O partido Novo morreu de velho

Em basicamente todos os cargos, o partido teve um desempenho crucialmente inferior, exceto a governador. Mas o que pode explicar essa situação?

“Saia da indignação e vamos juntos construir um NOVO Brasil” esse é o lema do partido criado em 2011 (homologado pelo TSE em 2015) concebido para representar uma “nova política” e um “novo modelo econômico liberal”, atraindo os interesses e figuras conhecidas do empresariado e das classes médias e altas da sociedade do Sudeste e do Sul do Brasil. Entre as novidades deste partido em relação aos demais estão a regra bastante rigorosa para o filiado tornar-se candidato e a oposição ao uso do fundo partidário e eleitoral.

Na primeira disputa eleitoral de sua história, o Novo fez uma participação modesta nas eleições municipais de 2016, mas com resultados promissores ao conseguir eleger quatro vereadores das cinco capitais onde concorreu (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba – nesta última não obteve sucesso). Em 2018 conquistou uma bancada de oito deputados federais e um presidenciável com mais de 2 milhões e meio de votos, ou seja, para um partido que rejeita o uso de dinheiro público, com horário eleitoral praticamente inexistente, foi um desempenho interessante da legenda.

Diante de tal cenário, era de se esperar um trabalho coordenado por se tratar de um grupo pequeno, com capital e unido ideologicamente, todavia, a situação foi oposta, foi se criando rachaduras internas, candidatos expulsos por cada vez mais estarem alinhados à Bolsonaro, assim como duas deputadas estaduais irem às vias de fato na Câmara Municipal de São Paulo. Mas, ainda assim, na eleição municipal de 2020, o NOVO conseguiu uma prefeitura (Joinville) e 29 vereadores espalhados pelo Sul e Sudeste.

Porém, nas eleições gerais de 2022, a legenda sofreu um baque, ao ver a sua bancada ser reduzida de 8 para 3 deputados federais, não atingindo a cláusula de barreira que lhe garantiria acesso ao horário eleitoral gratuito. O seu candidato à presidência sequer chegou a um milhão de votos, por outro lado, reelegeu o Governador de Minas Gerais no primeiro turno. O gráfico abaixo facilitará a visualização do tamanho da derrocada novista.

Soma de votos à legenda em cada cargo.

  • A coluna da esquerda é de 2018 e a da direita é de 2022.
    Fonte: elaboração própria.

Em basicamente todos os cargos, o partido teve um desempenho crucialmente inferior, exceto a governador. Mas o que pode explicar essa situação? Bom, não podemos atribuir este desempenho apenas a um motivo, e como olhamos pelo lado de fora do partido, nossa visão se baseia no que se é noticiado.

Um dos pontos a se destacar é o planejamento completamente errático. O Novo escolheu três deputados federais com grande potencial de reeleição para tentaram cargos majoritários com chances baixíssimas de sucesso. Tiago Mitraud e Vinícius Poit concorreram a governador em estados (Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente) com concorrências consolidadas no flanco da direita; tanto que estas candidaturas não conseguiram atingir 500 mil votos cada. Já Paulo Ganime acabou integrando a chapa novista para vice-presidente, cujo desempenho já foi mencionado.

Sim, de fato, é comum políticos almejarem voos maiores, mas como um partido que se orgulha de ser composto por grandes gestores do setor privado, era esperado que se utilizassem técnicas de planejamento estratégico, entre SWOTS e Canvas, antes de dar passos maiores, mas pelo visto não as fizeram e o resultado está aí.

O processo de seleção de candidatos com muita rigidez também pode ser uma explicativa, uma vez que esta norma engessa as estratégias de sua cúpula, excluindo potenciais lideranças e tornando o partido extremamente elitista. Esse último aspecto é potencializado com a demagogia enraizada do NOVO na sua demonização ao fundo eleitoral, algo absolutamente comum em qualquer democracia do mundo contemporâneo, privilegiando em demasia postulantes com condições financeiras altíssimas para conseguir bancar a sua campanha, já que como apontamos anteriormente e os impossibilitando de criar espaços para setores mais populares, setores estes que é a grande massa do eleitorado brasileiro.

Sob o prisma das demagogias, o NOVO foi contaminado por um lavajatismo acompanhado de um antipetismo irracional, com muitos quadros colocando este ódio ao PT acima de valores constitucionais democráticos fundamentados no mais puro liberalismo clássico.

Não surpreendentemente, o bolsonarismo entrou nas vísceras do partido que se propunha como de centro-direita, a ponto de discutirem a expulsão de Amoêdo, o grande fundador do partido, por ter declarado voto crítico ao Lula, mesmo o NOVO declarando independência em relação ao Bolsonaro. Esta situação foi só o pingo d’água de um racha interno entre duas alas: bolsonarista e antibolsonarista, onde provavelmente prevalecerá a ala bolsonarista, mesmo com a possível derrota do mesmo.

É nesta condição que se justifica o título “O partido Novo morreu de velho”, do velho reacionarismo, do velho elitismo, do velho pseudo-liberalismo brasileiro que sempre se curva a movimentos de extrema-direita em combate ao velho “fantasma do comunismo”.

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