Ratinho vive grande calmaria, mas bonança pode acabar em breve, alerta sociólogo

Facilidade para aprovar privatização da Copel mostra que governador quase não enfrenta oposição. Mas isso pode mudar com pedágio e proximidade e novas eleições

A fase de bonança de Ratinho Jr. (PSD) é impressionante, mas caso o governador do Paraná não tome cuidado, pode em breve enfrentar problemas que até agora não conheceu no cargo. A análise é de Arilton Freres, sociólogo e diretor do Instituto Opinião, um dois mais importantes do estado na área de pesquisas políticas.

Para Arilton, uma das características que marcaram os cem primeiros dias do segundo governo de Ratinho, completados na semana que se passou, e que já tinha sido uma marca do governo anterior, entre 2019 e 2022, é a quase total ausência de oposição. “Até houve um crescimento pequeno da oposição parlamentar, com o PT elegendo mais deputados, por exemplo”, diz Arilton. “Mas isso está longe de significar que Ratinho vá ter problemas para aprovar seus planos na Assembleia Legislativa.”

De fato, desde a reeleição, Ratinho mostrou que continua aprovando o que quiser – tanto no final da legislatura passada quanto no começo desta, são raros os deputados que aceitam enfrentar o governo. Além de ter articulado uma base ampla, Ratinho se beneficia dos mecanismos que historicamente garante maioria a um governador no Legislativo: distribuição de cargos, pagamento de emendas parlamentares e atenção aos municípios.

Arilton Freres comenta que o processo de privatização da Copel é um exemplo cabal do momento de calmaria de que Ratinho desfruta. Quando Jaime Lerner tentou vender a companhia, vinte anos atrás, a votação na Assembleia foi difícil, marcada por tumultos, e nas ruas multidões protestaram intensamente contra a privatização. Agora, Ratinho mandou o projeto, colocou em rito emergencial, e aprovou sem problemas.

“Não é só a oposição parlamentar que anda enfraquecida”, diz o sociólogo. “Os movimentos sociais também perderam força. Os sindicatos, que foram, fundamentais para impedir a venda da Copel nos anos 2000, hoje estão absolutamente enfraquecidos depois das reformas feitas pelos governos de Temer e Bolsonaro.”

A calmaria é tanta que Ratinho chegou a insinuar planos de disputar uma eleição presidencial. Nesse sentido, Arilton afirma que, embora vá admitir, Ratinho teria de torcer pela inelegibilidade de Bolsonaro, que pode ser decidida pelo TSE. Mas o maior problema seria a concorrência de outros nomes fortes na mesma faixa do espectro ideológico. “Tanto o Zema, de Minas, quanto o Tarcísio, em São Paulo, governam estados muito maiores”, diz ele.

Mas para Arilton, há pelo menos dois aspectos que podem trazer dor de cabeça para Ratinho num futuro próximo. Uma é a questão do pedágio, um assunto que tipicamente aumenta a impopularidade de qualquer governante. “E agora não tem mais jeito, o Ratinho precisa discutir isso com o governo Lula”, lembra ele.

De outro lado, à medida que o tempo passar e as eleições para a sucessão no estado se aproximarem, a tendência é que a unidade da direita e da centro-direita em torno de Ratinho se esfacele. “Outros grupos, como o de Ricardo Barros e o pessoal da Lava Jato, certamente vão ter pretensões próprias, e a união em torno do governador pode rapidamente se tornar um aglomerado de facções em disputas internas.”

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