Ação de Alberto Youssef pode anular delação chave na Lava Jato

Anulação do acordo de colaboração de Youssef pode levar a revisão de vários processos julgados por Sergio Moro

A peça-chave do castelo de cartas da Lava Jato poderá cair nas próximas semanas. O doleiro Alberto Youssef, que foi um dos primeiros presos na operação e que serviu como ponto de partida para a Força-Tarefa, teria reunido provas suficientes para apresentar uma denúncia ao ministro do STF Dias Toffoli sobre a atuação do então juiz responsável pela operação Sergio Moro, hoje senador pelo União Brasil. Em tese, a ação poderia levar à anulação da delação de Youssef e, portanto, da primeira confissão que levou a Polícia Federal em 2014 a descobrir o sistema de suborno que tinha como coração a Petrobras.

De acordo com informações reveladas já na época, Youssef teria sido interceptado ilegalmente quando estava numa cela da Polícia Federal de Curitiba após ser preso no 17 de março de 2014, durante a primeira fase da operação Lava Jato. A suspeita é que essas interceptações teriam sido usadas contra Youssef para forçá-lo a colaborar com as autoridades. A colaboração de fato viria a ocorrer após o depoimento de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras que assinou o primeiro acordo de colaboração na história da Lava Jato. A delação de Youssef foi fundamental para confirmar a existência de um sistema de suborno que envolvia as principais empreiteiras do país e a Petrobras, como o próprio Costa havia revelado aos procuradores da força tarefa do MPF durante seus interrogatórios no agosto de 2014. 

Por isso, é possível que a anulação do acordo de colaboração de Youssef abra caminho para a revisão não só dos processos contra o doleiro, mas também das principais figuras condenadas pelo então juiz Sergio Moro. No âmbito da Lava Jato, Youssef foi sentenciado a mais de cem anos de prisão e em março deste ano foi preso novamente por suspeita de desviar o dinheiro que ele deveria ter devolvido à Justiça.

Nos próximos dias, está prevista a decisão do ministro Dias Toffoli sobre outra denúncia apresentada por Youssef que poderá levar uma investigação sobre a atuação do próprio Moro. O senador respondeu às acusações afirmando à revista Veja que “qualquer insinuação sobre o meu envolvimento é calúnia”, uma vez que a sua posição neste caso já havia sido arquivada pelo juiz Luiz Antonio Bonat, que ocupou o cargo deixado pelo próprio Moro em 2019 na 13ª Vara Federal de Curitiba.

Além do STF, que avaliará a validade do pedido de Alberto Youssef, as investigações estão sob a competência da 23ª Vara Federal de Curitiba, incumbida pelo juiz Fabio Nunes de Martino de esclarecer os doze dias de gravações ilegais a que Youssef foi submetido.

Delação

A delação de Alberto Youssef representou o primeiro passo da operação Lava Jato. O “doleiro dos doleiros” foi preso em 2014 no âmbito de uma investigação da Polícia Federal que apurava o papel de quatros quadrilhas que lavavam o dinheiro por conta de um traficante de droga e que usavam como sede um escritório localizado no segundo andar de um posto de gasolina em Brasília, onde não havia um Lava Jato. 

A análise dos documentos apreendidos no escritório de Youssef levou a Polícia Federal a descobrir que o doleiro havia presenteado o ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, com um Land Rover Evoque, que logo após foi preso pelas autoridades na segunda fase da Lava Jato.

A delação de Costa convenceu Youssef a assinar um novo acordo de colaboração, como já havia feito dez anos antes no contexto do caso Banestado. As revelações de Alberto Youssef foram fundamentais para comprovar a existência de um complexo esquema de propina que era pago pelas principais empreiteiras do país para adquirir contratos da Petrobras. Além de citar os primeiros políticos envolvidos na investigação, Youssef afirmou que o Planalto “sabia de tudo”, fornecendo assim as primeiras pistas que dois anos depois permitiram aos procuradores de investigar o atual presidente Lula. 

As informações presentes na denúncia de Youssef tornaram-se fundamentais para boa parte das investigações da força tarefa da Lava Jato e é por esta razão que a anulação do seu acordo de colaboração poderia levar a Justiça a reconsiderar muitos processos nascidos das palavras do doleiro.

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