“Apresentando os Ricardos” é um título horroroso para um filme excelente

O seriado “I Love Lucy” era uma baita instituição americana. Dizem que a audiência batia em 60 milhões de pessoas – e isso nos anos 50, quando a tevê ainda era uma novidade. Hoje, com tantos canais, um índice desse […]

O seriado “I Love Lucy” era uma baita instituição americana. Dizem que a audiência batia em 60 milhões de pessoas – e isso nos anos 50, quando a tevê ainda era uma novidade. Hoje, com tantos canais, um índice desse tipo seria impossível. Lucille Ball era a grande estrela da televisão, adorada pelo país inteiro. E aí descobriram que ela tinha assinado uma ficha no Partido Comunista.

“Apresentando os Ricardos” é um título horroroso para um filme excelente. O roteiro começa no momento em que Lucille e o marido (seu produtor e parceiro no programa) ficam sabendo que o escândalo vai estourar. Os Estados Unidos, em plena Guerra Fria, viviam o macarthismo, e o rótulo de comunista era capaz de acabar com a carreira de qualquer um. Inclusive de Lucille Ball.

Nos primeiros minutos do filme, todo mundo diz que aquela semana, entre a exibição de um episódio e a gravação do próximo, foi apavorante. Até porque houve mais dois possíveis escândalos simultâneos: um tabloide divulgou que o marido estava traindo Lucille Ball; e ela também ia revelar para os patrocinadores que estava grávida (na época, mulher grávida era tabu na tevê, e o programa poderia ser cancelado).

O roteiro e a direção são de Aaron Sorkin, o mesmo de “Uma questão de honra” e de “Os sete de Chicago”. E funciona à perfeição. Nicole Kidman está irreconhecível no papel principal. E Javier Bardem ficou sensacional no papel de Desi, o marido talentoso e fanfarrão da estrela.

Curiosidade

A história da ligação de Lucille com o comunismo é curiosa. O marido insiste em tentar explicar que ela “marcou um X no quadradinho errado”, e que nunca teve tendências esquerdistas. Mas ela diz que não – e se recusa a passar por uma ignorante que não sabia o que estava fazendo. A explicação que ela dá é que seu avô de fato acreditava que o socialismo melhorava a vida dos trabalhadores e que ela assinou a ficha em homenagem a ele. Mas, fora isso, nunca teve atuação no partido.

Embora registre a tensão dessa semana crucial para o programa, o filme retoma toda a história dos personagens principais em flashbacks – mostra Lucille praticamente acabada para o cinema e tendo de se contentar com o rádio, antes de chegar à tevê; mostra o marido fazendo filmes B até se casar com a estrela e ela impor seu nome na CBS.

Sorkin sabe fazer suas histórias andarem rápido e manter a tensão no ar. Curiosamente, para fechar a história, ele acaba usando como “herói” o chefão do FBI na época, J. Edgar Hoover – um sujeito que tem tudo a ver com o personagem intragável de Jack Nicholson em “Uma questão de honra” e até com o juiz manipulador de “Os sete de Chicago”.

Nicole Kidman, que já ganhou um Oscar por interpretar a escritora Virginia Woolf em “As Horas” (2002), tem tudo para levar pelo menos uma indicação neste ano. E o filme tem méritos suficientes para emplacar pelo menos uma indicação nas categorias principais.

Streaming

“Apresentando os Ricardos” está em cartaz na Amazon Prime Video.

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