Richa defende Ponte de Guaratuba, mas empresa do consórcio foi suspeita de suborná-lo

Vencedora da licitação em Guaratuba foi apontada pela Lava Jato como tendo pagado propina para governo

Editado: o ex-governador Beto Richa enviou uma nota para o Plural questionando a reportagem. A nota se encontra ao fim do texto

Nas últimas semanas, o deputado federal Beto Richa (PSBD) criticou várias vezes a decisão da juíza Silvia Brollo de suspender a licença prévia para a construção da Ponte de Guaratuba e encaminhou um documento à Justiça Federal assinado por outros 13 deputados para que a obra seja liberada.

Curiosamente, a empresa Goetze Lobato Engenharia, que integra o Consórcio Nova Ponte, ganhador da licitação, foi suspeita de ter participado ao pagamento de propina para Beto quanto ele foi governador do Paraná. Hoje, Richa cogita uma possível candidatura à prefeito de Curitiba embora ainda responda por supostos casos de corrupção.

A ligação entre Richa e a Goetze Lobato Engenharia foi revelada por uma das investigações da Lava Jato. Durante o período em que Beto permaneceu no cargo de governador, a Goetze Lobato ganhou algumas licitações com o governo do Estado, como o contrato para ampliação do sistema de esgoto sanitário no Litoral. 

Em 2014, porém, a empresa entrou no consórcio Rota das Fronteiras, junto com três outras empresas, a América, a Tucumann e a empreiteira Odebrecht. O consórcio demonstrou interesse na adjudicação do contrato de “exploração e duplicação da PR 323 entre o município de Francisco Alves e Maringá”. A licitação valia R$ 7,7 bilhões foi considerada na época “a maior da história” da Secretaria de Infraestrutura.

Por esta razão, dois executivos da Odebrecht, Luiz Bueno e Luciano Pizzatto, teriam procurado Deonilson Roldo, então chefe de gabinete do governador Richa. De acordo com a hipótese do Ministério Público Federal, Richa teria favorecido o grupo Odebrecht em troca de uma garantia de que no consórcio ganhador teriam entrados “três empresas próximas do governo” e que “havia expectativa de recebimento indevido destas empresas”. As três empresas do consórcio a que os procuradores se referem seriam América, Tucumann e Goetze Lobato Engenharia.

Durante as reuniões que foram realizadas entre janeiro e outubro de 2014 no Palácio Iguaçu, os dois representantes de Odebrecht teriam prometido R$ 4 milhões a Deonilson para vencer a licitação com suposto “conhecimento e anuência” de Richa, que por outro lado nega esta circunstância. De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, a partir daquele momento o governo de Richa teria tomado medidas para modificar a licitação e assim favorecer o consórcio liderado pela Odebrecht, que também incluía a empresa Goetze Lobato.

Além da suposta propina por parte da empreiteira baiana, Richa também teria se beneficiado de um barracão na CIC de Curitiba, que foi vendido para uma empresa da família do então governador por um preço de R$ 2 milhões inferior ao valor de mercado.

A empresa vendedora deste imóvel foi a Tucumann, que no passado participou de diversos consórcios empresariais junto com a empresa Goetze Lobato. A Justiça Eleitoral ainda não proferiu uma decisão sobre este caso. Por outro lado, a defesa de Richa espera se beneficiar da anulação do acordo de leniência entre o MPF e a Odebrecht para invalidar as delações dos executivos desta empreiteira, que representam as provas mais forte apresentadas contra o ex-governador. A força-tarefa da Lava Jato não produziu provas que pudessem demonstrar os pagamentos da empresa Goetze Lobato para Richa.

A suposta relação entre Beto Richa e a empresa Goetze Lobato, porém, foi documentada também no desdobramento da operação Lava Jato relativo as concessionárias de rodovias do Paraná. A empresa Goetze Lobato fazia parte, juntamente com Tucuman, do consórcio Caminhos do Paraná, responsável pela gestão do lote 4.

De acordo as investigações do MPF, as empresas deste consórcio “negociavam pagamentos” de propina a vários políticos. Os autos da Lava Jato apontam que também o então governador Richa teria se beneficiado deste dinheiro.

Em troca, de acordo com a delação do então diretor do DER Nelson Leal Junior, o governo de Richa editou aditivos favoráveis a estas concessionárias. Richa nega a acusação e alega uma perseguição política por parte do MP. Porém, a ação penal segue em tramitação na Justiça Eleitoral.

Até o momento, não há notícia de inquéritos abertos pelo MP sobre um possível suborno para Richa relacionado a construção da Ponte.

