Nesta segunda-feira (05) o bairro Parolin, em Curitiba, foi palco de mais cenas de violência. Moradores e familiares de Dallyson Willian Mariano, 17 anos, organizaram um protesto em memória do jovem, que foi morto durante uma abordagem da Polícia Militar (PM) no último dia 2, sexta-feira.
Segundo a Polícia Militar o rapaz supostamente sacou uma arma e disparou contra as equipes. Ainda conforme a PM ele teria envolvimento com o trágico de drogas. No entanto, a família contesta esta versão e alega que ele não estava armado.
O rapaz foi atingido na região do tórax e morreu antes da chegada do socorro, na rua Lamenha Lins. Um inquérito Policial Militar foi aberto para investigar a conduta da equipe e o caso será encaminhado para o Ministério Público (MP).
Mais violência
Inconformados, amigos e familiares organizaram um protesto para cobrar explicações sobre a ação da PM. Os dois sentidos da Linha Verde foram fechados e faixas questionavam a violência policial.
Mas durante o ato em memória do adolescente, um novo cenário de violência aconteceu. Moradores falam em disparos e imagens mostram utilização de rojões por algumas pessoas. Apesar do clima de hostilidade, em nota, a Polícia Militar afirmou que “os locais que tiveram manifestantes com atitudes violentas foram controlados e não houve nenhum encaminhamento à delegacia e nenhuma pessoa ferida foi reportada”.
Sobre a ação que vitimou o adolescente, a PM informou que a operação pretendida combater o tráfico de drogas. Depois da morte do adolescente os ânimos se exaltaram e um ônibus chegou a ser incendiado pela população ainda na sexta-feira (02).
Dados
De acordo com Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP, em 2021 ocorreram 417 mortes em “confrontos” envolvendo agentes de segurança pública. O número indica um aumento de 9,74% em relação ao ano anterior (2020), quando ocorreram 380 mortes
A maior parte das mortes teve envolvimento de policiais militares: 408 (208 no primeiro semestre e 200 no segundo), enquanto os casos envolvendo policiais civis foram dois (um em Curitiba e outro em Foz do Iguaçu), e os com guardas municipais somaram sete (cinco em Curitiba, um em São José dos Pinhais e um em Araucária).
Considerando-se apenas as mortes em confrontos com policiais militares, os dados apontam que 62,16% das mortes foram de pessoas de até 29 anos. Entre os mortos nesses confrontos, 47,7% eram pardos, 5,6% eram negros e 46,7% eram brancos.
Cobrança
Na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) o deputado Goura (PDT), membro da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC), protocolou um documento pedindo informações ao secretário de segurança do estado, Wagner Mesquita, sobre confrontos policiais no Paraná. O documento ainda não foi respondido.
Além disso, o Núcleo da Cidadania e Direitos Humanos (NUCIDH) e Núcleo da Política Criminal e da Execução Penal (NUPEP) da Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR) foi até o Parolin para ouvir os moradores sobre a ação da PM.
O Nupep, assim como o mandato do deputado Goura, entendem que casos de morte causada por intervenção de policiais militares devem ser conduzidas pela Polícia Civil ou diretamente pelo Ministério Público, porém a situação está sendo apurada pela própria PM.
Medo
Após o novo confronto ocorrido nesta segunda-feira (06) familiares do adolescente morto deixaram o bairro porque estão com medo. A mãe do rapaz chegou a ser encaminhada para atendimento médico e permanece em observação. A família recebe assistência tanto da Defensoria quanto da assessoria da CDHC da Alep.
Colaborou Letícia Fortes.
Sem querer desviar o foco da reportagem urgente da Aline, mas pesquei ali uma formulação que dá título pra série de reportagens: “trágico de drogas”. Agradecido pelo trabalho de trazer essas e outras notícias.