Todo mundo deveria ter um professor como Bachmann

Em cartaz na MUBI, “Mr. Bachmann and His Class” fala sobre o impacto que um bom professor pode ter na vida de uma pessoa

A cidadezinha de Stadtallendorf, na Alemanha, tem uma população pequenininha, mas bastante diversa. Entre os 20 mil e poucos habitantes, há imigrantes de países como Azerbaijão, Marrocos e Turquia. E essa diversidade se reúne e tenta conviver em um espaço bastante simbólico: a sala de aula do professor Dieter Bachmann. Ele é tema do documentário “Mr. Bachmann and His Class”, em cartaz na MUBI.

Um senhor sessentão que curte usar camiseta por cima do moletom de capuz, e um gorro que não tira para nada, Bachmann é (ou foi) meio punk, um membro da contracultura. Alguém que não parece disposto a aceitar as regras impostas pelo sistema. O interessante é que ele achou uma forma peculiar de extravasar esses impulsos: como professor.

Mr. Bachmann and His Class

Talvez o mais comovente no documentário de Maria Speth – além dos alunos, um mais marcante do que o outro – é o senso de decência de Bachmann. É razoável supor que essa é a principal regra, a maior de todas, que ele não se importa de seguir. Todos os adolescentes da turma sob sua responsabilidade merecem ser tratados igualmente. E essa é uma forma incrível de educar uma criança.

Baseado nisso, Bachmann ouve o que os jovens têm a dizer. Todos estão na sexta série e têm mais ou menos 13 anos. O professor demonstra uma paciência extraordinária com eles, se interessa por eles, respeita os dramas familiares que cada um vive.

E os dramas existem. Há uma menina na turma que mal consegue falar. Quando é levada a participar de uma conversa qualquer, ela começa a chorar. Bachmann, com muito tato e experiência, consegue lidar com a situação de maneira exemplar. Ele não só ajuda a menina que se sente acuada, como faz a turma respeitar a dificuldade que ela sente.

A fluência de cada um no alemão varia. Pelas regras (elas, de novo) do ensino na Alemanha, cabe a Bachmann decidir o futuro acadêmico dos jovens. Ele escolhe, por exemplo, quem está pronto para seguir com os estudos, ou quem precisa aprender melhor o alemão, ou ainda quem deve se dedicar a um curso técnico porque não tem talento nenhum para a vida acadêmica.

“Mr. Bachmann and His Class” abre mão de entrevistas formais, então os personagens não falam direto para a câmera. Maria Speth, que coescreveu o roteiro com Reinhold Vorschneider, de maneira engenhosa dispensa a narração (algo bastante comum em documentários de natureza, como no Discovery Channel).

Além disso, Speth e Vorschneider não estão preocupados com a trama. Por estranho que pareça, muitos documentários apostam todas as suas fichas na trama, apesar de serem filmes de não ficção. É assim que ocorre em séries de true crimes, ou crimes verdadeiros, que reconstituem casos de polícia e abundam na Netflix.  

Mosquinha na parede

No caso de “Herr Bachmann und Seine Klasse” (no título original), o público é como a mosquinha na parede. Fica lá acompanhando o que acontece ao longo do último ano do professor prestes a se aposentar. Ouve as discussões com os alunos, acompanha as conversas com os pais. De certa forma, é como se o público estivesse ocupando uma das carteiras da sala, participando.

É um documentário que diz muito sobre o que é ser professor e sobre o impacto que um bom professor pode ter na vida de uma pessoa. Todo mundo deveria contar, em algum momento da vida, com um professor como herr Bachmann.

Onde assistir

“Mr. Bachmann and His Class” está em cartaz, com exclusividade, na MUBI. O filme foi escolhido pelo jornal “The New York Times” como um dos mais importantes deste ano. Não se assuste com as 3 horas e 37 minutos de duração (você pode encará-las como se fosse uma série de sete episódios com 31 minutos cada um).

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