Pessoas com deficiência representam menos de 1% dos alunos ativos na UFPR

Uma das estudantes foi Manu Aguiar, que retirou o diploma em setembro: "nunca é fácil ser a primeira"

Emanuelle Aguiar de Araújo, 29 anos, é a primeira estudante com paralisia cerebral a se graduar na UFPR Litoral e a segunda da instituição em todo o Paraná. O diploma foi retirado em setembro e Manu, como é conhecida, fez um desabafo nas redes sociais:

“A menina que segundo o médico, não iria andar, nem falar, que seria um ‘alface’ retirou hoje seu diploma de educadora geógrafa. Não foi fácil, nunca é fácil ser a primeira. A primeira turma, a primeira estudante com Paralisia Cerebral a se formar na instituição”.

A graduação da Manu é um acontecimento histórico para a instituição. De acordo com a Universidade Federal do Paraná, apenas 3 universitários com paralisia cerebral estudam atualmente na universidade que, em 2022, conta com 26.470 registros ativos.

Considerando o número de pessoas com paralisia cerebral, a adesão dos alunos ainda é extremamente baixa. De acordo com a Associação Brasileira de Paralisia Cerebral, a incidência de casos em países em desenvolvimento como o Brasil é de 7 para cada 1.000 nascidos vivos.

Mas a baixa adesão acadêmica é uma realidade vivida pelas pessoas com deficiência (PcD) de uma maneira geral. Na UFPR, 151 estudantes PcD estão com registros ativos. Eles representam menos de um 1% dos alunos da instituição. Segundo dados de 2019 do IBGE, o Brasil tem hoje mais de 17 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência.

Esta realidade causa revolta em Manu, que também é presidente do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência, vinculado à Secretaria de Justiça, Família e Trabalho do Estado do Paraná.

“Isso é algo muito sério e um dos fatores que, acredito eu, contribuem para isso é a falta de investimento na política de educação inclusiva, que vem acontecendo nos últimos anos. Outro fator é que a maioria das pessoas com deficiência ainda não sabe da existência de cotas para acesso ao ensino superior.”

Manu, por exemplo, foi uma aluna cotista. E isto só foi possível graças ao incentivo da própria mãe, dona Adriana Aguiar, que a inscreveu sem ela saber. “Ela sempre falou que queria cursar ou geografia ou história, mas sempre foi algo distante, pois não tinha aqui em Matinhos. Quando divulgaram a turma eu já fiz a inscrição dela”, explica Adriana. Na época, Manu estava cursando gestão de RH e trabalhava no setor administrativo de um hotel no litoral do Paraná.

Manu passou em todas as etapas e ingressou na primeira turma de geografia da UFPR Litoral. Mas já no segundo dia de aula, encontrou a primeira barreira como PcD. O elevador quebrado a impossibilitava de chegar até a sala, que ficava no terceiro andar. As aulas precisaram ser transferidas para o auditório no térreo.

O problema só foi resolvido mais de 60 dias depois. Foi a partir desta barreira que surgiu a ideia de criar a Comissão de Inclusão e Acessibilidade na instituição e um dos pedidos foi por um professor de atendimento educacional especializado.

A solicitação foi atendida em 2022 com a contratação, por concurso, de uma professora da área de inclusão. Para a diretora da UFPR setor Litoral, Elisiani Vitória Tiepolo, “o papel da universidade é ser inclusiva. Mas para que de fato seja, precisamos, como comunidade acadêmica, lutar para que as condições estruturais e pedagógicas sejam cada vez mais adequadas”.

O apoio dos professores, entre eles o da professora Francéli Brizolla, foi fundamental para a Manu. Francéli é doutora em educação e em educação Especial Inclusiva e acompanhou de perto o início da vida acadêmica da aluna, chegando a digitar trabalhos com ela, que possui dificuldades motoras e espasmos. “Este movimento (de contratação de uma professora na área) se deu pela presença da Manu e de outros estudantes. Pois a inclusão tem um pouco disso, a partir da presença das pessoas nós conseguimos avançar em algumas pautas e conquistas. Por isto, é tão importante tê-los conosco”, explica a professora.

Manu enfatiza também o aporte dos colegas de curso: “eu tive muita sorte em entrar naquela turma porque o pessoal sempre foi muito parceiro”, destaca. Para ela, o caminho acadêmico está apenas começando. “Eu quero me especializar na área de educação inclusiva, com mestrado e doutorado, para poder contribuir a educação de estudantes com deficiência”, declara.

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