O policial penal Jorge José da Rocha Guaranho, assassino do guarda municipal Marcelo Arruda, recebeu alta e teve a prisão preventiva convertida em domiciliar, nesta quarta-feira (10). Isso significa que ele poderá responder ao processo em casa, em Foz do Iguaçu.
Amigos e familiares de Marcelo Arruda protestaram em frente ao hospital Ministro Costa Cavalcanti, onde o criminoso estava internado desde 9 de julho, quando invadiu a festa de aniversário da vítima e atirou contra ele.
A defesa de Guaranho ainda tentou articular a liberação do acusado, por meio de um Habeas Corpus, que foi negado pela Justiça.
Guaranho foi denunciado por homicídio duplamente qualificado e ainda não foi ouvido no processo. A defesa dele alega que o cliente não lembra do ocorrido.
Marcelo Arruda reuniu amigos e familiares em uma associação para comemorar aniversário de 50 anos. Ele era tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) em Foz do Iguaçu e chegou a concorrer ao cargo de vice-prefeito.
Guaranho soube da festa por uma outra pessoa, que tinha acesso às câmeras de segurança do local. Ele invadiu o espaço, discutiu com a vítima e retornou instantes depois para cometer o crime.
Marcelo Arruda estava armado e conseguiu reagir. Ele evitou que outras pessoas fossem feridas pelo assassino. Ambos foram socorridos, mas Arruda faleceu no dia seguinte.
Um mês
Os familiares e amigos de Arruda organizaram um ato nesta quarta-feira (10) tanto para marcar 1 mês do falecimento da vítima quanto para pedir Justiça. Eles divulgaram uma carta criticando a possibilidade de o acusado ir para domiciliar (leia a íntegra no fim da reportagem).
Durante a tarde havia a expectativa de que o criminoso fosse transferido para o Complexo Médico de Pinhais, mas a Justiça deferiu o pedido da defesa e Garanho saiu do hospital diretamente para casa.
A decisão da Justiça causou indignação nos amigos e familiares. De acordo com o advogado que representa a família da vítima, dr. Ivan Vargas, a justificativa para o deferimento da domiciliar é a falta de estrutura do Completo Médico Penal de Pinhais, para onde, em princípio, seria transferido o criminoso.
“O Complexo Médico se negou a receber ele, alegando que não tem estrutura. Agora vamos fazer mobilização. Isso aconteceu na data que completa os 30 dias da morte do Marcelo e próximo do dia dos pais, cujos filhos não poderão usufruir. É um absurdo, um disparate. É público e notório que o Complexo Médico tem condições. A própria decisão também é absurda também a decisão”, lamenta.
“Após ter cometido tamanha barbárie e acabado com a vida de um pai de família, o assassino ficará em casa, curtindo o dia dos pais com seu filho, se “recuperando”. E eu? E nós filhos de Marcelo?”, criticou Leonardo Miranda, filho da vítima.
A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) do Paraná, mas a pasta não comenta casos de transferência por questões de segurança.
Carta
Leia a carta da família de Marcelo Arruda antes da divulgação da decisão judicial:
Desde o dia 09 de julho de 2022, data que nosso insubstituível pai, companheiro e irmão comemorava seus 50 anos, convivemos com a ausência e a dor imensurável de sua partida, vítima da intolerância e ódio de um assassino que, atropelando qualquer traço de humanidade e respeito a quem quer que fosse, invadiu uma festa particular e ceifou a vida de um pai de família, um profissional da área de segurança pública, um lutador das causas sociais e coletivas dos seus companheiros de categoria, deixando órfãos quatro filhos e expondo a risco dezenas de pessoas que lá se encontravam.
O que nos resta, além da doce lembrança que cultivaremos enquanto vivermos, é o nosso clamor por justiça, compartilhado pela parcela da sociedade que não comunga dos mesmos valores do assassino.
A possibilidade do homicida vir a ter sua prisão revogada ou convertida em prisão domiciliar, nos causa perplexidade e temor, visto a periculosidade apresentada por um indivíduo que teve a audácia de cometer um ato extremo de desprezo pela vida de um ser humano. Estamos acompanhando o caso e até o momento não temos qualquer razão para desacreditar nas instituições responsáveis por nos entregar as medidas justas pelas quais ansiamos.
Familiares de Marcelo Aloizio de Arruda.
O complexo médico penal tem condições horríveis, ao ponto de estar sob interdição ética do CRM. Seria bom olhar os autos e ler a comunicação do próprio CMP ao juízo. Infelizmente, é a realidade. Na realidade, considerando as condições tenebrosas do CMP , o ideal é que todos os casos semelhantes recebessem domiciliar. Mas a domiciliar em casos assim (situação grave de saúde e unidade penal relata não ter condições de tratamento) está longe de ser algo inédito.