Governo Ratinho Jr. usa metodologia antiga do Caged para criar “recorde” de empregos no estado

Economistas e Ministério do Trabalho afirmam que comparativo com gestões anteriores não reflete a realidade

O governo do Paraná comemorou recorde em geração de empregos. A informação veiculada na Agência Estadual de Notícias diz que o estado fechou 2021 com o maior saldo dos últimos 18 anos, de acordo com levantamento da Secretaria de Estado da Justiça Família e Trabalho (Sejuf), com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

No entanto, em 2020 ocorreram reformulações nos indicadores de emprego por conta da inclusão do e-social.

O Caged, que foi criado em 1965, traz apenas o número geral de pessoas que tiveram a carteira assinada e que tiveram a carteira “baixada”, ao se desligarem da empresa.

Com o e-social, a composição dos indicadores de geração de emprego passou a considerar outras fontes de informações, incluindo profissionais liberais, autônomos e empreendedores na métrica.

“O e-social é mais amplo, mais moderno em termos de processamento de informações, tecnologia e processamento de dados porque é atualizado o tempo todo”, diz o economista José Pio Martins.

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com a mudança na composição não é recomendada a comparação do Novo Caged (ou e-social) com os períodos anteriores.

“Quando não se usa a mesma metodologia e o mesmo sistema de processamento estamos falando de coisas diferentes. Não tem como comparar ipsis litteris (literalmente).”

José Pio Martins, economista.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), realizada pelo IBGE, a comparação dos dados do 3.º trimestre de 2021 com o 1.º trimestre de 2020, o número de ocupados ficou um pouco abaixo do patamar pré-pandemia no Paraná -0,16% (-9 mil); o número de desocupados apresentou queda de -0,62% (-3 mil); e a taxa de desocupação voltou ao mesmo patamar (8,0%).

Baseado nestes dados, o economista do Dieese Sandro Silva acha difícil que o Paraná tenha batido recorde na atual conjuntura. “Dificilmente seria um recorde de geração de empregos, porque os dados do PNAD não mostram essa recuperação, além de serem metodologias diferentes”, destacou.

Para entender o contexto, o economista também cita dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2020, que revela um cenário de retração dos empregos (mais de 30 mil) no estado, embora o governo do Paraná tenha divulgado um saldo positivo de 29.167.

Números

O Ministério do Trabalho revisou os dados do Caged, o que gerou ajustes também nos números do estado. Em 2020,
o governo federal havia anunciado geração de 142,7 mil empregos e após a revisão, o número passou para 191,5 mil desligamentos dentro do próprio Caged, conforme observou o Dieese.

Após a correção, o deputado estadual Requião Filho (MDB) encaminhou um requerimento para o Departamento do Trabalho e Estímulo à Geração de Renda do Estado questionando os dados divulgados anteriormente.

A resposta do governo paranaense confirmou que ocorreram mudanças nas estatísticas.

O saldo de 2020, por exemplo, que antes era de 52.670 empregos gerados (dados do Ministério da Economia), na realidade é de 29.167.

Em 2021, o número correto e já atualizado na Agência Estadual é 172.636 novos empregos, diferente do divulgado anteriormente, que era de 200.095.

O Plural procurou o Ministério do Trabalho e questionou sobre o comparativo histórico feito pela Sejuf. O representante do ministério disse que “tecnicamente considera o Novo Caged como uma série nova”. A pasta salientou ainda que existe uma nota técnica publicada em 27 de maio de 2020, orientando que esta observação seja sempre mencionada quando forem apresentados dados do Caged antigo.

O texto no site do governo do Estado diz que “os dados da Sejuf levam em conta o novo Caged, cuja a base de cálculo foi alterada em 2020 pelo Ministério da Economia”, porém oculta a informação de que se trata de uma série nova – e que, portanto, não pode ser comparada aos dados dos últimos 18 anos, como está no título do texto.

O Dieese reforça a necessidade de deixar claro quais aspectos técnicos-metodológicos estão sendo empregados. “A natureza distinta de captação das informações entre Caged e e-Social apresenta implicações para a análise estatística e para a comparabilidade na série histórica.”

Subnotificações

Segundo o Painel Mapa de Empresas do Governo Federal, em 2021 foram fechadas 101.473 empresas no Paraná. Destas, 25.404 em Curitiba. Esses números também podem interferir nos dados relacionados à geração de emprego.

“Há uma subnotificação no e-social porque têm muitas empresas que fecharam, principalmente as pequenas empresas, que não deram baixa no sistema e isso gera um prejuízo para o indicador.”

Sandro Silva, economista do Dieese.

A Sejuf foi procurada pela reportagem e afirmou que vai revisar os dados antes de se manifestar. No entanto a pasta disse que precisa de mais tempo para conferir as estatísticas porque havia erros no sistema. O texto será atualizado assim que as informações foram enviadas ao Plural.

A Sejuf afirmou que “apesar de a metodologia da captação da base de dados ser diferente, a base de dados é a mesma, no sentido que as movimentações das admissões e demissões são enviadas para a base de dados do CAGED, por um sistema ou outro. Até dezembro de 2019 a captação era feita pelo próprio sistema do CAGED utilizando parcialmente o e-social, e atualmente, é feita totalmente pelo e-social.Os dados do CAGED pré-2019 já incluíam os dados extraídos do e-Social, pois o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados já incluía todas as contratações feitas no país, independentemente se declaradas no antigo formulário do CAGED ou no e-Social. Considerando que a metodologia era diferente, mas a base de dados é a mesma, o número de empregos gerados no Paraná segue o oficial divulgado pelo novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, 172.636 postos.

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1 comentário em “Governo Ratinho Jr. usa metodologia antiga do Caged para criar “recorde” de empregos no estado”

  1. Conforme outubro se aproxima os milagres começam a aparecer. Propagandas em todas as mídias. Distorções nos números. Afinal, quem se preocupa com os números? A única coisa que não deve aparecer é a Ponte de Guaratuba, os hospitais regionais e aqueles helicópteros e aviões do serviço de remoção, que na propaganda parecia coisa de cinema. É . O povo segue sendo engabelado. Mesmo o governador que transforma nugget em frango, não fez grandes realizações. É um ilusionista.

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