Por que Curitiba demorou tanto para avançar na vacinação da Covid-19 por idade?

Informações coletadas no site da prefeitura podem explicar esse atraso

O calendário vacinal contra a Covid-19 em Curitiba foi largamente criticado pela demora com que a cidade tem aberto novas faixas etárias na vacinação. Quando comparamos Curitiba com outras cidades da Região Metropolitana ou com as demais capitais, isso pode ser constatado: enquanto estamos vacinando a população de 33/32 anos (depois de um longo hiato no avanço das doses), vemos cidades como Recife já na faixa dos 28 e Porto Alegre vacinando 29 anos.

A prefeitura chegou a justificar esse atraso questionando a proporcionalidade na distribuição das doses pelo estado do Paraná, o que ainda não foi comprovado pelo Ministério Público. Então por que Curitiba continua sem conseguir acompanhar o ritmo das demais capitais?

Tentando descobrir isso, me debrucei sobre as informações da vacinação Covid-19 disponíveis no site da prefeitura de Curitiba. Também comparei diferentes versões do Plano Municipal de Imunização, a de janeiro e a de julho, para entender quais foram as adaptações que a gestão fez no decorrer do calendário. O resultado dessa análise são algumas descobertas que compartilho a seguir.

O primeiro ponto é que Curitiba calculou muito mal a população estimada pertencente aos grupos prioritários, o que pode ter colaborado para que a cidade tenha sido preterida no recebimento de doses durante as primeiras fases da imunização.

Um exemplo foram as equipes dos setores que atendem Covid dentro dos hospitais de referência. Em janeiro, essa população estimada estava em 12 mil pessoas. Entre as que trabalham na UPA e SAMU, eram 2.500, totalizando 14.500 pessoas. Mas, em julho, o plano aumentou esse número para 19.360, incluindo os trabalhadores da UPA, SAMU e SIATE, clínicas de diálise e serviços de oncologia.

Ou seja: além do aumento na população estimada, vemos alterações também nos critérios de inclusão desses agrupamentos, o que gera dificuldades no entendimento desses dados.

Outro exemplo dessa confusão está na estimação dos estudantes de cursos da saúde. Em janeiro, essa população sequer tinha sido contabilizada, mas, em julho, passou de zero para cinco mil. Diante disso, pergunto: se essas pessoas sempre existiram, por que não foram contabilizadas desde o início do calendário?

Esses estudantes podem ser vacinados porque atendem em clínicas de emergência e urgência. Tem direito como os profissionais e trabalhadores da saúde, ou de qualquer profissão que atue na linha de frente. Mas por que isso não aconteceu com fisioterapeutas e nutricionistas que atuam cara a cara com a Covid, às vezes dentro de UTIs?

Esse inclusive é outro ponto: até hoje os Conselhos de Nutrição, Fisioterapia, Assistência Social e Psicologia demandam vacinas. A prefeitura poderia ter ajudado esses conselhos a definirem critérios de prioridade mais compatíveis com a prática. Quem atua na linha de frente deveria ter sido vacinado antes, certo? Mas não foi o que aconteceu.

Há ainda outra questão que gerou importantes dúvidas. Em 10 de junho, o site da prefeitura informava que a população estimada de trabalhadores da saúde era de 89.801. Em 30 de julho, esse número tinha saltado para 92.801 pessoas. Além disso, o número de primeiras doses registradas para essa categoria foi superior ao número de profissionais estimados: utilizamos 97.718 primeiras doses para 92.801 pessoas. Por que estão sendo destinadas mais doses do que o indicado?

Já pedimos uma reunião de esclarecimentos com a Secretaria de Saúde pela Frente Parlamentar de Vacinação da Câmara Municipal, mas até agora não tivemos resposta.

Enquanto a prefeitura segue sem se dispor ao diálogo, a população fica cada vez mais ansiosa, convivendo com o que me parece ser uma brutal falta de planejamento e capacidade de gestão.

Já contabilizamos mais de 500 dias desde o início da pandemia de Covid-19 e ainda temos um longo caminho pela frente. Só poderemos retomar nossas atividades com baixo risco de contágio se houver vacina e transparência na gestão. Por enquanto, seguimos sentindo falta dos dois.

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