Camp para mulheres estimula autoconfiança por meio da música

O Rock Camp 18+ acontece no campus da UniCuritiba desde domingo

Dona Verônica Aparecida da Paz, moradora do Ahú, em Curitiba, se prepara para fazer a primeira apresentação como cantora, aos 62 anos. O show acontece no próximo sábado (23), no Crossroads.

Verônica nunca estudou canto e tampouco tinha pretensão de se tornar uma cantora, mas se inscreveu para a edição Rock Camp Curitiba 18+, que acontece no campus da UniCuritiba, desde o último domingo (17).

O Rock Camp utiliza a música como plano de fundo para atividades que buscam desenvolver autoconfiança e foi criado há 20 anos na cidade de Portland (Oregon, EUA). A versão curitibana ganhou a primeira edição em 2018 e neste ano apresentou o formato inédito para mulheres adultas.

São 36 campistas e 62 voluntárias que se reúnem todas as noites. As participantes puderam escolher qual instrumento musical aprenderiam durante a semana e, ao fim, todas as bandas formadas se apresentam no showcase final.

A banda de Verônica já está trabalhando na melodia. Mas o nome do grupo e a letra só serão reveladas na apresentação final. A cantora tem longa relação com o Rock Camp. “Eu fiquei sabendo da primeira vez no grupo das pretas. A Andreia Lima avisou e eu corri e inscrevi minha filha e minhas netas. Eu fui voluntária e foi muito importante para nós, inclusive até mudou muita coisa no nosso relacionamento”, conta.

Adultas

As versões anteriores do Camp eram específicas para meninas. A ideia de dar a chance da troca de experiências entre mulheres foi desafiadora para as voluntárias. Guitarrista há 30 anos, Sophia Nyx é uma das instrutoras, e considera positiva a evolução das alunas. “É um desafio porque são pessoas de diferentes idades, diferentes vivências musicais e diferentes níveis musicais. Foi desafiador conseguir organizar um conteúdo que fosse simples para quem está começando e que fosse desafiador para quem tem mais experiência, mas a evolução das alunas está maravilhosa, fantástica”, avalia.

Para além da música a proposta do Rock Camp 18+ é também trabalhar com a autoconfiança das mulheres, que muitas vezes são desestimuladas a gostar de certos tipos de música ou mesmo tocar algum instrumento.

“Eu vejo que às vezes elas estão tendo uma cerca dificuldade e que não é porque estão tendo dificuldade de aprender. Está faltando um pouco de desenvolver autoconfiança. Elas já estão fazendo certo, só que não só que não acreditam que está certo. O nervosismo atrapalha um pouco. Na instrução a gente procura não só ensinar o instrumento, a gente tenta também estabelecer e desenvolver autoconfiança e tenta mostrar que são capazes mesmo em pouco tempo”.

Se o caminho é difícil para quem ainda está aprendendo, para as artistas que estão há décadas na estrada o trajeto também não é simples.

Fernanda Florêncio, de 42 anos, é vocalista do Exausta Samba, grupo formado apenas por mulheres. Esta é a primeira vez que ela integra um conjunto que não tem músicos homens e coincidentemente também está estreando na participação no Rock Camp.

“Mesmo como musicista profissional há 20 anos aqui [no Camp] é outra experiência. Olhar para elas [campistas] e ver esta história ser construída durante uma semana também me enriquece, me transforma e me motiva a continuar a pensar que a música é uma ferramenta transformadora, de conexão, de possibilidades”.

Também com longo tempo de estrada, Tea Anne, vocalista e guitarrista da banda Succulenta, fala sobre a importância do acolhimento de mulheres para além da música. “Estar aqui fortalece muito, a gente sai gratificada e engrandecida. A gente infla de acolhimento mesmo, que é o que a gente não encontra em lugares majoritariamente masculinos. Então aqui esse espaço é para visibilidade de mulheres, acolhimento de mulheres e a resistência”.

Uma semana parece pouco tempo para que alguém decida mudar ou adotar alguma prática diferente. Mas estar em contato com experiências novas, sobretudo em um ambiente encorajador estimula o desafio.

Membro da coordenação do Rock Camp, Roberta Cibin é uma das mulheres que começou a tocar depois de passar pela experiência do evento. Ainda na edição voltada para meninas, enquanto tomava conta de questões burocráticas, Cibin pôs em xeque uma percepção familiar acerca das suas habilidades. “Todo mundo da minha família me dizia que eu não tinha dom para música. O Camp me mostrou que não precisa ter dom. A gente pode aprender e fazer o rolê só para se divertir”.

A expectativa é que, ao final da semana, a percepção de autoconfiança e capacidade das mulheres campistas seja mudada. “A pessoa adulta vem que com bagagens, vem com problemas de casa, de relacionamento, de grana, problemas de horários. Então eu estou muito emocionada de estar aqui porque muitas dessas mulheres ouviram a mesma coisa que eu ouvi e depois veem que elas são capazes, sim”.

Showcase de encerramento

Data: 23 de julho de 2022
Horário: 18h
Onde: Crossroads (Av. Iguaçu, 2304 – Água Verde – Curitiba/PR).
Valor: R$ 5

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