Luana Navarro e a exposição de uma palavra só

Exposição no Museu Paranaense abre neste domingo depois de anos de "arte de guerrilha"

A artista visual Luana Navarro descobriu uma palavra de ordem em 2018, no meio da crise política em que o país se enfiou com a ascensão do bolsonarismo. Assim como outros diziam “Ninguém solta a mão de ninguém”, ela apelava para um bordão mais simples e curto: “Procurem-se”.

Durante muito tempo, a palavra, escrita em branco sobre um fundo vermelho, circulou como adesivo por aí, numa espécie de arte de guerrilha. As pessoas batiam o olho naquele slogan em orelhões, paredes, muros, e ganhavam algo em que pensar.

Agora, uma versão gigantesca da obra está sendo instalada no Museu Paranaense. A exposição abre neste domingo, e o Plural conversou com Luana. Professora da PUC e uma das fundadoras da Alfaiataria, ela conta por que quer que todos procurem uns aos outros.

De onde surgiu a ideia do “Procurem-se”?

O trabalho existe desde 2018 e foi criado a partir do resultado do primeiro turno das eleições para presidente do Brasil. Depois de viver aquela cena inacreditável, que apontava a vitória do Bolsonaro, a palavra começou a me atravessar como um imperativo, um chamado, um apelo. A partir disso elaborei um adesivo no tamanho 28x8cm que passei a distribuir e a colar pela cidade. De lá para cá, já me deparei com o adesivo PROCUREM-SE em lugares e contextos inusitados.

Você começou com adesivos, uma coisa meio de guerrilha. E parece que pra essa mensagem isso é bem bacana, certo? Porque pega a pessoa desprevenida. Não parece “arte de museu”, e sim algo diferente…

É isso mesmo, o primeiro formato do trabalho acontece fora das instituições de arte, ele surge como uma espécie de revide político, como diz a Julia Raiz no texto que escreveu sobre o PROCUREM-SE, e pra mim era isso mesmo. Era urgente o trabalho estar nas ruas, nas esquinas, nas casas das pessoas, em lugares inusitados e era importante as pessoas se apropriarem dele e fazerem a palavra ecoar por aí. Eu mesma fui pega desprevenida pelo trabalho em diversas situações. Vi um entregador de água cruzar a praça Santos Andrade com o adesivo colado em sua bike, me deparei com o adesivo colado no espelho do banheiro do consultório de uma psicanalista, encontrei o adesivo também rodando na parte traseira de um carro e em muitos outros lugares. É muito interessante ver como as pessoas significam essa palavra.

Por que a ideia agora de fazer isso num museu? Qual a diferença de impacto da mensagem?

Eu pensei o novo formato do trabalho a partir da vitrine do MUPA, esse é um museu que me interessa muito por sua programação e pela forma como tem apresentado os debates da arte contemporânea entrelaçados com um contexto mais histórico, mas que justamente tensiona as possibilidades de reescritas de narrativas sociais e políticas a partir do campo da arte. Para mim faz sentido expor neste lugar, e faz sentido expor este trabalho ali. Para a ocupação da vitrine eu proponho uma mudança na escala do trabalho, de modo que ele ocupe toda a parede através de uma pintura de 13 metros. Além de sua instalação em dimensões que remetem a um outdoor, serão distribuídos também durante o período expositivo 1.500 exemplares do adesivo. Acho que há agora uma nova provocação com a obra, existir dentro de uma instituição museológica é assumir que o trabalho será atualizado pelo contexto do museu. Há um existir dentro e fora, se a existência via escala de outdoor terá uma interdependência conceitual e discursiva com o entorno do que se apresenta nas demais salas expositivas, o adesivo ao ser distribuído segue propondo uma ação para além do museu e assim, também, uma atualização do que pode ser a existência dessa palavra no espaço público.

Como isso se encaixa na tua obra?

Desde 2016 meus trabalhos foram tomando contornos cada vez mais políticos, acho que isso é um reflexo dos tempos que vivemos e do contexto que é fazer arte no Brasil. Eu trabalho com várias linguagens e suportes, passando por fotografia, performance, vídeo, para mim o suporte e a linguagem vão se delineando justamente a partir de uma questão que está ali pulsando. Meu processo é muito múltiplo e acho que o PROCUREM-SE é mais uma proposta que, como outras propostas, me conecta com pessoas e com outras artistas. Na execução da pintura no MUPA tive o prazer de trabalhar com a artista Cris Pagnoncelli, muralista que vive em Curitiba, e com quem dividi esse momento de montagem. Acho que fazer arte me leva quase sempre por caminhos que proporcionam a criação de redes de colaboração e afeto, de algum modo o PROCUREM-SE tem isso também.

Serviço:

“PROCUREM-SE”, por Luana Navarro
Proposta contemplada no III Edital de Ocupação do Espaço Vitrine
Abertura: domingo, 24/09, às 11h
Entrada gratuita
Museu Paranaense: Rua Kellers, 289, São Francisco – Curitiba

Sobre o/a autor/a

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