A noite cai fria pela XV, às 21 horas do dia 30. Caetano Veloso logo trata de esquentá-la com sua presença, que entra pelos sete buracos de um Guaíra aplaudindo de pé. Um trecho de “Avarandado”, do primeiro álbum, introduz “Meu Coco”, faixa-título do último. São 50 anos em 50 segundos.
As viagens continuam. Novamente acomodado nos aveludados assentos em vermelho, o público canta junto “Sampa” e “Muito Romântico”, e ouve atentamente aos versos da inédita “Não Vou Deixar”: “apesar de você dizer que acabou/ que o sonho não tem mais cor/ eu digo e repito: eu não vou!”. Quem diria que haveríamos de resgatar o “Apesar de Você”, depois de tantos anos…
Quem diria que, depois de ouvir sobre o exílio que inspirou a clássica “You Don’t Know Me”, Curitiba gritaria a plenos pulmões pela saída de Bolsonaro e pela volta de Lula. Caetano sintetiza nosso sentimento: “como é bom ouvir isso, aqui”.
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Constantemente ovacionado, ele desata a dançar e a contar histórias. Ele diz ter saudade de Curitiba. É recíproco. Mas a saudade é apenas física. Não temos saudade de um Caetano que já foi, pois Caetano é. E nos mostra ali que nunca deixou de ser.
Prova disso é a segunda metade do concerto, em que a plateia o acompanhou tanto em sucessos do passado — “Leãozinho”, “Cajuína”, “Reconvexo”, “Menino do Rio” — quanto na novíssima “Sem Samba Não Dá”. Certa hora, o maestro regeu seu coro, a plenos pulmões, a gritar “a Bossa Nova é Foda!”, presente no refrão da música de mesmo nome, também lançada recentemente.
Na reta final, a banda é apresentada. “Nenhum é baiano, menos aquele ali, que é mais baiano do que eu. E olha que eu sou baiano há 80 anos!”, diz, apontando para o percussionista Kainã do Jêje. Kainã pode até ser mais novo e mais baiano, mas não mais jovem. Com todo o vigor, vitalidade desenvoltura e afinação ímpar, Caetano nos deixa convicto de que ainda é um menino.
Pra fechar de vez, um bis pouco usual: a explosiva e inconfundível “Odara”, em meio a duas canções pouco conhecidas: as mansas “Mansidão”, gravada por Gal Costa no álbum Recanto, de 2011, e “Noite de Cristal”, lançada agora em Meu Coco. Só um gigante desses pra encerrar um show assim.
É, Caetano, você que é foda.
Público de esquerda aplaudindo um burguês que não faz show de graça nunca.
Parabéns pelo texto, Guilherme!
Jornalismo da melhor qualidade: realista e inspirador ao mesmo tempo!
Bela resenha. O show de domingo repetiu a manifestação, o repertório e a emoção. Mais uma sessão foda para aquecer o nosso necessitado coração vagabundo!
. Não temos saudade de um Caetano que já foi, pois Caetano é. E nos mostra ali que nunca deixou de ser.👏🏼👏🏼👏🏼
Show maravilhoso, a afinação de Caetano é impressionante, presença de palco incrível, em fim Caetano é foda mesmo🥰🤩
Caetano não é só baiano, Caetano é muito brasileiro! Deus continue abençoando você!
Eu amei o texto! Me deu uma vontade imensa de assistir o show. Fora Bolsonaro!!
Assino embaixo. Caetano é foda. E o texto ficou à altura do que foi o show.