Diretor(a) escolar: ser ou deixar de ser?

Se fizermos uma pesquisa rápida perceberemos que não é difícil encontrar escolas em nossa região onde a direção é a mesma há mais de uma década

No final de 2020 houve uma grande discussão acerca do interesse do presidente do Senado e do Congresso Nacional em permanecer na presidência dessas instituições para além do tempo constitucional. Tal situação provocou a indignação popular, que de imediato repudiou as manobras desenvolvidas e o pretenso ataque ao processo democrático, ataque esse que visava cercear o acesso de outras representações no espaço de poder e, com isso, promover a manutenção dos mesmos, nesse caso David Alcolumbre e Rodrigo Maia.

Criticar e escancarar os erros e os vícios de figuras políticas é sempre fácil, fazer juízo de valor das ações do outro é sempre cômodo, difícil é o exercício da autocritica e da coerência entre o discurso e a prática. Digo isso para lembrar que conforme a resolução 2.265/2021 GS/SEED estamos novamente em vias de escolher os diretores e diretoras das escolas estaduais do estado do Paraná, mas o que tem isso a ver com o caso citado acima?

Se fizermos uma pesquisa rápida perceberemos que não é difícil encontrar escolas em nossa região onde a direção é a mesma há mais de uma década, quando muito, faz-se um parceria de revezamento, uma alternância programada afim de atender a regra, mas não na intenção de democratizar o espaço diretivo, de oxigenar o comando e de ser exemplo para a comunidade escolar. Políticos viciados com o poder podem ter sido influenciados pelos exemplos dados no seu primeiro contato com as instituições públicas, nesse caso a escola.

Diante de tantos ataques à educação pública, seria leviano da minha parte fazer uma crítica na intenção de desqualificar os colegas, o objetivo é outro, é o de provocar a reflexão sobre nossas posturas, nossas fragilidades, precisamos sim acessar os espaços de poder, deixar nossa contribuição, imprimir nossa marca, nosso ritmo, mas na sequência de forma generosa e democrática, passar o bastão aos próximos que nos sucederão, sem mágoas, sem disputas de baixo nível, sem caça às bruxas, apenas acolhendo o próximo (a). Será que a escola que de fato temos realmente tem condições de contribuir na formação de cidadãos íntegros, éticos e defensores do estado democrático de direito? Quero crer que sim, mas sei que temos arestas para aparar. E que não peguem carona na minha elucubração os adeptos de escola cívico-militar, nem os que se dispõem a ser capitães do mato, enviados pelos senhores “Federes” que usurpam os espaços da educação. A ideia não é abrir a porta para intervencionistas enviados com a função de matar de vez a gestão democrática, antes disso é fortalece-la com verdade e pragmatismo. Pois fica difícil defender gestão democrática onde a mesma direção está há quase 20 anos.  

Sim, eu sei que eles divulgam os editais e, por vezes, até ousam um discreto estimulo a participação, normalmente precedido pela intimidadora informação de que “eu vou concorrer”, diante do aparente silencio lançam-se bravamente com o argumento de que mais ninguém quer. Ora, experimente anunciar a vacância do espaço, declarar-se satisfeito com a experiência e desejoso em retornar a sala de aula, ouse motivar verdadeiramente os colegas e estou certo que alguém pegará o bastão. Pois há sim profissionais loucos, (porque tem que ser louco) ansiosos pela experiência da direção, não pela ajuda de custo pífia que o governo paga diante do tamanho da responsabilidade, mas pela experiência profissional, pela oportunidade de experimentar sua metodologia, sua forma de gerir o grupo, pelo desejo de conhecer plenamente o ambiente escolar e as intimas relações com a mantenedora.

Antes de encerrar relembro que não se trata de uma defesa em causa própria, não sou candidato a diretor, aproveito ainda para reiterar meu respeito aos colegas e sei que alguns são movidos pelo amor a escola e pelo compromisso com a comunidade, mas não esqueçamos que todo e qualquer poder investido a nós nos afeta, por isso, não percamos o controle de nossas vaidades e da tendência natural de nos apossarmos do espaço para além do que é devido. Nossos algozes conhecem nossas falhas e as usam contra nós e, nos usam contra os nossos. No mais, um bom líder sempre gera novos líderes e não teme retornar a condição de liderado.

Viva a Educação, viva a gestão democrática e a democratização dos espaços diretivos.

Sobre o/a autor/a

12 comentários em “Diretor(a) escolar: ser ou deixar de ser?”

  1. Glaudemarina Dias

    EXCELENTE TEXTO, NOS REMETE VASTA REFLEXÃO NO CONTEXTO ESCOLAR. VOCÊ CONCLUIU DIZENDO O BOM LIDER PRODUZ VÁRIOS LÍDERES. NÃO É PRODUTIVO FICAR UMA GESTÃO HÁ DÉCADAS…

  2. Lenir Engelmann Teixeira

    Excelente análise!
    Não sou favorável a reeleição em nenhum cargo e nenhuma instância. Mas fica um questionamento: por que tanta falta de interesse na gestão????

  3. Apropriação e Pertinência Professor e Combatente… Meu Amigo JESTER!!! Na Condição Lúcida Dos Nossos Olhares… *(Falo Ciente de Estar Afastado Já Há… 02 Anos Por Motivo De Saúde e Amparado Por Especialistas… Dentre Eles Um Especificamente Dentro da Área da SAÚDE DO TRABALHO!)*
    “ABUSO DO PODER; A VESTIMENTA…
    DO PODER IMPERATIVO; MEANDROS, ACESSIBILIDADES ESCROQUES, AÇÃO INESCRUPULOSA, SUGESTÕES SUJAS E INSINUAÇÕES DE GRAVE AMEAÇA… PERMEAM A BASE DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES NA SUA GRANDE PARTE!
    CONHEÇO SIM MUITOS PROFESSORES QUE SE ADIANTARIAM AO PLEITEAR 01 VAGA NA DIREÇÃO DA ESCOLA… EU TAMBÉM CONHEÇO E SEI DO QUE SÃO CAPAZES DIRETORAS(ES,) PARA NÃO PERDER O TRONO!!! AINDA AQUELES…
    QUE SAEM DO PODER MAS NÃO, NÃO CONSEGUEM DEIXAR O PODER SAIR DELES… (marcos Drewniak!)
    *Minúsculo de Medo – kkkkkkk!!!*

  4. Excelente texto.
    “Os sábios somam” e qdo dividem, dividem o conhecimento, as experiências, isso no da a oportunidade de igualdade.

  5. Parabéns professor Jester.
    Concordo e compartilho dessa mesmo opinião.
    Porque não dar mais espaço.
    Fica fechado a poucos e quando o fazem, já fazem direcionado.
    Afinal o que é democracia ou gestão democrática? Estamos nós mesmos perdendo esse espaço, tão sofrido de conquistar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima