Dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá. As águas dos rios Paraná e Iguaçu serão palco ao final da tarde desta sexta-feira (2) do 48ª cortejo fluvial em homenagem à orixá que é considerada por umbandistas e candomblecistas a mãe dos orixás.
Tradicionalmente realizado em Foz do Iguaçu desde 1976, o evento reunirá lideranças e filhos de santo de terreiros do Brasil, Paraguai e Argentina. Acompanhados de simpatizantes de religiões de matriz africana da região trinacional, os devotos seguirão a bordo do barco Kattamaram II em um trajeto entre o Rio Paraná e a foz do Rio Iguaçu.
O percurso será marcado por cantigas entoadas em meio à oferendas feitas à Iemanjá lançadas sobre as águas. Antes do cortejo fluvial começar, uma carreata irá percorrer as principais ruas e avenidas do centro da cidade. A concentração está marcada para começar às 16h30, na Praça da Paz.
“Queremos convidar o povo de axé, os amigos, os simpatizantes. Contamos com o apoio e a presença de todos que queiram prestigiar essa homenagem tão bonita à nossa rainha Iemanjá”, convidou a Iarolixá Mãe Amanda Vieira, responsável pela organização do evento. Segundo a cosmovisão Yorubá, proveniente do noroeste da África, onde Iemanjá é essencialmente cultuada, Yemanjá simboliza a energia geradora, a força da natureza, a fecundidade e o amparo materno.
Diante do apagamento imposto às religiões de matriz africana durante o processo de escravidão ocorrido no Brasil colonial, Iemanjá passou a ser sincretizada com várias santas da Igreja Católica, entre elas, Nossa Senhora dos Navegantes, também celebrada em 2 de fevereiro.
“Por conta desse sincretismo, o Dia de Iemanjá aqui na região já chegou a contar com forte apoio das Marinhas do Brasil, Paraguai e Argentina. Era comum o cortejo ter inúmeras embarcações. No início dos anos 90, o Dia de Iemanjá celebrado em Foz chegou a reunir cerca de cinco mil pessoas, com embarcações vindas de Ciudad del Este e Puerto Iguazú”, conta Julio Cesar Perez, umbandista e pesquisador.
Com apoio da Associação Ile Asé Iga Ode, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, as ações deste ano integram a programação de festividades alusivas ao “Dia de Iemanjá” de Foz do Iguaçu. Instituído no Calendário Oficial de Eventos do município em fevereiro passado, a inclusão é considerada uma conquista institucional aos povos de terreiro.
“Temos uma visão muito atenta sobre a importância histórica e a necessidade de preservamos o legado iniciado por nossos ancestrais. A procissão fluvial no Dia de Iemanjá é um marco iniciado por vovó Benedita, a primeira mãe de santo de Foz do Iguaçu, e que passou a ser conduzido pela mãe Amanda. É em respeito a essa importância que o poder público se apresenta para garantir nosso direito de culto e manifestações religiosas”, completa Julio Cesar.
Racismo religioso
Alvo recorrente de ataques com motivações racistas, a prática de religiões de matriz africana em Foz do Iguaçu enfrenta dificuldades diante da falta de políticas públicas que garantam a liberdade de expressão da fé, garantidas pela Constituição Federal de 1988.
Membro da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), subseção de Foz do Iguaçu, o advogado Igor Cardoso explica que a subnotificação de ocorrências de racismo dificulta o combate à intolerância e demais violências. “No país como um todo, e isso se reflete em Foz do Iguaçu, há um quadro de subnotificação generalizado com relação aos crimes direcionados aos povos de terreiro. Seja pela ausência de notificação por parte da autoridade policial, seja por uma inadequação dessa notificação. Conseguir classificar o que de fato aconteceu na ocorrência e sua motivação real é muito difícil. Sabemos que na maioria das vezes se trata da não aceitação do exercício da fé”, explica o advogado.
Secretária municipal de Direitos Humanos em Foz do Iguaçu, Rosa Maria Jerônimo endossa a dificuldade e informa que a Prefeitura tem trabalhado junto ao Ministério da Igualdade Racial para reverter o quadro. “Não temos números sobre ocorrências, até mesmo porque em sua grande maioria, por uma questão de legislação, acabam sendo registradas como perturbação do sossego, entre outras, jamais como racismo. E provar que trata sobre racismo não é simples. Por conta disso estamos articulados junto ao Ministério da Igualdade Racial, com apoio também das universidade e povos de terreiro, para construirmos juntos alternativas que garantam a liberdade de culto dessas pessoas”, finaliza.
Lamentavelmente o texto não informa (pelo menos não vi) horários os simpatizantes poderiam ir. “final da tarde” no verão, não definine.