Se for ver “O próximo passo”, procure se concentrar na dança

Filme em cartaz no Cineplex Batel tem como protagonista a bailarina Marion Barbeau, da Ópera de Paris

É curioso, mas a figura central de “O próximo passo” não é Elise, a protagonista, vivida por Marion Barbeau. A jovem dançarina que se vê obrigada a abandonar o balé clássico depois de uma lesão grave no pé direito, e que se reinventa num grupo de dança contemporânea.

A figura central é o coreógrafo Hofesh Shechter. Afinal, o dançarino e compositor israelense radicado em Londres é o corpo e a alma do filme. O diretor Cédric Klapisch teve só que apertar “on” na câmera e deixar rolar.

Shechter tem um papel pequeno na história. Ele faz o diretor do grupo de dança contemporânea – chamado, óbvio, Hofesh – que acolhe Elise no momento em que ela pensava em abandonar os palcos para sempre.

Hofesh Shechter

Ele também compôs a trilha sonora de “O próximo passo”.  Além de ter elaborado todas as coreografias que aparecem no filme – algumas delas absolutamente geniais (e isso dito por alguém que não é lá muito fã de dança, clássica ou contemporânea). Por fim, dos bailarinos que aparecem no filme, 13 fazem parte da Companhia de Dança Hofesh Shechter.

Para sorte do diretor Cédric Klapisch e do público, o talento de Shechter dá conta de todo o trabalho e, como resultado, o filme deve fazer pela dança o que “Amadeus” (1980), o filme de Milos Forman sobre Mozart, fez pela música clássica: transformar um tema da alta cultura em entretenimento para as massas. E fazer isso com elegância.

Coreografia

Numa das boas coreografias de “O próximo passo”, os dançarinos se organizam em casais e começam o número sentados no chão, com as costas de uma coladas na barriga do outro. Em cada par, a mulher está “morta” e o homem está vivo, e eles começam a se mover pelo chão mais ou menos como alguém resgata uma pessoa que se afoga: o homem passa o braço por baixo das axilas da mulher e, ao “remar” para trás usando o braço que está livre, ele carrega o corpo da mulher consigo. Esse é o primeiro passo de uma coreografia breve e comovente.

É uma pena que o roteiro do filme, bobo e ingênuo, não faz jus ao talento de Shechter e ao da atriz Marion Barbeau, que é bailarina da Ópera de Paris, uma das companhias de dança mais importantes do mundo. A sinopse no início deste texto dá conta de tudo que você precisa saber sobre a história. Mas, diferente das coreografias surpreendentes de Shechter, o roteiro é previsível (assinado por Klapisch e pelo escritor Santiago H. Amigorena, um argentino radicado em Paris que escreve uns dramalhões chorosos difíceis de ler).

Porque o roteiro é banal e sem inspiração, toda manobra tentada pelo filme tem o efeito oposto daquele que deveria ter. Assim uma cena supostamente engraçada acaba sendo constrangedora e triste (o personagem do fisioterapeuta ligado em terapias alternativas é uma barbaridade). Há até um dos pores do sol mais xumbregas da história do cinema. Enfim, tente se concentrar na dança porque ela vale a pena.

Onde assistir

“O próximo passo” está em cartaz no Cineplex Batel. Confira os horários das sessões aqui.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima