Sarampo cresce no Brasil após ser considerado erradicado

Redução da imunização contra a doença impulsionado por movimentos antivacina colocam vidas em risco

O retorno de doenças erradicadas preocupa a comunidade médica e científica, assim como as autoridades de saúde no Brasil. Informações falsas e teorias da conspiração sobre a eficácia das vacinas e seus efeitos colaterais têm provocado dúvidas em muitos pais. Muitos deixam de colocar seu esquema vacinal e o de seus filhos em dia.

Uma destas doenças é o sarampo, que, até 2016, era considerada erradicada no Brasil. Tanto que, naquele ano, o país recebeu da Organização Mundial da Saúde (OMS) o certificado de eliminação do vírus causador do sarampo. Porém, em 2018, o Brasil perdeu esse certificado após mais de 9 mil casos registrados pelo Ministério da Saúde.

O problema está ligado diretamente à redução de vacinação de crianças. Em 2015, o índice de vacinação contra sarampo era de 96%. A vacinação vem caindo a ponto de, no ano passado, apenas 47% das crianças com idade entre 6 meses a 5 anos incompletos receberam a vacina, de acordo com o Ministério da Saúde.

A Coordenadora do setor de imunização da Secretaria de Saúde de Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul, Janete de Souza, avalia a situação. “Em função dessa baixa cobertura vacinal que tem ocorrido nos últimos anos, isso acaba favorecendo essa continuidade de ocorrências de casos de sarampo, porque muitas vezes são casos importados, casos que as pessoas vão viajar e acabam trazendo o vírus para o nosso país. A partir do momento que nossa cobertura vacinal está baixa no nosso país ou no nosso município acaba pegando muitas pessoas desprotegidas e o vírus começa a circular de uma forma mais fácil”, destaca.

No Brasil, a população tem acesso gratuito a todas as vacinas recomendadas pela OMS por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Em todo o mundo, o sarampo continua sendo uma das principais causas de morte entre crianças pequenas, apesar de haver uma vacina segura e eficaz para prevenir a doença.

Movimento antivacina

Em artigo publicado no Jornal da Unicamp, o pesquisador do instituto de química Luiz Carlos Dias enumera vários fatores para a queda na cobertura vacinal. Dentre elas estão a queda no investimento público em saúde pública, questões logísticas como aquisição e distribuição e ausência de campanhas de conscientização da população. O artigo também aponta o papel das redes sociais, sobretudo por grupos antivacinas, que reforçam consequência absurdas da vacinação como alterações de DNA, implantação de chips, aumento da ocorrência de autismo, além de supostamente provocar câncer e abortos e de serem ineficazes.

Nas redes sociais é possível encontrar posts que questionam a vacinação. Durante a pandemia de Covid, por exemplo, várias informações falsas circularam com alertas sobre consequências da vacina.
Em um artigo publicado na Revista Observatório, os pesquisadores Tiago Mainieri e Rafael Marques mostram como os movimentos antivacina atuam nas redes sociais.

“Observa-se um tom conspiratório associado às vacinas como algo frequente nas postagens e, em algumas delas, isso é assumido. Assim como o caráter público de privacidade do grupo é frequentemente questionado e alegado como motivo para não interação nas publicações por alguns membros. Estes fatores demonstram que os membros do grupo estão conscientes dos questionamentos a que sua ideologia está sujeita e também a imagem pública negativa sobre o movimento”.

Uma mulher, de 38 anos, que prefere não ser identificada relata como foi ter a doença. “Em uma viagem contraí o sarampo. Passei mal, comecei a ter dores no corpo, enjoo e também dor de cabeça. Depois, através de exame, descobri que eu tinha sarampo. Foi bem difícil, e ainda acabei transmitindo para pessoas próximas, sem saber. E soube que eu não era vacinada porque perguntei para minha mãe”, relata.

Saiba mais

A vacina antissarampo é eficaz em cerca de 97% dos casos. Deve ser aplicada em duas doses: a primeira a partir do 12º mês de vida da criança e a segunda entre os 15 e 24 meses, de acordo com a Sociedade Brasileira de Imunização. A exceção é para mulheres grávidas e aos indivíduos imunodeprimidos. Adultos que não foram vacinados e não tiveram a doença na infância também devem tomar a vacina.

O sarampo é uma doença infecciosa grave, causada por um vírus e transmitida pela tosse, fala, espirro ou respiração próximos. Dentre os sintomas estão febre, irritação nos olhos e, principalmente, mal-estar intenso. É uma doença humana, ou seja, não ocorre em animais. A vacina contra o sarampo é a tríplice viral, que também protege contra a caxumba e a rubéola. Este ano o Ministério da Saúde realizou a Campanha Nacional de Imunização contra o sarampo em maio.

Orientação: Guilherme Carvalho (professor e jornalista)

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