De Badlands a Madison

A última aventura da natureza com meu primo Thiago foi em mais um Parque Nacional, o Badlands. Todos os parques norte-americanos que visitei, sem exceção, são mágicos, impressionantes, espetaculares.

Lembro que quando li “Viajando com Charley”, de Steinbeck – um dos prêmios Nobel de literatura dos EUA – me chamou a atenção a descrição da natureza. “Viajando com Charley” é uma grande viagem de camper (o motorhome que vai na caçamba da caminhonete), que Steinbeck fez com Charley, seu poodle, por todos os Estados Unidos. Há um capítulo pequeno que se passa no parque nacional das Sequoias que eu gostava de ler para os meus alunos. O livro é datado, certamente não é o melhor de Steinbeck, mas há algo valioso ali: para conhecer os Estados Unidos, é preciso conhecer a natureza.

Badlands, assim como Yellowstone, é outro planeta. Ele lembra um pouco o Grand Canyon, mas ao invés de um cânion profundo, temos uma imensa planície que se afunda, revelando as entranhas de origem vulcânica com vales de pedras coloridas e rios. No horizonte não há nada, o céu tem uma amplitude colossal – o pôr e o nascer do sol são magníficos.

Uma ram atravessa a estrada das Badlands. Foto: André Tezza

Estava ventando muito em Badlands, mas o pior do frio havia ficado para trás, estávamos agora longe das montanhas rochosas. Além de bisões, vimos várias cabras de montanha, as rams. São animais musculosos, que escalam as escarpas, majestosos.

Na continuação da minha Odisseia de volta a Ítaca, atravessamos Minnesota, dormimos em mais um Walmart e chegamos em Wisconsin. Estes estados do norte são sobretudo rurais. Fizemos longas jornadas no meio de campos de plantação. Como o inverno se aproximava, a colheita já havia sido feita e agora tudo estava seco, aguardando o próximo ciclo. Até chegar em Madison, fizemos algumas das incursões mais longas dirigindo, com mais de 600km por dia. Foi cansativo, às vezes monótono, mas como não havia atrações disponíveis, o melhor era adiantar o passo para chegar em um destino interessante.

Meu primo Thiago apreciando o Parque Nacional das Badlands. Foto: André Tezza

Madison foi outra experiência única. Ficamos na casa da Marina Grochocki, amiga do Thiago, e do Andy, seu namorido. Ela está fazendo doutorado em Madison, na área de Latim. Andy é economista e trabalha em uma empresa de seguros. Nós chegamos na sexta-feira à noite e o Thiago fez questão de fazer um jantar de recepção no Paçoca. Seria uma forma de tentar retribuir o que teríamos no final de semana – uma estadia magnífica no lar do casal.

Depois das incursões na natureza, estava na hora voltar para a civilização. Madison é uma cidade universitária e dos cerca de 200.000 habitantes, 50.000 são estudantes. O campus está espalhado pelo centro, com prédios de vários estilos e idades. Há um clima jovial, festivo, animado. Bandinhas de rock podem estar tocando em um canto do campus e há gente estudando nas cantinas e nos jardins da cidade.

Andy, Marina e meu primo Thiago em Madison. Foto: André Tezza

Marina nos levou ao prédio do departamento de Letras em que ela trabalha. Ali, na sala dela, como café da manhã, degustamos um banquete de donuts, comprados na Greenbush, a melhor confeitaria de donuts de Madison. Perto da universidade, passamos pelo arboretum, uma espécie de jardim botânico que estava absurdamente lindo com o pico do outono. Passamos por uma estradinha em que as árvores fechavam o céu – elas estavam amarelas e vívidas. Aquilo era um espetáculo formidável e as pessoas paravam os carros emocionadas para tirar fotos.

No domingo, era aniversário da Marina e conhecemos alguns de seus melhores amigos. A jornada começou no Leopolds, uma livraria que também é um café, ao melhor estilo da Arte e Letra em Curitiba. Havia uma salinha reservada para o aniversário. Dos amigos da Marina, eu conversei muito com Hakan Özlen, uma figura divertidíssima, carismática, muito culto e um grande fã de futebol. É um turco com mais de dois metros de altura, e, assim como a Marina, fazendo doutorado na área de Latim. Ele estava com seu namorado, que é da área de arqueologia e colegas do departamento. Fora o turco, todos eram americanos. Hakan imediatamente se interessou por mim quando disse, sem mentir, que achei Istambul mais impressionante do que Roma. Conversamos muito animados sobre Pamuk, Borges e Vitor Roque, o ex-craque do Athletico. Aliás, entre os muitos atributos positivos da Marina, está o fato absolutamente relevante de ela ser athleticana.

O arboretum de Madison. Foto: André Tezza

Da livraria, fomos para um bar de esportes assistir a um jogo do time de futebol americano de Madison. A noitada terminou na casa da Marina e do Andy, para cantar os parabéns e comer um bolo de sorvete.

Já era tarde da noite quando pegamos um Uber em direção ao parque em que o Paçoca ficou guardado. No dia seguinte, pela manhã, seguimos para Chicago.

O arboretum de Madison. Foto: André Tezza

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