Elos Invisíveis desenvolve ações com foco na transformação de realidades sociais

Iniciativa apartidária e sem vínculos religiosos realiza projetos voltados para a educação em direitos, empoderamento e orientação às pessoas com vulnerabilidade social

O projeto Elos Invisíveis é uma iniciativa formada por um grupo de voluntárias e voluntários que realiza ações de responsabilidade social e de caráter assistencial a pessoas de regiões periféricas de Curitiba e Região Metropolitana. Iniciado em 2020, o grupo vem desenvolvendo ações em comunidades em que as pessoas apresentam alto grau de vulnerabilidade social por meio de educação em direitos, orientação, empoderamento e acolhimento.

O objetivo do projeto é contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais sustentável por meio da diminuição das causas da pobreza e desigualdades sociais. Para conhecer melhor o projeto, o Plural conversou com a idealizadora e coordenadora Viviane Vicentin.

Iniciativa Elos Invisíveis

Com início em 2020, a iniciativa Elos Invisíveis já havia sido planejada alguns anos antes. E o ponto de partida coincidiu com o começo da pandemia do novo coronavírus, já com ações voltadas às pessoas que tinham menos condições financeiras para seguir os protocolos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A alternativa na fase inicial do projeto foi promover ações de caráter assistencial. Antes de trabalhar com responsabilidade social, havia a necessidade de fornecer o básico.

Segundo Viviane, o nome Elos Invisíveis surgiu do fato de que a iniciativa começou com três pessoas e as demais foram se aproximando de forma invisível. O que aproximou cada uma das pessoas integrantes foi o propósito.

“A ideia Elos Invisíveis significa essa união através de um propósito mesmo, é um elo que não vai te
unir pela profissão, ou pelo teu dinheiro ou pela tua colocação social, mas simplesmente pelo teu propósito de fazer o bem e transformar”, diz Vicentin.

Relação com a Agenda 2030 da ONU

O projeto atua diretamente em 5 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, os quais são (Erradicação da pobreza; Fome Zero e Agricultura Sustentável; Educação de Qualidade; Redução das Desigualdades; Paz, Justiça e Instituições Eficazes). Para Viviane, cumprir a Agenda 2030 é o mínimo para que se comece a pensar em uma sociedade digna e justa, porém o tempo está passando e o prazo é curto.

Segundo a coordenadora, quando se começa a pensar nas ODS e a traçar metas, é possível chegar a uma linguagem muito próxima das instituições, sejam públicas ou privadas. Quando, por exemplo, a Elos Invisíveis trabalha com foco na ODS 1 (Erradicação da Pobreza), atua no âmbito do fortalecimento da educação com o viés em Direito e Cidadania. Dessa forma, o projeto tenta cumprir os Objetivos não apenas por se tratar de uma meta da ONU, mas por ser muito relevante ter essas metas para que empresas e representantes da sociedade de um modo geral possam entender a necessidade de olhar a sociedade como um todo, sem segregação.

Para Viviane, a Agenda 2030 tenta trazer de uma forma burocratizada algo que deveria ser natural dos seres humanos. “Não é porque você não passa fome que você não tem que pensar em erradicar a pobreza. Essa ideia do Elos é mais uma vez isso, tentar usar essa Agenda 2030 para dialogar e mostrar que uma coisa está interligada à outra. Na minha visão você não consegue ser plenamente feliz se você tiver tudo e o seu semelhante não tiver nada”, afirma.

Campanhas e ações realizadas

Durante a conversa sobre o projeto, Viviane apresenta uma documentação toda organizada das ações realizadas nos três anos de existência do Elos Invisíveis. São relatórios, imagens e vídeos que demonstram a seriedade e o comprometimento do grupo com a iniciativa. Mesmo com a dificuldade de participar de editais por não ser uma ONG, o projeto reúne muitos voluntários que já realizaram mais de 70 ações em 8 comunidades periféricas atendidas.

O projeto atua nas áreas de promoção e fomento da educação, geração de emprego e renda, defesa do direito de igualdade de gênero, sustentabilidade e alimentação saudável e educação em direitos. Para a realização das ações e campanhas, o grupo atua em parceria com entidades da sociedade civil existentes nas comunidades. E há todo um cuidado nas etapas para a concretização das atividades, que vai desde a escolha da comunidade e diagnóstico local até a finalização com o relatório e avaliação dos resultados.

Ação lúdica de orientação e educação com crianças das comunidades. Foto: Luís Pedruco

Entre as campanhas em andamento, a reportagem entrou em detalhes na Campanha de Combate à Violência Doméstica, que faz parte do Programa de Combate à Pobreza Menstrual e Violência Doméstica. O objetivo da campanha é “orientar mulheres em situação de vulnerabilidade acerca da violência doméstica.”

