Ao longo dos anos o conceito de saúde foi sendo ampliado, considerando não só a ausência da doença, mas as diferentes necessidades psicossociais do indivíduo.
Até meados do século passado, aceitava-se com naturalidade a terminologia hospitalar para definir todas as ações de interferência arquitetônica em qualquer ambiente que servisse à prestação de serviço de saúde e que, naturalmente, necessitasse da atenção específica de profissional de engenharia ou arquitetura.
Se estabelecermos que, posteriormente, as referidas preocupação e obrigações coletivas ou individuais do trabalho em saúde ultrapassaram os limites do hospital (postos da saúde, centros municipais de saúde, policlínicas, hospital-dia, atendimento domiciliar, unidades de pronto- atendimento etc…), fortalecendo- se a demanda por outros grupos de serviços a serem instalados fora desses limites, entenderemos a consequente ampliação do conceito de arquitetura voltada para a área de saúde ou da Arquitetura aplicada em ambientes de saúde.
Foi neste contexto que ações relacionadas ao acolhimento e a ambiência entraram no cotidiano dos serviços de saúde com o propósito de impactar positivamente a percepção das pessoas e pensar os ambientes de saúde como espaços regenerativos, espaços que dão suporte aos cuidados terapêuticos.
Mas quais foram estas ações ou inovações na forma de pensar os ambientes de saúde? Uma delas é “Design Baseado em Evidência”, termo criado pela instituição norte americana “Center for Health Design”, em meados da década de 80, que o definiu como sendo “o processo de basear decisões de projetos sobre o ambiente construído em pesquisas com credibilidade, para atingir os melhores resultados possíveis”. Na prática, é um protocolo completo de projeto, que tira proveito da experiência de uma equipe multidisciplinar e do corpo do conhecimento científico publicado na área de projetos, com ênfase para a busca de evidências, registro de hipóteses, mensuração e publicação dos resultados.
O conceito defende que o ambiente molda comportamentos, estimula emoções e afeta diretamente a forma como as pessoas percebem determinada situação, podendo auxiliar na recuperação do paciente.
Outro tema muito discutido nos últimos tempos é o conceito “Hospitais Saudáveis”.
Saudáveis e sustentáveis: mais que um diferencial, uma obrigação dos edifícios assistenciais de saúde.
Ser sustentável envolve a execução de estratégias ecologicamente corretas, economicamente viáveis e socialmente justas. “O impacto ambiental dos estabelecimentos de saúde está atrelado a características como: funcionamento intensivo nas 24 horas, geração de circulação de pessoas em grande número, demandas de insumos e energia diferenciados, exigindo reserva e grande magnitude de instalações.” (Fábio Bitencourt, doutor em Arquitetura de ambientes de saúde)
Já ser saudável está ligado a valorização das pessoas, a preocupação com seu bem estar físico e mental e engloba conceitos ligados a segurança e a experiência de clientes/pacientes e colaboradores. Boa parte das doenças que acometem as pessoas são adquiridas durante o curso de suas vidas, de acordo com seus hábitos e os espaços frequentados. Como passamos cerca de 90% de nosso tempo em locais fechados, aspectos diversos da edificação contribuem para deixar uma pessoa mais suscetível ou não a doenças crônicas. Há alguns anos, o conceito da “Síndrome do Edifício Doente” vem sendo estudado por pesquisadores para entender os efeitos que a qualidade com as instalações dos edifícios – ou a falta deles – provocam nas pessoas. Esse assunto se torna ainda mais relevante quando estamos falando de instalações hospitalares. Aspectos diversos da edificação contribuem para deixar os usuários destes espaços mais suscetíveis ou não a doenças, isto posto, é fundamental discutir a edificação saudável como influenciadora de seu bem-estar físico e mental. Vivenciamos ou intuímos que o futuro caminha para uma especialização tecnológica que vem nos atropelando no dia a dia de forma inexorável e para a necessidade urgente de garantir um planeta mais saudável e sustentável. De forma paralela, temos cada vez mais, a certeza da importância do ambiente construído como parte integrante da saúde do indivíduo, não só no processo de cura como na manutenção da saúde, seja no âmbito do edifício ou da cidade em que vivemos.
As maiores entregas de um bom projeto são aquelas diretamente ligadas a qualidade do ambiente, pois ela se traduz em melhora nas respostas dos pacientes aos tratamentos, sem falar no aumento da atração e retenção de colaboradores, além dos benefícios para a comunidade com adoção de soluções sustentáveis. Pensar os espaços de saúde é uma tarefa desafiadora, pois requer de nós uma maior abstração em relação ao futuro e aos conceitos apreendidos até hoje. Portanto temos que exercitar nosso protagonismo como profissionais, responsáveis por projetar e construir ambientes mais saudáveis e adaptados às exigências do futuro, e como ser humano que necessita viver de forma saudável, produtiva e feliz.
A coluna Arquitetura e Urbanismo tem a curadoria de conteúdo do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU-PR).
Sobre o/a autor/a
Adriana Sarnelli
Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Unesp (Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho). É conselheira do CAU PR e Coordenadora do GT Saúde da ASBEA-PR. É vice-presidente de relações institucionais da Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar. Sócia proprietária da Sarnelli Arquitetura, Projetos & Consultoria.