Deputado bolsonarista denuncia Renato Freitas por “racismo reverso” contra Zanin

Ricardo Arruda diz que petista foi "racista" ao chamar ministro do STF de branco privilegiado

O deputado estadual Missionário Ricardo Arruda (PL) entrou com um pedido de cassação do mandato de Renato Freitas (PT) por suposto crime de injúria racial contra o ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal. O caso foi levado ao Conselho de Ética da Assembleia Legislativa.

O suposto caso de “racismo reverso” teria ocorrido quando Renato, um negro, falou num evento dentro da UFPR que Zanin era um homem “branco, rico e privilegiado”. No documento levado ao Conselho de Ética, Arruda também informa que Renato repetiu a fala num programa de tevê.

Zanin seria um “homem, branco, rico, privilegiado, que tem no seu círculo de sociabilidade apenas pessoas como ele e, portanto, não sabe os efeitos concretos de uma decisão, como a que ele deu, de militarizar a Guarda Municipal, colocar ela como uma força de segurança pública ao moldes da polícia militar, a ponto de dar autorização pra que ela faça ronda ostensiva”, diz a transcrição.

Arruda, um bolsonarista radical que tem frequentemente entrado em rota de colisão com Renato Freitas, não teve pudores em afirmar que a fala se encaixa como “injúria racial”.

“Ao que tudo indica, o representado teria ofendido a vítima em razão da cor da sua pele, como se o fato de o Ministro Cristiano Zanin ser ‘branco’ fosse uma característica depreciativa, o que não pode ser admitido ou tolerado, até mesmo para evitar que a conduta apontada se “normalize” e possa vir a ser utilizada contra outras pessoas”, diz o texto.

Parece brincadeira, mas não é. De fato há gente à direita que acredita em “racismo reverso”, ou seja, na possibilidade de que uma população que já foi escravizada por séculos e ainda hoje é oprimida, hostilizada e vítima de todo tipo de preconceito, possa ofender uma pessoa branca por acreditar que os brancos seriam “inferiores”.

A tese não é levada a sério em nenhum tribunal, e evidentemente também não deverá ser levada a sério na Assembleia Legislativa. É evidente que Renato Freitas, ao descrever Zanin como “branco, rico e privilegiado” (três fatos incontestáveis) estava apenas dizendo que alguém com essas características terá dificuldade de se colocar na posição de outra pessoa que vive em condições extremnamente diferentes, praticamente opostas.

Renato não estava dizendo que Zanin é inferior, o que é a base de todo racismo. Estava apenas descrevendo a pessoa e dizendo por que isso dificulta sua compreensão de um tema. É o mesmo que dizer que um sueco pode ter dificuldades para entender o samba ou que um homem jamais saberá como são as dores do parto.

Com atitudes como essa, Arruda pretende apenas radicalizar e manter satisfeita sua base bolsonarista. Que a Assembleia perceba isso antes que cometa mais uma injustiça.

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