Me fizeram ver “Ruptura” e agora a série não sai da minha cabeça

Obrigado, Paulo Biscaia. Você me viciou em "Ruptura", e agora tenho que esperar a segunda temporada em abstinência

Dizem que a maioria dos vícios começa assim, como se não fosse nada. No meu caso, ouvi o Paulo Biscaia Filho no podcast de cinema aqui do Plural falando que a gente devia dar uma chance para uma série chamada “Ruptura”, dirigida pelo Ben Stiller. Aquele Ben Stiller? Escrevi pra ele e falei: não, obrigado. O Paulo, que a essa altura já estava consumido pelo vício, teve a ousadia de defender o Ben Stiller. Achei engraçado, mas ficou nisso.

Uma noite, enquanto esperava a caçula dormir, fiz o que sempre faço. Peguei o celular e fucei os streamings para passar o tempo enquanto a baixinha rola na cama. Chamo isso de meu “Cineclube de um homem só”. E a bendita da série piscou pra mim. Pensei: ah, vai, o Biscaia é um cara que sabe o que fala. Vou dar uma chance.

A primeira cena já me pegou. Pra quem não viu, é o seguinte: tem uma mulher deitada em cima de uma mesa (não, seus pervertidos, ela está vestida). Você não sabe quem ela é e, aí vem a estranheza, ela também não. Uma voz numa caixinha de som faz perguntas e ela (depois de armar um barraco por não entender o que está acontecendo) descobre que não sabe responder. Onde ela nasceu? Qual seu nome? Onde ela nasceu? Qual era a cor dos olhos da mãe dela? Nada. Só uma pergunta ela consegue responder: diga o nome de um estado americano.

Um sujeito entra por uma porta e diz que, sim, ela teve um desempenho perfeito no teste. Uau. Eu já estava perdido (e nem sabia). Pensei que eu ia ter que ver a série, claro, mas que era uma coisa meramente intelectual, só afetava o neocórtex.

A premissa de “Ruptura” é bem racional mesmo: descobriram um jeito de você separar as memórias do trabalho e as da vida fora da firma. Uma empresa (claro, uma empresa do mal) começa a implantar esse chip na cabeça de alguns funcionários. E aí tem uma série de consequências que você vai se percebendo – cada pessoa vira na verdade duas, e a pessoa que vive dentro da empresa nunca sai. Quando o cara entra no elevador pra ir embora ele… puf. Some? Na real, não. É como se o dia lá fora não existisse e, no momento seguinte, ele está de novo no elevador e a porta está se abrindo para ele começar mais um dia de trabalho.

Uau.

A Gabi dormiu e eu levei o celular pra cama. Aí eu comecei a ver que a coisa toda era mais complicada. Que ao acompanhar aqueles quatro personagens de um dos departamentos da empresa do mal você estava também seguindo uma trama. Quatro vidas, que na verdade eram oito. E uma das personagens começa a pirar que quer sair daquilo de qualquer jeito, aquilo para ela é tortura. E, meu, ela começa a ameaçar a versão dela que mora fora da empresa: “Se você não assinar minha demissão eu decepo os teus (meus) dedos”.

Já nem era mais o neocórtex. Eu estava viciando rapidinho e todo babando adrenalina. E, rapaz, pra quem tem trabalho e três filhos pequenos não é fácil arranjar tempo de ver série, sabe? Mas essa eu vi em tempo recorde (para os meus padrões).

Comecei a ficar ansioso pra chegar a hora em que consigo ver série, de noite. A criançada não queria dormir… Problema deles! Todo mundo pra cama que o papai aqui precisa da dose diária de “Ruptura”.

E aí o fenômeno foi acelerando e descobri que tinha outras coisas naquele roteiro. Tramas paralelas, romances, mortes, mortes?, gente que começa a ter relacionamento na firma e não sabe disso do lado de fora, e por fim um confronto entre os funcionários do lado de dentro e a firma do mal.

Eu estava parecendo uma daquelas pessoas que veem novela e que, entre um capítulo e outro, vai conferir no jornal o resumo para saber o que vai acontecer no episódio do dia. “Marquinhos vai à casa de Mateus Jorge e descobre Deusiane nos braços de outro.” Tipo isso.

Comecei a ler como um bocó sites que tinham teorias sobre quem estava escondendo o quê, sobre os segredos de cada personagem. Pior, descobri que o Irinêo, aqui do Plural, também assistia e estava no mesmo capítulo – e nossas mensagens começaram a dizer coisas como: “Você viu o que a fulana fez!?!?”.

Terminei a primeira temporada numa mistura de êxtase e diversão. Absolutamente narcotizado. E aí veio o pânico. Vai ter uma segunda temporada? Sim! Mas só daqui a um ano! E agora, como faz? Paulo, o que você fez comigo? Volta Ben Stiller, nunca te critiquei.

Onde assistir

“Ruptura” está em cartaz na Apple TV+.

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Me fizeram ver “Ruptura” e agora a série não sai da minha cabeça”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima