Quando suar em excesso é um problema

Saiba mais sobre a doença que afeta negativamente a vida social dos portadores

Suar é uma função muito importante para o corpo. O suor regula a temperatura corporal e refrigera os músculos. Mas e quando a pessoa sua mesmo quando não faz exercícios ou não está com calor? Nestes casos, é possível que a pessoa seja portadora da hiperidrose, uma doença que afeta de 1 a 5% da população mundial. No Brasil, cerca de 1,5 milhão de pessoas sofre com suor em excesso. É o que revela uma pesquisa feita em 2013 pelo Instituto IPSOS.

O cirurgião torácico do Hospital Albert Einstein, Eduardo Werebe, esclarece que existem dois tipos de hiperidrose: a secundária, que ocorre devido a alguns fatores como infecções ou tumores, e são responsáveis pela minoria dos casos, e a primária, que decorre de uma alteração genética e é percebida desde a infância.

O gatilho desse suor excessivo ocorre frente ao medo ou por forte emoção e é uma resposta exagerada do sistema nervoso. Independentemente do caso, a vida social dos portadores dessa doença acaba sendo afetada negativamente.

A dermatologista Ana Opolski explica de que maneira isso ocorre: “A qualidade de vida dos portadores é bastante afetada, pois esse suor excessivo não se relaciona à nenhuma atividade, ou seja, ele não pode ser controlado, e acaba limitando as atividades do dia a dia, como por exemplo: manipular papeis, no caso da hiperidrose na região das mãos, utilizar roupas mais justas e etc”.

Sobre as dificuldades em desempenhar funções simples do cotidiano, a jornalista Paula Kotouc, portadora de hiperidrose nas mãos e pés desde a infância, relata suas dificuldades: “A minha mãe conta que desde que eu aprendi a andar, eu tinha dificuldade de pôr o pé no chão, porque escorregava. Até hoje eu só consigo usar tênis com meia, por exemplo. É muito diferente a minha vivência de algumas pessoas com coisas pequenas, como, por exemplo, usar uma tesoura, usar uma borracha”.

Bullying e preconceito

Paula Kotouc conta que desde criança ficava chateada na escola quando algumas atividades necessitavam de contato físico entre as crianças, algumas ficavam com nojo e não queriam encostar em sua mão.

Um outro portador da doença que não será identificado descreve como o suor em excesso afeta a sua vida. “Essa doença atrapalha a minha vida em todos os pontos possíveis. Ela moldou a forma como eu vejo o mundo. Tudo o que eu penso em fazer, eu penso antes na hiperidrose. Desde relacionamentos amorosos ou apertar a mão de algum desconhecido na rua. Todos os momentos da minha vida, a hiperidrose me acompanhou e na maior parte delas ela me fez sofrer muito. Eu sou bem resistente em contar para as pessoas sobre esse problema, eu não acho que as pessoas interpretam de forma simples”.

Tratamento

As opções de tratamento cresceram consideravelmente nos últimos anos. Dentre as mais populares estão as técnicas dermatológicas, a cirúrgica e até mesmo a psicológica.

A dermatologista Ana Cristina Opolski explica que o tratamento depende da apresentação da doença em cada paciente e que o tratamento clínico é geralmente a primeira escolha. Pode ser feito em forma de produtos tópicos ou medicamentos por via oral. Outra opção menos invasiva é a aplicação da toxina botulínica e a rádio frequência fracionada.

Existe também a opção de tratamento cirúrgico, que pode ser feito através do Sistema Único de Saúde (SUS). A simpatectomia, como é chamada, interrompe as fibras nervosas que levam o estímulo de suor para a pele. Alguns pacientes que se submeteram ao tratamento cirúrgico, no entanto, relatam o surgimento de uma hiperidrose compensatória, quando o suor se torna reincidente, e acaba ocorrendo em áreas do corpo antes não afetadas pela doença.

O médico Eduardo Werebe conta que as mãos de fato ficam secas, e que devido a alguns fatores, como temperatura e atividade física, algumas áreas como a barriga, costas e pernas passam a suar mais do que antes.

A jornalista Paula Kotouc optou pelo tratamento clínico. “Eu achei todos os tratamentos muito agressivos. Eu pesei muito bem os prós e os contras, pensando na minha saúde. Considerando as cirurgias que tem hoje em dia para a hiperidrose, eu não faria. É um tiro no escuro. A gente não sabe se vai ser um sucesso, como muitas (cirurgias) são, mas não sabe se vai ter um efeito rebote, como muitas tem”.

Saiba quais são os principais sintomas da hiperidrose:

  • Suor excessivo em um local específico, que ocorre nos dois lados por igual, no caso das mãos, por exemplo;
  • Suor em regiões como mãos, pés, couro cabeludo, rosto, axila, barriga, costas;
  • Histórico familiar de hiperidrose;
  • Interferência nas atividades do cotidiano;
  • Problemas aparecem na adolescência e juventude, antes dos 25 anos de idade;
  • Suar em situações de nervosismo ou apenas devido às altas temperaturas, sem a realização de atividade física.
  • Suor noturno, no caso da hiperidrose secundária.

Orientação: Guilherme Carvalho (professor e jornalista)

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