Na primeira semana de aula letiva a comunidade acadêmica da faculdade de direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – a minha comunidade – foi tomada por um episódio de racismo e intolerância abjeto.
Não vou aqui reproduzir o horroroso discurso, discutir a conduta individualizada do aluno e as providências institucionais (que à luz da conduta discente foram rápidas, proporcionais, necessárias e relevantes), não que não sejam temas importantes de serem debatidos.
O que me move nesta reflexão, à luz do meu papel como professora, é discutir o que podemos fazer a respeito de um episódio tão absurdo quanto este dentro (e fora) das nossas salas de aula?!
Como a vida é marcada por coincidências (será que são coincidências mesmo?!), estava justamente na minha cabeceira o novo livro da genial Lila Moritz Schwarcz, “Óculos de Cor”. Comprei para ler com as minhas filhas e, ao folheá-lo, descubro já no início que a história infantil é inspirada no desafio de incluir na educação brasileira espaços de interação das diversidades, criando um ambiente acadêmico afetivo e plural. É precisamente este o desafio da nossa educação jurídica.
Permito-me aqui a generalização porque sei que o que se passou na faculdade de Direito da UFPR é sintoma de um mal maior: o racismo e o preconceito estrutural da nossa organização social e instituições.
Fiquei me perguntando: “como pode a mesma Faculdade que há pouco recebeu a mesma inspiradora Lila Moritz Schwarcz para aula magna, que teve em seu salão nobre o lançamento do manual de educação jurídica antirracista (dos grandes e necessários Adilson Moreira, Wallace Corbo e Phillipe Almeida) reproduzir um discurso tão odioso?”.
Como no conto infantil supracitado, que foi necessário ver muitas vezes para enxergar, é fato que teremos que falar muitas vezes no ambiente acadêmico (ainda mais nos corredores das faculdades de Direito que tendem a ser muito mais cristalizadores de preconceitos que promotores da justiça social).
Teremos que falar muitas vezes sobre a necessidade de um direito antirracista e do combate aos preconceitos para que nos escutem.
E é justamente aí que reside nosso papel como professoras e professores: continuar falando, aguçando a crítica, questionando o que parece “natural” para que escutem aquilo que sustenta o próprio sentido de justiça que motiva o Direito – e seu estudo: racistas e intolerantes não passarão!
Bom dia. Seria interessante narrar o ato racista, porque quem não acompanhou, ao ler somente a matéria acima, não ficará mais sabendo nem entendendo nada. Okbrifado.
Relevante registro.