O Programa é colocado em prática por meio de parcerias com órgãos públicos, privados e voluntariado. Nas ações, são distribuídos materiais com orientações sobre a temática e há a realização de palestras e rodas de conversas nas quais as mulheres recebem orientação jurídica, como sobre a Lei Maria da Penha. Por meio dessa campanha foi desenvolvido o documentário “Lugar de Mulher é onde ela quiser”, que pode ser assistido no canal de YouTube Elos Invisíveis. Dentro da problemática de violência, o vídeo “Na raiz do problema: abuso sexual infantil” está disponível no mesmo canal.

Com relação à Campanha de Combate à Pobreza Menstrual, a Elos Invisíveis participou da formulação e aprovação de dois Projetos de Leis municipais de Curitiba, que objetivam desenvolver diretrizes “para que pessoas que menstruam e apresentam vulnerabilidade social tenham acesso garantido a absorventes ou coletores menstruais, diminuindo os riscos à saúde da população.”

Vítimas de violência doméstica

Segundo dados da Central de Atendimento à Mulher sobre o perfil das vítimas de violência doméstica e de seus agressores, a nível nacional, as vítimas mais frequentes são mulheres pardas, com idade entre 35 e 39 anos, com ensino médio completo e renda mensal de até um salário mínimo. Já o agressor, mais comum é o homem branco de 35 e 39 anos.

Para Viviane Vicentin, os estudos e a experiência nas comunidades mostram que os dados oficiais não refletem a realidade. Para a coordenadora, quando se trata de violência doméstica há o forte problema da subnotificação. “Quando chegamos em uma comunidade, perguntamos nas rodas de conversa: quem aqui conhece alguém que sofreu violência doméstica? Todo mundo levanta a mão. Quem aqui já sofreu? Ninguém levanta a mão. Quantas aqui denunciaram? Menos ainda”, informa.

A idealizadora e coordenadora Viviane Vicentin e ação realizada para a Campanha de Combate à Violência Doméstica Foto: Luis Pedruco

Dentro dessas experiências, percebe-se que os crimes acontecem muito mais do que são denunciados. Dessa forma, o trabalho de conscientização realizado pelo Elos Invisíveis dentro das comunidades é para incentivar que esses crimes sejam denunciados, ou seja, para diminuir a subnotificação.

Viviane informa que a questão da violência doméstica, diferente das outras problemáticas enfrentadas no projeto, não é um problema próprio de classe social, pois atinge desde as classes mais baixas até as mais abastadas.

O que ela vê como diferente entre uma classe e outra é o acesso à Justiça. “Tem pessoas que não têm acesso aos recursos financeiros, não têm acesso à orientação, não têm condições de sair de casa porque dependem financeiramente do marido.” Viviane diz que os números oficiais parecem retratar uma classe social que minimamente tem acesso à internet e a canais de comunicação oficiais.

Uma outra problemática levantada da experiência no projeto é a da revitimização. A mulher vítima de violência doméstica não tem hoje no sistema de Justiça pessoas habilitadas para tratar do problema. Ao chegar a uma delegacia, muitas vezes a mulher é mal atendida e fica com vergonha de falar. “Então quando a gente faz essas rodas de conversas, fazemos palestras de violência doméstica justamente para empoderar essas mulheres e mostrar que elas têm que denunciar”, diz a coordenadora.

Desafios

Sobre as dificuldades e limitações da Elos Invisíveis, destaca-se o fato de que, como o grupo não é uma ONG, funciona apenas com o trabalho voluntário – não há sede nem os recursos necessários, como um veículo. Dessa forma, muitos dos recursos financeiros são tirados do próprio bolso do grupo.

Mesmo com um grupo grande e engajado de voluntariado, o que faz com que não haja problemas com mão de obra, existe muita dificuldade para arrecadar itens de higiene, alimentos e livros. “Basicamente, a nossa dificuldade hoje é doação mesmo”, diz a coordenadora.

Viviane afirma que outra dificuldade é a de “furar a bolha e mostrar para a sociedade de modo geral que esse é um trabalho relevante, que falar de favela não é só falar de violência, é falar que tem coisas boas também”. Para ela é importante levar pessoas que nunca foram para conhecer a realidade das comunidades atendidas pelo projeto e talvez entender e ressignificar a visão anterior que tinham desse lugar.

Uma outra dificuldade é a falta de abertura de algumas instituições para olhar o problema enfrentado. “Além dessa abertura tem a burocracia também que eles impõem para a gente atuar, bem complicado”, diz. O desafio destacado é o de ter mais diversidade no grupo, com a integração de pessoas negras e pessoas com deficiência.

Este texto é parte do projeto Periferias Plurais, que convida jovens de Curitiba e região para falar sobre suas vidas e suas comunidades. O projeto é patrocinado pelo escritório de advocacia Gasam.

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