Licitação da ponte

Em outubro de 2022, a licitação para a construção da Ponte de Guaratuba foi vencida pelo Consórcio Ponte Nova, formado pelas empresas OECI S.A. Carioca Christian-Nielsen Engenharia S.A. e Goetze Lobato Engenharia. Apesar de ter sido classificado em 3° lugar, o consórcio obteve o contrato por conta da decisão do DER/PR que inabilitou as duas primeiras empresas classificadas por não terem atendidos os critérios técnicos de capacidade operacional e profissional previstos na licitação.

Em dezembro, o TCE suspendeu o contrato com o Consórcio Ponte Nova porque alguns termos no edital teriam “restringido o caráter da licitação”. O caso foi levado antes ao Tribunal de Justiça do Paraná, que suspendeu a liminar, e depois ao STF. A ministra Rosa Weber indeferiu o pedido do TCE e desbloqueou a obra.

Em outubro deste ano, a juíza Silvia Brollo da 11° Vara Federal de Curitiba suspendeu a licença prévia da construção da ponte, atendendo um pedido do Ministério Público Federal, que apontou a falta de estudos sobre o possível impacto ambiental durante a realização da obra.

Nota de Beto Richa

Para restabelecer a verdade:

  1. O deputado federal e ex-governador Beto Richa nunca teve qualquer denúncia ou suspeita de irregularidade envolvendo a empresa Goetze Lobato Engenharia, citada na matéria. Selecionada mediante licitação pública, a obra realizada pela empresa para a ampliação do sistema de saneamento do Litoral do Paraná, contratada pela Sanepar, não teve qualquer questionamento. Timidamente, a própria matéria publicada pelo blog informa que “a força-tarefa da Lava Jato não produziu provas que pudessem demonstrar os pagamentos da empresa Goetze Lobato para Richa”. O que contraria o maldoso título da citada matéria (“Richa defende Ponte de Guaratuba, mas empresa do consórcio foi suspeita de suborná-lo”). Ora, se não há comprovação, a matéria carece de fundamento e não passa de especulação com viés nitidamente calunioso.
  2. “Rejeito veementemente qualquer insinuação, suspeição ou acusação de que possa ter havido qualquer tipo de pedido ou oferta de vantagem indevida em torno dessa obra”, diz o ex-governador.
  3. O Supremo Tribunal Federal já declarou a nulidade das suspeitas planilhas da Odebrecht, usadas pela Lava Jato para tentar incriminar dezenas de pessoas Brasil afora.
  4. A suposta doação eleitoral de R$ 4 milhões da Odebrecht jamais foi tratada ou discutida por qualquer membro do Governo do Estado, em qualquer tempo. Isso está amplamente documentado nos processos em tramitação, contrariando a versão criada pelo Ministério Público Federal.
  5. Jamais houve qualquer pedido do então chefe de gabinete ou de qualquer outro integrante do governo para que o consórcio da Odebrecht incluísse empresas indicadas pelo Estado na obra da PR-323. Em depoimento à Justiça Federal, os citados executivos da Odebrecht disseram que a busca de empresas locais para compor o Consórcio Rota das Fronteiras foi uma opção “técnica e estratégica” da própria Odebrecht, sem qualquer influência externa.
  6. Os procuradores da Lava Jato que formularam as denúncias construíram uma narrativa que tentou classificar uma suposta doação para campanha eleitoral em “propina”, envolvendo membros do governo. No entanto, jamais conseguiram provar qualquer rastro de verdade nessa alegação. Tampouco os processos abertos por eles trazem qualquer indício de pagamento de propina.
  7. A suspeição leviana de que teria havido subfaturamento na aquisição de um barracão industrial por parte da família Richa já foi devidamente esclarecida. Não houve qualquer irregularidade nessa aquisição.
  8. Igualmente, não há prova de qualquer pagamento ou solicitação de vantagem, por parte do ex-governador, em relação à Concessionária Caminhos do Paraná, ou a qualquer outra, responsável pela operação de parte do chamado Anel de Integração. A suspeição relatada pela matéria é totalmente infundada.
  9. Defender a construção da Ponte de Guaratuba é uma posição a favor do Paraná. É atender a uma reivindicação histórica do Litoral. E é preciso lembrar que foi o ex-governador Beto Richa quem iniciou o projeto da ponte, com a realização de estudos de viabilidade econômica e de impacto ambiental, contratados durante a sua gestão, com recursos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. E foram esses estudos que subsidiaram as etapas seguintes, que incluem projeto básico, projeto executivo e construção da ponte.
  10. As pessoas de bem sabem que essa é a verdade. E sabem também que as versões que carregam interesses inconfessáveis não devem prevalecer.

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