Olhar de Cinema começa com filme, festa e uma nova fase da cultura no Brasil

Cerimônia e filme de abertura criticam passado sombrio do país ao renovar esperanças de tempos melhores

A abertura do 12º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba foi em uma quarta-feira (14) tipicamente curitibana, no teatro Ópera de Arame. A escolha colocou emoções distintas em cena: a empolgação por ser a primeira vez que a largada do evento foi para mais de 1.500 pessoas, em um ponto turístico tão importante da cidade, e o receio sobre o sucesso da noite de estreia. 

O suspense terminou bem antes de cada um encontrar o seu assento. Ainda do lado de fora do teatro, as filas davam pista sobre se tratar de uma sessão bem concorrida e, para a surpresa de muitos (nos quais me incluo), nem o frio ou a chuva assustaram o público. A plateia estava lotada quando o diretor do Olhar de Cinema, Antonio Gonçalves Jr., começou seu discurso e confessou que o receio dele só acabou naquele exato momento. 

Ponto de virada

Em sua fala, Gonçalves Jr. explicou como foi o trabalho da curadoria e qual a personalidade de cada uma das nove mostras do evento e também dos filmes de abertura e encerramento da programação (já voltaremos a eles). Contudo, não foi só isso. O diretor deixou claro a importância da edição do festival deste ano pelo segmento do audiovisual estar diante de um ponto de virada, todos esperam que a história seja melhor daqui para frente. Principalmente lembrando das barbaridades que a cultura sofreu no Brasil nos últimos anos. 

Ele ressaltou a importância da reaparição de um personagem para os próximos capítulos do audiovisual brasileiro. É o Ministério da Cultura que voltou, para fazer par com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), que estava vivendo um papel inexpressivo no país e agora retoma suas forças. O papo não deixa de mostrar, mesmo que em segundo plano, críticas ao que vivemos recentemente. Aí fez todo sentido o filme que foi escolhido para a abertura do festival. 

Olhar de Cinema: Tudo que você precisa saber sobre o festival internacional de Curitiba

Filme “Casa Izabel”

O selecionado foi o curitibano “Casa Izabel” (2022), dirigido por Gil Baroni e com roteiro de Luiz Bertazzo. Como não poderia ser diferente, o público vibrou ao ver na tela um elenco cheio de nomes que muitos já viram nos palcos daqui ou cotidianamente nas ruas da cidade. Um bom número dos presentes na plateia eram realizadores do audiovisual, então ver colegas na telona que ocupou o palco da Ópera de ponta a ponta foi emocionante. Luís Melo está brilhante como sempre e Andrei Moscheto tem uma atuação surpreendente no longa-metragem, só para citar dois exemplos. 

Apesar do vínculo com a arte local, o tom da noite revelou outro fator determinante dessa escolha. O enredo de “Casa Izabel” fala de um refúgio fictício no Brasil dos anos 1970, onde homens da alta sociedade se encontram para encarnar mulheres em fantasias exuberantes, a trama de suspense também remete à ditadura, mas com um viés queer. Tem um olhar sarcástico sobre os tais cidadãos de bem e seus preconceitos, sobre os militares e a tortura, e sobre a falta de foco de quem deseja a volta de capítulos absurdos do nosso passado. O recado está dado, o que foi confirmado pelos aplausos ao final da sessão. 

Talentos promissores 

Mas a noite estava longe de acabar, ainda havia muito por vir. Foi então que começou a festa, na maior vibe de celebração pela chegada de uma nova fase. Muita alegria, um certo aperto para ir e vir, e esperança de sobra. Os próximos anos devem ser bons para o cinema de Curitiba, ao menos é o que todo mundo que esteve ali espera. No meio desse todo mundo, era notável o número de talentos que vestiam o seu melhor sorriso – jovens produtores, diretores, roteiristas, atores e técnicos que estão entrando no mercado cheios de sonhos e transbordando criatividade. 

Pelas cenas assistidas durante a abertura do 12º Olhar de Cinema, dá para acreditar que os novos capítulos da história do cinema nacional devem ser ótimos.

Serviço

O 12º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba acontece de 14 a 22 de junho de 2023. Serão exibidos 87 filmes, entre longas e curtas-metragens, nas salas do Cine Passeio e do Cineplex Novo Batel, além de filmes da mostra Pequenos olhares no Teatro da Vila (no CIC). Ainda serão exibidos, on-line e gratuitamente, diversos curtas brasileiros selecionados para o festival por meio de uma parceria com o Itaú Cultural Play, entre 20 de junho a 4 de julho. Outras informações sobre cada filme e a programação completa você encontra no site do evento.

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