Morre Rosy de Sá Cardoso, desbravadora do jornalismo em Curitiba

Cantora, repórter, editora, turista profissional, Rosy marcou época em Curitiba

Morreu nesta quinta (3) em Curitiba, de causas naturais, aos 95 anos, a jornalista Rosy de Sá Cardoso. Ela nasceu em Curitiba, em 19 de dezembro de 1926, data da emancipação política do Paraná, o que era motivo de orgulho para ela. Sua origem familiar se misturava com a história do estado.

Avós e tios eram nomes de rua na capital e apareciam nos livros de História, como o coronel pernambucano João Gualberto de Sá Filho, protagonista da guerra do Contestado. Essa teia de relações familiares locais fazia parte da constituição de Rosy: os contatos com primos e primas e pessoas que compartilhavam a mesma origem “curitibana de raiz” eram importantes para ela.

Ainda assim e apesar da aparente sisudez nos primeiros contatos, estava sempre interessada em novas pessoas que estavam em seu entorno, especialmente os mais humildes, como as serventes da Gazeta do Povo, onde trabalhou por mais de 30 anos, e as zeladoras do edifício onde morava. Gostava de ouvir suas histórias de vida e se oferecia para ajudar financeiramente.

A história de Rosy começou às margens do Rio Ivo, que passava no quintal da casa onde nasceu. Contava que aprendeu a andar na praça Carlos Gomes, onde a mãe a levava para tomar sol. No dia de seu nascimento, estava sendo inaugurada a primeira rua asfaltada de Curitiba, a Barão do Rio Branco. Uma tia sugeriu que a recém-nascida fosse batizada Asfaltina em homenagem aquele fato tão importante, sugestão que o casal Xaguana Gomes de Sá e Jaime Machado Cardoso recusou.

Ela era ainda muito pequena quando Jaime, funcionário do Banco do Estado do Paraná, foi transferido para Paranaguá, onde ela cresceu. A família voltaria à Curitiba anos mais tarde, após a morte precoce de Jaime Machado Cardoso. Na capital, Rosy e os irmãos Jaime e Regina tiveram que procurar trabalho. Para ocupar uma vaga na prefeitura de Curitiba, ela falsificou documentos aumentando sua idade em um ano. Nessa época, começou a cantar em programas de rádio as canções populares que faziam sucesso na época. A música estava se tornando uma carreira, mas foi abandonada por causa de um calo nas cordas vocais. Como era muito conhecida em Curitiba e muito bem relacionada, recebeu convite para fazer uma coluna social em um jornal.

Anos mais tarde, passou a se dedicar totalmente ao jornalismo como editora de turismo da Gazeta do Povo, onde entrou a convite de um dos proprietários, Francisco Cunha Pereira Filho, que sabia do interesse dela por viagens. O vínculo de Rosy com a Gazeta se tornou um dos mais fortes de sua vida. Mesmo depois de parar de trabalhar, frequentou diariamente a redação por mais de dez anos, onde sua mesa foi mantida e os jovens colegas apreciavam seu humor ácido e sua vivacidade.

Nunca parou de viajar. Preferia a Ásia, mas também apreciava viagens curtas ao interior de Santa Catarina, às vezes acompanhadas por amigas da mesma faixa etária. Rosy ia no volante. Gostava de tomar uísque e algumas cervejas, mas era muito particular com as marcas. Para amigos, Rosy dizia que queria morrer em um acidente de avião porque assim o fim de sua vida se transformaria em notícia de jornal. Não precisou.

O velório será na Capela Vaticano de Curitiba, nesta sexta, das 8h às 16h.

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