Querido diário: quando a pandemia acabar – e precisamos repetir, a cada dia, que ela vai acabar – vou ter que convidar pessoas a irem ao teatro. Talvez alguns, desacostumados ou desmemoriados, vão me perguntar “o que é teatro mesmo?” e eu serei obrigado a explicar:
– É como se fosse uma LIVE, mas você está no mesmo local que a pessoa.
– Vixe… precisa estar lá? Não posso ver depois, num outro horário, enquanto estiver cagando?
– Não… Não funciona assim. Foi tudo preparado para que você tivesse essa experiência humana ali, ao vivo, a gente respirando junto, sabe?
– Sei… E eu posso pedir pra dar pause, se eu quiser pegar uma água?
– Não… Veja, o evento não é só pra você , então não tem pause, ele continua!
– Claro, que nem nas LIVES!
– Isso!
– Eu posso dar pause quando assistir depois.
– Não tem depois!
– Ué, por que não? Bom, tudo bem, vai… Também não vou ser tão chato. Afinal, é de graça.
– Não… Você tem que pagar pra ver!
– O quê? E se eu não gostar? Como eu faço pra desligar?
– Você sai do teatro. E pode pedir seu dinheiro de volta, é um direito seu.
– Ok, é que eu posso estar de mau humor na hora… Bom, e qualquer coisa, também, eu vejo depois, né? Quando eu puder pausar!
– Não tem DEPOIS!
– Orra, difícil esse negócio de teatro, né?
Querido diário: éramos mais vivos antes das LIVES