Moser, repórter de política e cultura

“Rosy ensinou dentro e fora da redação. Foi inspiração pra minha filha, em uma conversa trivial durante as caronas para o jornal, sobre ser a primeira mulher a usar calça comprida em Curitiba. Com ela aprendi as coisas práticas de uma viagem de turismo bem aproveitada – da compra de lembrancinhas a roteiro de visita a partir de um city tour – e também a inspiração pra ser eu mesma, como ela foi na sua longa e bem vivida existência. E guardo com carinho a lembrança dela marejando os olhos (!!) durante um papo rápido sobre sua tradição de se vestir de Papai Noel para os filhos dos amigos. Meu coração tá com você, Rosy. Obrigada!”
Anna Paula Franco, que trabalhou ao lado de Rosy no caderno de Turismo da Gazeta do Povo

“Me lembro da resposta contumaz que ela dava quando questionavam por que não havia se casado: “Casamento é como sarampo. ‘Uns pegam; outros não pegam. Eu não peguei.’

Ela adorava alpargatas, daquelas clássicas, com solado de corda, que foram ficando cada vez mais difíceis de achar. E sabia que eu também gostava. Então, sempre que uma de nós descobria um lugar, avisava a outra.

Para mim, além do amor pelo trabalho, pela precisão das informações e da rigorosa pontualidade fica a lembrança dos comentários muito diretos, que até assustavam quem não estava acostumado. ‘Você c cortou o cabelo? Não ficou bom!'”
Sandra Gonçalves, ex-diretora de redação da Gazeta do Povo

“Conheci Rosy de Sá Cardoso em 1989, assim que entrei na Gazeta do Povo. Tomei-a por uma curitibana brava, enérgica, irritadiça. Foi uma amizade conquistada, palmo a palmo, firmada anos depois, assim que ela começou a me passar algumas pequenas viagens, para reportar no caderno de Turismo, do qual era editora. Nossa amizade nasceu por causa do idioma. Apressada, costumava tirar comigo dúvidas de gramática e de grafia – ainda que vivesse às voltas com o dicionário. Dizia antes de eu abrir a boca: “Responda, não precisa explicar”. Aos poucos, entendi seu humor e sua generosidade em segredo. Rosy financiou estudos de muita gente e estava atenta aos nossos dramas. Seu gosto em ajudar só se tornava público no Natal, quando se vestia de Papai Noel e entregava presentes para filhos de amigos. A mim, ela ajudou me oferecendo boas pautas. Fui a Portugal – país onde nasceram e cresceram meus pais – graças a ela. Volta e meia falávamos de questões históricas e foram incontáveis as fontes que me sugeriu. Tenho muito orgulho de tê-la dobrado. Quando a via, me apresentava como o “pior amigo do mundo”, de modo a justificar as ausências. Ela me perdoava – afinal, eu era irmão da Cecília, que lhe vendia panquecas, sem as quais não passava. Rosy era assim, cidadã do mundo e das panquecas, dona de uma razão prática que devíamos adotar.”
José Carlos Fernandes, jornalista e professor da UFPR

“No dia 11 de setembro de 2001 eu estava na redação do Tudoparana.com (portal de notícias da Gazeta do Povo na época) quando as Torres Gêmeas foram atingidas por dois aviões e a internet como um todo passou a funcionar a passos de tartaruga. No meio da correria para entender o que estava acontecendo e explicar para os leitores, dona Rosy apareceu na pequena redação que ocupávamos com um folder do completo World Trade Center da época da inauguração,nos anos 1970. Ela, claro, conhecia pessoalmente o local em que a História estava acontecendo naquele dia, assim como conhecia inúmeros episódios e pessoas da História de Curitiba e do Paraná.
Apesar da grandiosidade de sua presença, Rosy era generosa e naquele dia nos ajudou com dados técnicos dos prédios que antes do fim da manhã deixariam de existir. Mais marcante foi perceber que apesar da idade avançada, Rosy lembrou de nós, jornalistas da internet, numa época em que seus colegas jamais se dariam ao trabalho de subir o lance de escadas que separava o jornalismo impresso do digital.”
Rosiane Correia de Freitas, fundadora do Plural

“Moderna, feminista, dona do próprio nariz. Dona Rosy não abria mão da liberdade de ser e fazer as coisas do seu jeito nem das suas convicções. Foi uma sorte conviver quase 15 anos com ela, aprender e rir de suas histórias impagáveis, que me enchem a cabeça nesse dia de saudade. Voa, Dona Rosy, que nem o céu é mais limite!”
Larissa Jedyn, repórter de moda que trabalhou no Viver Bem

“Alô, Danê, é a Rosy!

– Oi dona Rosy, tudo bem? Como tá a saúde?

– Tudo bem! Você pode trazer as minhas bolsas aqui? Uma das minhas cuidadoras vai numa festa e vou emprestar uma pra ela.

– Quais bolsas dona Rosy? Eu não estou com as bolsas da senhora.

A discussão seguiu, desligamos sem chegar a um acordo. Minutos depois ela liga de novo.

Danê, as bolsas estão com a Marletê!!!!!

Dona Rosy se referia a um conjunto de bolsas de mão que ela comprou pelo mundo e colecionou ao longo dos anos. Vaidosa, estava sempre com um belo brinco ou colar. Gostava de cores contrastantes, tecidos étnicos. E chapéus… E bolsas. Nunca pintou os cabelos, aliás não usava nem shampoo. Era só sabonete mesmo. Era puro charme natural.

Talvez na memória dela eu fosse a guardiã natural daquele pequeno tesouro em bolsas. Mas no meu armário, o que guardo com carinho é um casado de veludo verde, em formato trapézio que comprei dela no final dos anos 1990.
Dona Rosy nos brindou com muitas boas lembranças, gostava genuinamente das pessoas daquele jeitão. Sempre me recebeu muito bem no flat dela, mas queria mesmo é saber do Marcio Reinecken, meu marido, a quem ela se referia como “Mancebo”. A amizade dos dois começou na troca de turno de bancada no jornal. Ele abraçava a dona Rosy e dizia que ela lembrava a sua avó. Ela adorava a comparação!”
Dani Britto, jornalista e editora do Viver Bem

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