A publicidade de Greca custou caro à população

A conta da compra de novos ônibus, propagandeada pela prefeitura, chegou ao bolso dos curitibanos

O aval da Câmara Municipal de Curitiba ao projeto que prorroga o auxílio às operadoras de transporte até fevereiro do próximo ano não é apenas mais um aceno do prefeito Rafael Greca (DEM) aos empresários. O texto final, que inclui ainda o destino de cifras milionárias extras ao pagamento das dívidas das empresas, passa por cima do próprio “pacto” feito aos olhos dos contribuintes. Uma manobra compatível com a discussão feita em regime de tratoraço.

Seria cômico – se não houvesse dinheiro público envolvido. O projeto aprovado nesta segunda-feira (27) por 24 dos 36 vereadores presentes na sessão estende o repasse emergencial às empresas, desde que elas aceitem em deixar de receber valores clássicos da planilha, como os equivalentes à margem de rentabilidade e à amortização das parcelas pagas pelos novos ônibus incluídos à frota.

A circulação de ônibus dentro da validade é uma obrigação das empresas. O contrato estabelece que carros com vida útil acima de dez anos não podem circular pelas ruas de Curitiba, e o descumprimento do acordo por anos a fio foi usado por Greca para fortalecer a imagem de seu governo. Em janeiro deste ano, a prefeitura veiculava orgulhosa uma frota recorde: 535 novos ônibus comprados entre 2017 e 2020, superando em 18% a meta de renovação prevista.

Uma publicidade que vai sair caro, em um momento em que a prefeitura desveste santos para vestir outros – e olha lá! Embora o contrato original determine que os novos ônibus tenham o valor integral amortizado pelos repasses da Urbs, de modo que, ao final, os veículos sejam bem da prefeitura de Curitiba, o acordo fechado durante a pandemia para equilibrar os benefícios entre município e empresas suprimiu temporariamente este compromisso.

Essa foi a ideia que a prefeitura alimentou desde o início, com a aprovação do primeiro projeto de lei do regime emergencial em março de 2020. Era uma contrapartida justa, ignorando-se o fato de os números do sistema nunca terem sido abertos ao público em sua totalidade. Mas não era de agrado de todos, como agora ficou claro.

Problema resolvido … a toque de caixa. Com uma base tão fiel que não provoca nem frio na barriga, Greca conseguiu reverter a situação a favor dos empresários sem macular o texto do projeto. Em emenda protocolada no apagar das luzes – às 21h13 de sexta-feira (24) (sim, véspera de fim de semana!) –, o prefeito pediu autorização para o município aportar recursos financeiros no Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC) destinados ao “pagamento total ou parcial das prestações devidas entre setembro de 2021 e fevereiro de 2022, relativas ao financiamento para a renovação da frota já realizada”.

Em tese, como vigorou até agora, essas parcelas continuariam suspensas. Mas agora não mais. Com a aprovação dada hoje, Curitiba vai assumir a dívida de R$ 374 milhões que as empresas têm com os bancos Volvo e Mercedes referentes às parcelas em atraso dos ônibus adquiridos e que tanto foram usados por Greca para fortalecer a imagem da sua gestão.

Assim como a base do prefeito disse que se o novo projeto emergencial não fosse renovado o transporte público de Curitiba viraria o caos com tarifa a R$ 8,11 e desintegração com o sistema da região metropolitana, o presidente da Urbs, Ogeny Maia Neto, disse aos vereadores antes da votação que ou o município arcava com a dívida ou a cidade ficaria sem ônibus.

“Com esta emenda ao projeto, nós queremos fazer com que os bancos, que não fazem mais a negociação se não receberem parte da parcela, possam então abrir negociação para que recebam essa diferença no final do contrato. É uma garantia de que os bancos não vêm tomar os ônibus aqui em Curitiba”, falou aos vereadores.

Ao assumir uma responsabilidade que não era nossa, Greca mostra estar afinado com o sistema que joga ainda mais para cima quem já está no topo. Mas vai dormir feliz, certo de que ajudou a quem interessava sem precisar assumir nada sozinho.  

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2 comentários em “A publicidade de Greca custou caro à população”

  1. José Andrade de Oliveira

    Curitiba mal cuidada.
    Prefeito só faz obras de acordo com a aparência, que lhe renda votos.
    Enquanto isso o Rio Barigüi continua abandonado, assoreado.

  2. José Luiz Ferreira Trindade

    Sinto muita urticária ao ver a foto do Alcaide. Tudo nele me parece falso e hipócrita. Claro, é só meu desagrado pessoal. Com os Ratos, não tenho esse sentimento, porque eles são o que são, desafortunadamente. Mas esse cidadão é como dizia meu Pai: esconde a graxa embaixo da casca. Momento muito ruim para Curitiba e o Paraná.

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