Reunir quatro iluminadores no mesmo espetáculo é uma façanha e tanto. Mas é exatamente isso o que conseguiu o idealizador do monólogo “Lusco-fusco”, Wagner Corrêa, ator e desenhista de luz premiado (ele foi indicado ao Prêmio Gralha Azul do Teatro Paranaense oito vezes e levou três desses troféus para casa, além de ser um dos poucos nomes de nosso estado que já foram selecionados para o World Stage Design, na Korea).
Os outros três que se lançaram na missão de ofuscar a plateia com uma obra teatral são Nina Rosa Sá, que deu luz ao texto; Nadja Naira, que empresta seu brilho à direção; e Beto Bruel, no papel em que se sente mais confortável – o de criador da luz. No centro do palco, é Corrêa quem dá vida a um comediante debochado encarando o público.
Temática
Tal façanha se justifica pela temática de “Lusco-fusco”. É quase óbvio, porém é bom esclarecer: o enredo usa a história da luz para falar sobre a natureza humana. Para tanto, passa pelas simbologias refletidas nesse fenômeno da física ao longo do tempo, vai das interpretações religiosas até os fatos científicos.
Entre as referências da montagem, estão a pintura de Peter Paul Rubens e o cinema de Robert Eggers. Os dois artistas possuem trabalhos sobre o mito de Prometeu (herói que rouba o fogo dos deuses) com concepções de luz contrastantes. “Por si só, já seria muito interessante comparar as duas representações de um mesmo mito com séculos entre elas. Mas o filme “O Farol” [de Robert Eggers, produzido em 2019] é essencialmente a sua fotografia”, explica a diretora.
Uma iluminação
A inspiração veio da vida. Corrêa começou a lidar com a iluminação dos palcos há mais de 20 anos e ainda estudou artes visuais, precisamente, passou a estudar cada vez mais a luz. De lá para cá, a agenda sempre esteve concorrida e seu nome apareceu em fichas técnicas ora como iluminador, ora como ator, e até nas duas funções. Ele, por exemplo, criou a luz e esteve no elenco da peça “Circo de Curiosidades do Dr. Lao” (2022), da companhia Vigor Mortis, com uma bela interpretação no papel de Apolonio.
Sabendo desse trânsito frequente entre bastidores e palco, é curioso ouvir Corrêa qual é a grande motivação por trás de “Lusco-fusco”. “Eu sempre gostei muito de estar em cena, mas a luz me puxou para outros caminhos, agora quero retomar o trabalho como ator com mais frequência”, diz ele.
O artista ainda explica que, para transformar essa vontade em ação, a ideia inicial era fazer uma peça de teatro sobre iluminação cênica, enveredando para as artes visuais. Vieram os sete meses de trabalho para dar conta do processo de criação e – durante uma conversa entre Corrêa, Nina, Nadja e Bruel – como que num relâmpago, tudo ficou claro: “Lusco-fusco” é sobre a luz. E falar da luz é falar de tudo, falar da vida e falar da morte, mesmo que a gente não se dê conta disso”.
Espetáculo teatral “Lusco-fusco”
Temporada de 1º a 18 de junho, quinta a sábado, às 20 horas, domingos, às 19 horas, no Teatro da Caixa Cultural (Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Centro). Ingressos gratuitos distribuídos a partir de uma hora antes da apresentação. Outras informações, aqui.