Exposição faz importante reverência a artistas e personalidades LGBTI+

"Memórias da (r)existência LGBTI+ no Paraná" está em cartaz no Museu da Imagem e do Som para combater a discriminação com história e arte

Está em cartaz no Museu da Imagem e do Som do Paraná (MIS-PR) “Memórias da (r)existência LGBTI+ no Paraná”, mostra realizada pela instituição em parceria com o Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott do Grupo Dignidade (Cedoc LGBTI+), e colaboração técnica do Acervo Bajubá.  

A exposição celebra a história de personalidades e a produção artística de integrantes da população lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e intersexo (LGBTI+). O acervo apresenta peças do Museu de Arte Contemporânea do Paraná, do Museu da História da Medicina do Paraná e da Biblioteca Pública do Paraná, e também itens reunidos pela curadoria da mostra, passando por temas como o discurso médico, os movimentos sociais, a luta contra o HIV, e a produção cultural e artística da minoria. 

Para a designer de moda e drag queen Brigitte Beaulieu, a mostra é importante tanto por destacar nomes da história LGBTI+ em Curitiba e no Paraná, a exemplo da travesti Gilda, e também personalidades do momento presente. “No caso das drags, nós que estamos ali, é uma homenagem em vida. Isso é gratificante”, diz. Beaulieu cedeu um look completo para a exposição e participou da confecção de um estandarte em homenagem à Gilda, que está no acervo. 

Museu da Imagem e do Som

Em entrevista ao Plural, a diretora do MIS-PR, Mirele Camargo, destacou o valor de abrir as portas do museu para uma mostra de cunho inédito no Paraná. A proposta partiu do Grupo Dignidade e foi acolhida pelo museu devido à importância do tema, que conversa com a personalidade do espaço. “A bandeira da gestão do museu é tratar de todos os temas, principalmente os que são destratados pela sociedade; nós temos a obrigação de não apagar nenhum tipo de imagem nem fechar portas para isso”, diz ela. 

Conforme a diretora explica, os curadores de “Memórias da (r)existência LGBTI+ no Paraná” foram escolhidos pelo Grupo Dignidade. Os quatro integrantes são Alberto Schmitz II (Coordenador do Cedoc LGBTI+ do Grupo Dignidade), Alex Godoy Padilha de Souza e Maria Victória Ribeiro Ruy (residentes técnicos do MIS), e Remom Matheus Bortolozzi (pesquisador do Acervo Bajubá – projeto comunitário de registro de memórias das comunidades LGBT+ brasileiras).

Polêmica

Apesar da iniciativa ser fundamental para a luta pela representatividade e quebra de preconceitos, algumas escolhas da curadoria foram colocadas em xeque. Por meio de postagem no Instagram, Flecha Lemes, da Machorra Edições Piratas, deixou claro seu descontentamento com a falta de identificação de suas obras no acervo da exposição. Um dos pontos principais levantados é de que se trata de uma mostra para celebrar a memória LGBT+.

Ao Plural, Flecha contou o que viu durante a visita que fez ao museu no domingo (21). “Minha arte [três zines/livretos] estava exposta dentro de uma cuba de vidro com dois outros livros e uma placa de identificação de uma das obras somente, a de Anderson Herzer”, explicou afirmando que outros materiais de artistas locais estavam devidamente identificados. 

Flecha considera que houve descuido da organização do evento com os materiais e também com os artistas, que foram desvalorizados. Fora a devida identificação das obras, o que cobra é uma retratação pública das entidades envolvidas. O Acervo Bajubá prontamente atendeu ao pedido, porém o MIS e o Grupo Dignidade não, conforme afirma.

Em um dos comentários da postagem de Flecha, outra artista declara que aparece em fotos expostas e não foi identificada. Na postagem do Instagram do MIS sobre o evento, também existem vários comentários indignados sobre a falta de identificação de artistas e pessoas. Contudo, a diretora do MIS não considera um caso para retratação, mas de adequação por não se tratar de um erro, foi uma opção curatorial. 

Nota dos curadores

Em resposta à solicitação de posicionamento sobre o caso, os curadores enviaram a seguinte nota. 

“Nós, da equipe curatorial da exposição “Memórias da (r)existência LGBTl+ no Paraná”, pedimos desculpas para u artista Flecha Lemes pela exibição sem devida identificação de seus zines, expostos na vitrine dedicada às obras literárias de autoria LGBTI+ paranaenses, durante esta primeira semana de público da exposição. A legenda será prontamente confeccionada para que possamos corrigir a falta o mais breve possível. Uma legenda cujo conteúdo foi mal elaborado também já foi retirada da exposição; enquanto as demais serão revisadas. Estamos sinceramente entristecidos com o ocorrido, com os efeitos do nosso erro e com os ruídos de comunicação. Consideramos o trabalho de Flecha Lemes de significativa importância, e por esse motivo o selecionamos para a vitrine. Agradecemos u Flecha e o Arquivo Lésbico Brasileiro pelas pontuações.

“Não foi, em nenhum momento, nossa intenção reproduzir apagamentos e subalternidades que há muito permeiam a comunidade LGBTI+. Porém, sabemos que responsabilidades se fazem de consequências, e não de intenções. Reforçamos nosso compromisso para com a visibilidade e reconhecimento de artistas, ativistas e pesquisadores LGBTI+. Foi com esse objetivo em mente que elaboramos e montamos a exposição. 

“Ressaltamos que a exposição conta com obras e peças de acervos públicos ou comunitários. Artistas ou curadores não receberam remuneração.  

“Alex Godoy Padilha de Souza, Alberto Schmitz II, Maria Victória Ribeiro Ruy e Remom Matheus Bortolozzi.”

Acervo Bajubá

Durante a apuração desta reportagem, recebemos carta aberta dos responsáveis pelo Acervo Bajubá oficializando o desligamento da instituição da exposição e retirada dos 53 itens que emprestaram para o acervo da mostra. O documento completo pode ser conferido aqui

Serviço

Exposição “Memórias da (r)existência LGBTI+ no Paraná”, até 17 de setembro no Museu da Imagem e do Som do Paraná (Rua Barão do Rio Branco, 395 – Curitiba). Entrada gratuita.

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