Às educadoras que passaram em minha vida

Devo grande parte do que sou a essas educadoras

Confesso que no meio do mês passado, no dia 16 de setembro, eu me desesperei levemente pensando
que havia deixado passar o dia dos professores, perdendo a oportunidade de publicar aqui um
agradecimento público a algumas das educadoras que me marcaram. Fico feliz em ter me
enganado e ter a chance de agradecer a vocês.

Devo grande parte do que sou – ou da escritora/artista que sou – às educadoras que encontrei
em minha formação. Sou e sempre fui o tipo de estudante que gosta de ser vista e reconhecida
pelas professoras, e faço questão (assim como faço em outras partes da minha vida) de dizer a
cada uma o que significam para mim. O trabalho de cada educadora aqui citada para com a
periferia, em específico a minha, me aproxima ainda mais de seu trabalho. As que se
mostram interessadas em mudar vidas para além da sala de aula são as que me marcam.

Prof. Mabile me apresentou a minha maior paixão desta vida: a dança; e por isso lhe sou para
sempre grata. Mabile começou a dar aulas de dança contemporânea num contraturno na Vila
por meio de uma parceria com o colégio particular onde era contratada. Comecei
frequentando as aulas na turma comum formada pelas crianças da Vila e, em alguns anos,
participava também da turma mista (formada por jovens da Vila e estudantes do colégio) que
representava o tal colégio em mostras e apresentações em escolas em Curitiba e Região
Metropolitana. Prof. Mabile não só me ensinou a me alongar antes de qualquer atividade
física, mas também a ouvir Emicida, Criolo e Elza Soares, a dançar descalça e a criar em
conjunto.

Prof. Dani foi quem aquietou minha ansiedade me ensinando a tocar flauta doce e a ler
partitura, me levou ao meu primeiro concerto e me fez conhecer a belíssima Capela Santa
Maria. Há mais de dez anos Danieli passou pelo contraturno da Vila Torres e deixou um
legado igualmente carinhoso, sensível e poderoso. Danieli, tocando diversos instrumentos,
me mostrou um mundo inteiro fora da minha realidade e hoje continua me inspirando, mesmo
que de longe.

Ainda sobre a Capela Santa Maria, na faculdade conheci uma das arquitetas responsáveis
pelo projeto de restauração do complexo cultural: a professora YaYa. Soraya é um exemplo de mãe e
professora, não tenho certeza se sabe da extensão do próprio carisma e do quanto cativa seus
estudantes apenas ao entrar numa turma e conseguir convencer jovens pessoas, que podem
ser muito teimosos, a prestarem atenção em tudo o que tem a oferecer. YaYa ensina
cenografia e caracterização, além de teoria em cultura e sociedade, a lucidez e leveza com
que nos enche e transborda de conhecimento líquido, é a professora que se dispõe a trocar e aprender com estudantes. E os diálogos com ela são tão legais quanto as camisetas que usa
para dar aula.

E por fim, obrigada Maria, ou Prof. Zeza, como é chamada na Vila desde que me entendo
por gente. Maria José é minha mãe, atualmente educadora social, mas pedagoga de formação
que trabalhou durante muitos anos na rede pública de ensino, ajudando na formação de uma
geração inteira de jovens na Vila Torres. Cresci com livros pedagógicos nas estantes de casa e
sendo chamada de “filha da Prof. Zeza” pelas ruas da Vila. Maria, que iniciou a graduação
apenas depois do meu nascimento, entrava na sala de aula no período da manhã como
professora e a noite como estudante. Ela me ensinou a ler aos 4, me cobrava caligrafia mais
que qualquer outra mãe, não me deixava faltar uma aula que fosse e hoje só faço agradecê-la.
Ter uma mãe que também é professora definitivamente não é para qualquer um e tirei a sorte
grande com a minha.

Com (muito) amor, uma aluna orgulhosa.

Esse texto é parte do projeto Periferias Plurais, que convida seis jovens de Curitiba e região a falar sobre suas vidas e suas comunidades.

Sobre o/a autor/a

4 comentários em “Às educadoras que passaram em minha vida”

  1. Sempre retorno aqui para reler e me encher de inspiração para continuar na caminhada. Eu agradeço muito a vida por termos nos encontrado, de fato, foi um ENCONTRO. Vc é grande, Mari! Muita arte na tua vida, sempre!

  2. Mari, querida! Fico honrada de ter cruzado caminho com você. Ter a oportunidade de compartilhar movimentos de modo tão carinhoso e respeitoso me faz ser uma pessoa melhor. Tua existência tão crítica e sensível me enche de orgulho e admiração. Aprendemos-ensinamos juntas. Obrigada, sempre! Grande beijo da prof Mabile.

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