Desde o início da pandemia, somos bombardeados com notícias desoladoras. As mais terríveis com os dados de milhões de mortes pelo mundo. Também acompanhamos a derrocada da economia, a falência de milhares de negócios, a queda na renda, o desemprego e a fome. Uma tristeza às vezes velada, nos acompanhando em vários momentos.
Por isso, é tão especial quando vemos o inverso, as boas novas, o avanço das vacinas, o número de recuperados ou um exemplo de superação. Há muito tempo eu não acompanhava uma história tão bacana como a que tive oportunidade de conhecer recentemente. Uma conjunção de fatores positivos capaz de encher o coração.
Você consegue imaginar, em meio a tantas dificuldades que estamos vivendo nos últimos tempos, empresários abrirem mão de máquinas que poderiam diminuir o custo e acelerar a produção para ajudar pessoas? Pois é isso que está acontecendo bem pertinho de nós, em uma fábrica de prendedor de roupa em São José dos Pinhais.
Sabe quantos grampos eles produzem por dia? Um milhão. E o mais fantástico é que conseguem isso ajudando mais de 5.000 famílias. Elas recebem em casa a matéria-prima (madeira já cortada, arame, insumos) e entregam por semana cerca de 20 mil prendedores prontos para venda.
A empresa é a Multilan, iniciativa de um jovem contador e um bancário aposentado. Uma ideia de negócio com um viés social muito importante. Afinal, eles contam que existe uma máquina capaz de finalizar mecanicamente os prendedores com um custo 60% menor de produção. Mas e como ficariam essas pessoas?
A imensa maioria da mão de obra é de mulheres (98%). Com o trabalho elas conseguem melhorar a renda da família, ter uma ocupação e cuidar dos filhos. Quantas mães perderam seus empregos exatamente por não terem com quem deixar os pequenos, que ficaram meses sem as aulas presenciais?
O público feminino enfrentou com o novo coronavírus desafios mais abrangentes do que os homens, passando por sobrecarga de trabalho doméstico, violência dentro de casa, menores oportunidades de emprego e maior grau de vulnerabilidade econômica.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o desemprego permanece acima da média entre mulheres (16,4%), enquanto que entre os homens a taxa é de 11,9%.
Um estudo recente da ONG Care International, feito em 38 países com homens e mulheres, revela que houve desvantagem feminina. Cerca de 55% delas ficaram sem emprego, prejudicando a independência financeira e consequentemente a comida na mesa.
Por tudo isso, o exemplo aqui da Região Metropolitana de Curitiba é encantador. Uma forma de empreender, gerar empregos e dar oportunidade a pessoas e um cenário tão difícil. Uma experiência a ser elogiada e, principalmente, ser replicada quando possível gerando um efeito positivo para as pessoas, nas famílias e nas comunidades.
Para ir além
Sobre o/a autor/a
Flávia Francischini
Advogada, ex-policial federal, mãe e vereadora em Curitiba. Fundadora do projeto Fazer o Bem Sem Olhar a Quem.