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O filme “Bem-vinda, Violeta!” adapta o romance “Cordilheira” (2008), de Daniel Galera. Na história, uma escritora chamada Ana (Débora Falabella) viaja até um lugar isolado na Patagônia argentina – com a Cordilheira dos Andes no horizonte – para participar de um retiro de escritores bastante peculiar.
Quem comanda a oficina de escrita é Holden (o argentino Darío Grandinetti), um escritor excêntrico que não escreve há bastante tempo. A cena que abre o filme mostra um sujeito queimando uma quantidade grande de livros. Mais tarde ficamos sabendo que esse sujeito era Holden e que os livros queimados eram o seu último trabalho.
“Bem-vinda, Violeta!”
Considerando que “Bem-vinda, Violeta!” fala de literatura e de escrita, e principalmente da dificuldade de escrever, dá para supor que Holden – um nome estranho para um argentino – veio do personagem Holden Caulfield, o protagonista de “O apanhador no campo centeio”, de J. D. Salinger (ele mesmo um escritor excêntrico que se isolou do mundo e deixou de publicar livros).
A oficina de Holden, como ele bem explica, recebe escritores que se sentem inseguros com aquilo que escrevem. Eles estão ali para melhorar seus livros, para vencer bloqueios e concluir histórias. Ana tem uma história para contar e não sabe muito bem o que fazer com Violeta, a sua personagem.
Débora Falabella
Para Ana e os outros alunos, Holden sugere uma série de exercícios bizarros, como ouvir os outros falarem do seu texto sem poder responder às provocações. Mas o exercício mais violento de todos é aquele que obriga os escritores a abandonar suas identidades para assumir o papel de seus personagens.
Holden quer que seus alunos sejam os personagens. E não apenas escrevam sobre eles. É como se ele pedisse, basicamente, que os escritores virassem atores.
Assim cada pupilo assume uma personalidade diferente e Ana, insegura e tímida, se torna Violeta, confiante e agressiva.
Como se trata de um suspense, o exercício vai se tornando cada vez mais extremo e as coisas, claro, não podem acabar bem.
Darío Grandinetti
Darío Grandinetti, que já chegou a trabalhar com Pedro Almodóvar, parece dar vazão a um lado mais canastrão ao interpretar Holden. Talvez seja uma característica do personagem: o professor grandiloquente que faz perguntas como uma espécie de líder de culto. Isso acontece na cena em que ele pergunta para Ana, que tem asma: “Você tem asma?”. E ela responde que tem. E ele começa a gritar: “Você tem asma?!”. (A ideia aqui é que ela “deixasse de ser” Ana para “se tornar” Violeta.)
Sem dúvida, Débora Falabella é o trunfo do filme. Ela é boa como Ana, mas é ainda melhor como Violeta. Sem fazer estardalhaço, ela dá conta de criar duas personagens com características e problemas distintos.
Ao longo do filme, a direção do paulistano Fernando Fraiha, que assina o roteiro com Inés Bortagaray, vai se tornando mais e mais claustrofóbica, como a de outros filmes de terror psicológico (“O Inquilino”, de Roman Polanski, é um bom exemplo disso). Mas com uma fotografia mais escura e úmida, que faz jus à paisagem de Ushuaia, onde as filmagens ocorreram.
Onde assistir
“Bem-vinda, Violeta!” estreia nos cinemas nesta quinta-feira (4). Em Curitiba, o Cine Passeio vai exibir o filme.