Esquerda pode dar tiro no pé com voto útil contra Sergio Moro

Sem incentivar novos nomes, é capaz de chegarmos a 2026 com Requião de candidato mais uma vez

A disputa para o Senado no Paraná acabou ficando entre três candidatos de direita ou centro-direita. Alvaro Dias, Sergio Moro e Paulo Martins acabaram se mostrando os únicos nomes viáveis até o momento – e faltando apenas duas semanas para a eleição, é muito difícil que isso mude.

As pesquisas dizem que o candidato eleito deverá ter pouco mais de 30% dos votos, seja ele quem for. E aí surge uma pergunta interessante e necessária: será que não há um único candidato progressista capaz de rivalizar com esses números?

Há pelo menos três candidaturas mais à esquerda de partidos relevantes: o PT apoia Rosane Ferreira (PV); o PDT lançou a professora Desiree Salgado; e o PSol saiu com a candidatura de Laerson Matias. Mas nenhum deles foi em frente, e há uma explicação.

Se uma dessas candidaturas tivesse o mesmo desempenho de Roberto Requião ou de Lula no Paraná, ou algo que chegasse perto disso, teria como se viabilizar. Mas aparentemente tanto o PT quanto Requião acharam que o objetivo maior é derrotar Sergio Moro. E o eleitor foi na onda.

Tem sido comum ouvir eleitores mais à esquerda dizerem que vão votar em Alvaro Dias por receio de que, sem isso, Sergio Moro se torne senador. E a vitória da Lava Jato seria inaceitável para os partidários de Lula. Compreende-se.

Porém, cálculo nem sempre é o melhor modo de se escolher uma candidatura. A opção pelo candidato “menos pior” tem resultado por vezes em situações pouco promissoras. Alvaro Dias está longe de representar a truculência bolsonarista, claro. Mas também não tem a menor propensão para defender causas progressistas.

A estratégia do voto útil, pior, mata na casca candidaturas interessantes e que poderiam representar uma renovação necessária para a política local. A professora Desiree Salgado, por exemplo, tem todos os predicados que um eleitor progressista poderia desejar: firme, correta, inteligente, feminista.

E no entanto, tudo indica que está fadada a ter um resultado inexpressivo, que não apenas lhe tira as chances de ganhar a eleição. A política do voto útil deixa também de criar novas lideranças, que poderiam ter nessa disputa a chance de se apresentar ao eleitor e de garantir espaço para 2026.

Mas a miopia da fúria anti-Moro não permite que se veja isso. E com essa opção, novamente a esquerda pode depender de novo daqui a quatro anos do velho Requião, que estará já com 85 anos. Pelo simples fato de que não cuidou de dar ao eleitor nenhuma opção diferente.

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